
Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Vinicius Cambaúva
Beatriz Papa Casagrande
Rafael Barros Rosalino
Reflexões dos fatos e números do agro em abril/maio e o que acompanhar em junho
Na economia mundial e brasileira, o Banco Central divulgou novas projeções econômicas para o país em mais um relatório do Boletim Focus publicado em 26/05. Para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a expectativa é de 5,5% em 2025 (queda mensal) e 4,5% em 2026 (manutenção). Em relação ao crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), a estimativa é de que chegue a 2,14% no final (alta) deste ano e 1,70% no próximo (estável). No câmbio, a projeção caiu para R$ 5,80 em 2025 e para R$ 5,90 em 2026. Para finalizar, a taxa Selic foi para 14,75% neste ano (queda) e 12,50% no ano subsequente (manutenção).
No agro mundial e brasileiro, o Índice de Preços dos Alimentos calculado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) atingiu média de 128,3 pontos em abril, representando um aumento de 1% em relação a março. A elevação nos preços de cereais, laticínios e carnes superou as quedas registradas nos óleos vegetais e no açúcar. A valorização dos cereais (+1,2%) foi impulsionada pelo trigo, sustentado pela limitação na oferta da Rússia. O milho também teve alta, com estoques internos mais apertados nos Estados Unidos e ajustes nas medidas tarifárias norte-americanas que incluíram isenções ao México e a outros parceiros. O aumento das carnes (+3,2%) foi liderado pela suína, graças a retomada do status sanitário da Alemanha como livre de febre aftosa e consequente recuperação das exportações da União Europeia. Nos bovinos, Austrália e Brasil foram destaques, refletindo oferta global limitada e demanda estável. A carne de aves teve alta moderada, com destaque para o Brasil, onde a demanda externa aquecida e a desaceleração no processamento ligada às festividades elevaram os preços, resta ver mês que vem com o evento de gripe aviária. Nos laticínios (+2,4%), a manteiga atingiu recorde histórico, puxada por estoques reduzidos e forte demanda por gordura do leite, principalmente na Europa.
Por outro lado, os óleos vegetais recuaram (-2,3%), puxados pela forte queda do óleo de palma, relacionado à recuperação da oferta nos países produtores do Sudeste Asiático. Já os óleos de soja e canola foram impulsionados, respectivamente, por demanda global persistente e aperto na oferta com o fim do ciclo produtivo 2024/25. Por fim, o açúcar caiu (-3,5%) por influência de preocupações com a economia global e o impacto sobre a demanda dos setores de bebidas e alimentos processados.
No Brasil, o 8º relatório da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) elevou a previsão para a colheita de grãos de 2024/25 de 330,4 milhões de t em abril para 332,9 milhões de t em maio, uma produção que deve ser 11,9% superior à do ciclo anterior. O aumento na área foi discreto na projeção de maio: de 81,6 para 81,7 milhões de ha, permanecendo 2,2% superior à safra anterior, ou 1,8 milhão de ha adicionais.
No milho, no primeiro relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), a produção de milho foi estimada em 1.265 mi de t em maio. Se concretizada, a oferta será a maior já registrada, superando o recorde de 2023/24 (quando foram produzidas 1.230 mi de t) e superando em 3,6% a safra de 2024/25 (estimada em 1.221 mi de t); ou 43,70 mi de t a mais. O USDA elevou os números para todos os principais produtores: China, 295 mi de t (+0,03%); Estados Unidos, 401,8 mi de t (+6,4%); Brasil, 131 mi de t (+0,8%); União Europeia, 60 mi de t (+1,1%); e Argentina com 53 mi de t (+6,0%). Em 2025/26, espera-se que os estoques finais de milho sejam de 277,8 milhões de t, uma redução de 3,2% em relação ao ciclo anterior, ou seja, 9,4 milhões de t a menos.
Até o dia 18 de maio, 78% das áreas de milho já haviam sido plantadas nos Estados Unidos, em comparação com 67% no mesmo período do ano passado; e 73% na média dos últimos cinco anos, ritmo bem acelerado.
