USO E APLICAÇÃO

Presença da cigarrinha-do-arroz em SP deixa produtores atentos


O aparecimento da cigarrinha-do-arroz (Tagosodes orizicolus) no Vale do Paraíba tem deixado os rizicultores preocupados. Também chamada de sogata ou delfacídeo-do-arroz, a cigarrinha é conhecida por causar danos às plantações de países como Venezuela, Colômbia e Cuba. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio da pesquisa e extensão rural, tem garantido apoio aos produtores.

O pesquisador da Secretaria que atua na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Hélio Minoru Takada, diz que produtores de arroz do Vale do Paraíba identificaram, no começo do ano, a presença de um inseto com características similares às da cigarrinha.

Segundo conta, o agrônomo Vinicius Sampaio do Nascimento, da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) regional de Guaratinguetá, também da Secretaria, fez a prospecção do problema e levantou a suspeita de se tratar da sogata, levando amostras para análise no Polo Regional Vale do Paraíba. “Em vistoria às áreas de cultivo de arroz nas cidades de Pindamonhangaba, Taubaté e Guaratinguetá, as plantas apresentavam populações muito altas deste inseto e sintomas da praga, como o amarelecimento e fumagina na folha”, expõe Minoru.

Assim, identificou-se o inseto até o nível de família e, estando compatível com a da cigarrinha, as amostras foram enviadas para confirmação da espécie na Epagri-SC, com o pesquisador Eduardo Hickel. No território catarinense, um surto da praga trouxe prejuízos aos produtores na safra anterior e fez acender um alerta para os estados próximos. “Havia o indicativo de se tratar do mesmo inseto. As características eram muito típicas dos relatos vindos de Santa Catarina”, lembra Minoru.

Conforme informa o pesquisador da APTA, as cigarrinhas medem de 3 a 4 mm e, pela literatura, completam o ciclo de vida em torno de 20 dias. A praga afeta a planta de duas maneiras: “ela não apenas suga a planta (nas folhas e talos), como libera uma toxina que amarela e prejudica seu desenvolvimento, refletindo na formação dos grãos”, observa. Apesar de não haver estudos definitivos, Minoru estima que as perdas de produtividade possam chegar a até 70%. A distribuição dos insetos, pontua, ocorre em reboleiras, lembrando sintomas da bicheira do arroz (Oryzophagus oryzae); os danos, quando percebidos, são severos na plantação.

Buscando medidas de controle 

Tendo obtido a confirmação de que a praga é, efetivamente, a cigarrinha-do-arroz, a equipe da APTA e da CDRS tratou de dar início a pesquisas visando o controle das infestações. Minoru ressalva que em SC não havia ainda trabalhos que mostrassem como controlar a praga, apesar dos problemas já causados por lá. “Foi sugerido o tratamento químico e montamos experimentos de campo para testar o potencial de inseticidas”, coloca, afirmando que os resultados estão sendo avaliados. “Está sendo pesquisado também o uso de fungos entomopatogênicos para controle do inseto, junto ao Instituto Biológico (IB-APTA)”, acrescenta.

Práticas de manejo também parecem estar relacionadas com a maior ou menor incidência da praga. O especialista ressalta a necessidade de promover a incorporação das soqueiras ao solo na entressafra, para evitar que estas rebrotem e abriguem populações remanescentes do inseto. Outra questão importante é a identificação de plantas que serviriam como hospedeiros para a praga nos períodos de entressafra do arroz. “Inclusive, estuda-se a aplicação dos fungos entomopatogênicos também nestas plantas”, destaca Minoru.

O pesquisador da APTA aponta que há preocupação com a safra de 2020/21 de arroz na região, por isso também serão avaliadas quais as variedades mais e menos susceptíveis. “Teremos que dispor ao produtor um protocolo de monitoramento e a análise de qual será a melhor forma de controle”, relata Minoru. “O manejo eficiente precisará considerar diversos fatores como: gênero do inseto, as diferentes fases de desenvolvimento (ovo, população de alado e áptero), condição climática, histórico da cultura e da praga”, detalha.

De acordo com o especialista, as cigarrinhas não costumavam ser um problema na cultura, pois há um complexo de inimigos naturais, especialmente aranhas, que regulam a população da praga na lavoura. Temperaturas mais altas, aliadas a uma possível diminuição desses predadores, e a utilização de alguns compostos químicos podem estar relacionadas à expansão do inseto no país. Hipóteses, estas, que precisam ser investigadas, assegura Minoru.

Fonte: Notícias Agrícolas, 01/10/2020

Fonte da imagem: Imagem de Tongpradit Charoenphon por Pixabay

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