MERCADO
Adama planeja expandir no mercado brasileiro
No mundo do agronegócio, os defensivos funcionam como remédios. A cura depende do tamanho da dose. Para um país tropical como o Brasil, sem um inverno capaz de matar ou conter insetos e ervas daninhas que prejudicam a cultura, o uso desses medicamentos é crucial para evitar desperdícios e prejuízos. Ciente deste cenário e do potencial do mercado brasileiro de defensivos agrícolas – responsável por 19,2% do mercado global em 2020, que tem faturamento de US$ 12 bilhões –, a israelense Adama criou uma meta ousada: dobrar as operações no País para alcançar receita de US$ 1,4 bilhão até 2025. “Se você quer ser uma companhia global, precisa participar desse mercado”, afirmou Romeu Stanguerlin, CEO da Adama Brasil. A estratégia para isso é focar no lançamento de produtos exclusivos.
Nos próximos quatro anos, estão previstos dez lançamentos, quatro deles neste ano. Somente com os lançamentos, a empresa espera obter receita de US$ 400 milhões. Outras fontes previstas são o aprimoramento de efetividade dos produtos (US$ 150 milhões) e outros dois grandes projetos, um deles relacionado a vendas industriais e uma possível segunda marca (que renderiam outros US$ 150 milhões).
Para expandir os negócios no Brasil, a empresa vai investir R$ 200 milhões, de uma nova planta, em Taquari (RS), com previsão de inauguração em novembro de 2022. “O laboratório no Brasil é importante e nos traz competitividade”, disse o executivo. Será a quinta unidade fabril na cidade gaúcha. Outro plano é investir em uma plataforma de marketplace, que será lançada em 2021.
Há cinco anos, a empresa decidiu se concentrar no desenvolvimento e na produção de formulações exclusivas, ou seja, produzir misturas de ativos já existentes visando a criação de um produto mais potente e que atenda necessidades específicas dos produtores. Com a decisão, as fórmulas próprias passaram a dominar as operações e hoje representam 50% do faturamento global da companhia que, no ano passado, foi de US$ 4 bilhões. A estratégia também impulsionou os resultados da Adama na participação brasileira. De 2015 a 2020, o faturamento no País passou de US$ 450 milhões para US$ 726 milhões, alta de 61%. “No agro, ou você antecipa tendências ou não consegue se diferenciar no mercado”, disse Stanguerlin.
Essa estratégia da Adama segue na esteira do crescimento de liberações de defensivos no Brasil. No ano passado, o governo federal concedeu 493 autorizações. Mas esse número poderia e deveria ser ainda maior. É o que afirma Tulio Teixeira de Oliveira, diretor executivo da Associação Brasileira de Defensivos Pós-Patente (Aenda). “Na fila existem quase 3 mil processos aguardando liberação”. Para o engenheiro agrônomo, a liberação desses registros garantiria a queda nos preços.
Na frente tecnológica, a companhia desenvolve o projeto Adama Darwin, que possibilita que o agricultor reúna todos os dados referentes a plantações, estoques, aplicação de defensivos. Essa ação, para Stanguerlin, é outro importante pilar estratégico na expansão das operações brasileiras. “O digital tem que gerar valor ao produto que nós vendemos”, disse.
Recém-nomeado vice-presidente sênior global da companhia, o executivo prevê ainda um ano complicado para o agronegócio, principalmente em custos de logística e de matéria-prima. “Trabalhar no Brasil não é para amador, porque existe uma série de desafios” afirmou, citando a instabilidade política, o clima e a volatilidade cambial. “É preciso ter, ao menos, dois planos de contingência.”
Fonte: Istoé Dinheiro, 29/04/2021