No Brasil, a Conab elevou a previsão para a produção de milho em 2024/25, com produtividades acima do ciclo anterior e das estimadas de início de safra, para 126,9 milhões de t. Se confirmada, a oferta do cereal será 9,9% superior à do ciclo passado. A produção entre as safras de milho está distribuída da seguinte forma: 24,7 mi de t na 1ª safra (+7,5%); 99,8 mi de t na 2ª safra (+10,8%); e 2,4 mi de t na 3ª safra (- 3,8%). A produtividade do milho está estimada em 5.933 kg/ha, alta de 8,1%.
Até o dia 17 de maio, a colheita do milho 1ª safra atingiu 82,3% de progresso, versus 78,4% no mesmo período de 2024; e 79,2% na média dos últimos 5 anos. A redução das precipitações tem favorecido o bom desempenho na colheita (operações) da safra atual. Os estados do Paraná e São Paulo já finalizaram a colheita, enquanto Santa Catarina (99,6%), Bahia, Minas Gerais (ambos com 96,0%) e Rio Grande do Sul (95,0%) encaminham-se para o fechamento. No milho 2ª safra, o plantio já está finalizado e as áreas apresentam o seguinte estágio fenológico: 4,1% estão em desenvolvimento vegetativo; 21,6% em floração; 67,3% em enchimento de grãos; e 7,0% em maturação.
Em Chicago, os contratos de milho para vencimento em jul/25 estavam cotados em US$ 4,590/bushel em 26/05, 5,0% menor do que o preço registrado há um mês (US$ 4,834/bushel).
Na soja, a primeira previsão do USDA para a safra 2025/26 de soja é de 426,8 mi de t. Se confirmada, a produção da oleaginosa deve ser 1,4% superior à safra atual, entregando 5,3 mi de t adicionais. Dos três principais produtores, apenas o Brasil deve produzir mais do que na safra anterior: com 175 mi de t (+3,5%). Os Estados Unidos devem produzir 118,1 mi de t (-0,6%); e Argentina 48,5 mi de t (-1,0%). Os estoques finais devem contabilizar 124,3 mi de t, 0,9% maiores ou 1,1 mi de t adicional.
Nos Estados Unidos, até o dia 18 de maio, 66% das lavouras de soja haviam sido semeadas, 16 pontos percentuais acima dos 50% registrados no mesmo dia de 2024; e 13 pontos percentuais acima dos 53%, que representa a média dos últimos 5 ciclos.
A Conab elevou as estatísticas da produção de soja no Brasil em 2024/25 de 167,9 (abril) para 168,3 mi de t (maio). Esses resultados indicam que a produção de soja será 14% maior do que a safra anterior, totalizando 20,6 milhões de t adicionais. A produtividade média nacional deve atingir 3.536 kg/ha, crescimento de 10,5%. Em diversos estados, as produtividades alcançadas bateram recordes históricos da Conab, com o clima e o bom manejo contribuindo.
Até o dia 17 de maio, 99% das áreas nacionais de soja já haviam sido colhidas, um pouco acima dos 97% registrados um ano antes; e 98,5% na média dos últimos cinco anos. Estados que já concluíram a colheita: TO, MT, MS, GO, MG, SP e PR; a finalizar: PI e BA (ambos com 99,0%), RS (97,0%), SC (96,9%) e MA (85,0%).
No mercado futuro (Chicago), o contrato jul/25 da soja foi cotado a US$ 10,60/bushel no dia 26/05, apenas 0,4% superior ao preço dos últimos 30 dias (era de US$ 10,56/bushel).
No algodão, a primeira estimativa do USDA para a safra de 2025/26 trouxe uma redução na produção global da pluma: 25,65 mi de t versus 26,36 da safra 2024/25. A China, maior produtora, deve ofertar 6,3 mi de t (-9,4%), seguida pela Índia com 5,3 mi de t (-2,0%), Brasil com 4,0 mi de t (+6,9%) e Estados Unidos com 3,2 mi de t (+0,6%). Os estoques finais de pluma devem atingir 17,1 milhões de t, o mesmo que em 2023/24.
Até 18 de maio, o plantio de algodão nos Estados Unidos tinha avançado 40%, 2 pontos percentuais a menos do que no mesmo período de 2024; e 3 pontos percentuais a menos do que a média dos últimos 5 ciclos.
