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Uma perspectiva para a safra de inverno 2025


Ricardo Balardin, engenheiro agrônomo, PhD e CRO da DigiFarmz.

Os desafios para o cultivo de trigo são enormes, seja devido ao clima, doenças e pragas como pela necessidade de investimentos a cada ano mais elevados. A área mais expressiva de trigo está no Sul do Brasil, onde dois cenários foram marcantes. No Rio Grande do Sul, a produtividade média foi abaixo do normalmente obtido, enquanto em Santa Catarina e Paraná, as condições climáticas foram mais favoráveis e as médias de soja foram mais elevadas. Mas qual a relação entre a produtividade da soja e a safra de inverno? A capacidade de investimento. Notoriamente, a lavoura de trigo demanda quantidade razoável de insumos, sob pena de comprometer tanto o volume produzido com a qualidade do grão.

No Rio Grande do Sul, o investimento deverá ser reduzido, enquanto nos demais estados da Região Sul, provavelmente o produtor poderá fazer os investimentos necessários. É possível que a área plantada seja afetada, fazendo com que o produtor busque por outras opções para a safra de inverno, seja outras culturas de grãos que demandem menor investimento ou mesmo simplesmente implantar culturas de cobertura, já pensando na próxima safra de soja.

Sendo vencida a barreira do investimento, o produtor terá que enfrentar os problemas de clima. Alguns prognósticos apontam para um período de normalidade, havendo uma melhor distribuição de chuvas. Ocorre que a cultura do trigo é bastante vulnerável às doenças, favorecidas por condições úmidas e com chuvas regulares. A necessidade de controle químico é evidente para a cultura do trigo, seja como requisito para produtividades condizentes como para a qualidade industrial do grão. Ambos os cenários estão diretamente relacionados com o resultado financeiro da lavoura. E, como sempre na cultura do trigo, embora a produtividade seja construída desde a emergência, o período do florescimento e do início do enchimento de grão, são particularmente importantes para o quesito da qualidade do grão produzido. Nesta fase, excesso de chuvas, nebulosidade e neblina constantes, geadas, ou mesmo temperaturas elevadas, serão cruciais. Infelizmente, caberá ao produtor realizar o manejo necessário, sem ter muito claro o que vai ocorrer no mês seguinte e, se a cada operação executada, corresponderá o resultado desejado.

Vencidas estas duas barreiras, o produtor precisará enfrentar os problemas de preço e mercado. Em tempos de tarifaço norte americano, o mercado fica relativamente instável, mesmo que o trigo tenha uma relevância mais regional. Ocorre que o mercado de insumos é totalmente dolarizado, o que acaba afetando os preços finais. De qualquer modo, assumindo uma produção condizente e com qualidade, é provável que os preços tenham dificuldade de acompanhar o preço dos insumos. Em outras palavras, é possível que a rentabilidade da lavoura de trigo seja baixa mesmo sob níveis elevados de produtividade.

É fundamental reconhecer que, em 2025, a decisão terá de ser mais criteriosa do que nunca. Ter parte da área com trigo e parte com cobertura pode ser uma estratégia interessante, diluindo riscos e equilibrando os objetivos de curto e longo prazo da propriedade. O Brasil tem avançado no domínio técnico sobre o trigo, mas ainda carece de um ambiente de negócios mais estável para a cultura. Enquanto isso, cabe ao produtor avaliar cada safra com base em dados, cenários regionais e possibilidades reais de retorno. Afinal, mais do que cultivar, é preciso planejar — com inteligência agronômica e pé no chão.

 

Ricardo Balardin

CSO & Founder da DigiFarmz

Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia/Fitopatologia e Ph.D. pela Michigan State University

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