A Conab manteve a estimativa da produção no Brasil em 3,9 mi de t da pluma no mês de maio, com boas condições das lavouras de forma geral. Assim, a produção neste ciclo será 5,5% superior ao passado. A área permaneceu em 2,08 mi de ha (+7,2%), enquanto a produtividade média nacional está em 2.638 kg/ha de algodão em caroço (-1,6%).
Com o plantio concluído, as lavouras têm mostrado um bom progresso, beneficiadas pelo clima favorável, com 70% das áreas em fase de formação de maçãs, 29% em maturação, 1% em floração e apenas 0,2% em desenvolvimento vegetativo.
Em Nova Iorque, o contrato futuro com vencimento em jul/25 estava cotado em 66,11 centavos de dólar por libra-peso em 26/05, queda de 3,9% no comparativo mensal (em 23/04, estava em 68,79 cents/lbp).
Nas demais culturas, a Conab estimou nova baixa na produção da categoria de culturas de inverno: de 10,40 mi de t (abril) para 10,20 mi de t (maio), em vista da redução na área de trigo em alguns estados que já iniciaram a safra (PR, MG, SP, GO e BA); e de outros estados (RS e SC) que ainda seguem em planejamento e podem reduzir suas áreas. A produção por cultura deve ser dividida da seguinte forma: trigo com 8,25 mi de t (+4,6%); 1,11 mi de t de aveia (+6,6%); 510,2 mil t de cevada (+16,4%); e 295,1 mil t de canola (+50,9%). A área destinada às culturas de inverno deve atingir 3,53 mi de ha, uma queda de 7,9% em relação ao ciclo 2023/24.
Em abril, as exportações brasileiras de produtos do agronegócio atingiram um montante financeiro de US$ 15,03 bilhões, o que representa um aumento de 0,4% se comparado ao mesmo mês de 2024, refletindo a combinação entre preços internacionais mais elevados (+3,9%) e ligeira queda no volume embarcado (-3,4%). A valorização foi puxada por produtos como café e celulose, uma vez que o principal item de exportação – a soja em grãos – sentiu pressão com a queda de 9,7% no preço médio da t (totalizando US$ 5,9 bilhões), mesmo embarcando um volume de 15,3 milhões de t. Enquanto isso, o café verde atingiu US$ 1,2 bilhão em faturamento, o maior valor já registrado para o mês, devido valorização do grão no mercado externo. Os dados são da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI/Mapa).
Os principais produtos exportados em abril foram: soja em grãos (US$ 5,9 bilhões | -6,1%); café verde (US$ 1,2 bilhão | +36,3%); carne bovina in natura (US$ 1,2 bilhões | +29,1%); farelo de soja (US$ 788,0 milhões | -10,6%) e carne de frango in natura (US$ 777,0 milhões | -6,7%). Os 6 setores do topo do ranking de exportação entre janeiro e abril de 2025 foram: complexo soja (US$ 17,7 bilhões | participação de 33,6%); carnes (US$ 9,2 bilhões | 17,5%); produtos florestais (US$ 5,7 bilhões | 10,8%); café (US$ 5,4 bilhões | 10,3%); complexo sucroalcooleiro (US$ 3,8 bilhões | 7,1%) e fibras e produtos têxteis (US$ 2,1 bilhões | 4,0%). Juntos, representaram 83,3% das exportações do agro brasileiro. Já as importações foram de US$ 1,69 bilhão, queda de 2,4% em relação ao mesmo período de 2024.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) atualizou o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) em abril para R$ 1,439 trilhão, 11,4% maior do que o registrado há um ano. Desse montante, as lavouras responderam por R$ 956,1 bilhões (+11,3%), enquanto a pecuária foi responsável por R$ 483,57 (+11,5%). Os destaques de maior crescimento no primeiro segmento foram o café (+59,2%); mamona (+36,7%); milho (+27,0%); amendoim (+22,8%) e cacau (+21,4%). No entanto, os produtos que mais contribuíram para o vamor foram, em ordem: soja (R$ 324,6 | 22,5% de participação); milho (R$ 162,0 | 11,3%); café (R$ 127,9 | 8,9%) e cana-de-açúcar (R$ 124,3 | 8,6%). Na pecuária, todos os produtos registraram crescimento, mas os destaques foram para bovinos (+19,5%) e ovos (+16,0%). Enquanto isso, os que mais participaram do resultado foram os bovinos (R$ 205,3 | 14,3%) e frango (R$ 115,9 | 8,1%).
No dia 15/05 foi confirmado o primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil, em Montenegro, no Rio Grande do Sul. Desde então, ações de contenção e erradicação previstas no plano nacional de contingência foram iniciadas. Enquanto isso, diversos países suspenderam importações de carne de frango do país, e outros, apenas da região foco. Demais casos que estavam sob investigação testaram negativo e, com ausência de novos focos, o Brasil aguarda a reabertura para embarques, o que pode ocorrer após 28 dias da completa desinfecção da área afetada. O Mapa ressalta que a doença não é transmitida pelo consumo de carne de frango ou ovos, ou seja, os produtos devidamente inspecionados seguem seguros para a alimentação, sem necessidade de restrições. O risco de infecção em humanos é baixo e, quando ocorre, está geralmente ligado ao contato direto com aves contaminadas, principalmente em situações de manejo.
O Fundecitrus, Fundo de Defesa da Citricultura, divulgou a 1ª estimativa para a safra 2025/26 de laranja do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro. A perspectiva projetou a temporada em 314,6 milhões de caixas (40,8 kg), o que representa um crescimento de 36,3% em relação à safra anterior, estimada em 230, 9 milhões de caixas. A projeção retorna à produção dentro da faixa média dos últimos 10 anos, ainda com um ligeiro aumento de 4,8%. A expectativa de uma safra mais abundante se deve principalmente ao aumento do número de frutos por árvore, resultante das condições climáticas favoráveis à segunda florada e da melhoria no manejo dos pomares, além do maior do número de árvores em produção no parque citrícola pela entrada de 12,7 milhões de árvores de plantios recentes em produção.
Concluindo nossa seção de análise do agro, apresentamos os principais preços de produtos do setor na ocasião do fechamento da nossa coluna. No milho, considerando dados de cooperativa do estado de São Paulo, o preço físico era de R$ 62,00/sc; já o contrato para mar/2026 (B3) estava em R$ 72,97. Na soja, o preço Spot estava em R$ 128,00/sc e a entrega para mar/26 em R$ 130,00/sc. O algodão (Base Esalq) era cotado a R$ 146,10/@. O trigo, estava em R$ 1.500,00/t (FOB). Demais preços, considerando dados do Cepea, seguem na sequência: café arábica em R$ 2.418,36/sc, queda de 7,6%; laranja para indústria em R$ 45,47/cx (40,8kg) a prazo, queda mensal de 2,7%; e o boi gordo em R$ 301,00/@, redução de 5,6% no mês.
Os cinco fatos do agro para acompanhar em junho são:
- Monitorar os impactos do clima. O início da safra 2025/26 no Centro-Sul foi lento por conta das chuvas em algumas regiões, mas o ritmo de colheita deve ganhar tração, bem como a provável quedra na produtividade e produção.
- Observar as estratégias das usinas quanto ao mix de produção, tendo em vista as mínimas do açúcar bruto (abaixo de 17 cents/lbp), e a competitividade do etanol nas bombas. Há sinalização de que podem reavaliar o mix, com possível aumento para o biocombustível. Observar os preços do petróleo.
- Recuperação da produção de açúcar da Índia e Tailândia, onde as condições climáticas ainda são incertas. Apesar de um superávit global estimado entre 0,4 e 3,7 milhões de t para 2025/26, as entregas brasileiras acima do esperado entre março e maio – e menor aquisição chinesa – tem pressionado preços.
- Ganho de relevância para o etanol de milho. É importante acompanhar investimentos em novas usinas, volume de milho disponível e eventuais discussões regulatórias. Além disso, o avanço de culturas alternativas como o sorgo deve entrar no radar, pois pode impactar a estrutura produtiva futura.
- Acompanhar as negociações e acordos no mercado internacional, com atenção aos movimentos dos Estados Unidos e China (grandes parceiros comerciais do Brasil). A recente redução tarifária entre Estados Unidos e China não representa um cenário internacional mais desordenado e imprevisível.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdade de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). Sócio da Markestrat Group. É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto – SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.
Beatriz Papa Casagrande é associada na Markestrat Group, engenheira agrônoma pela ESALQ/USP e mestra em Administração na FEA-RP/USP. É especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.
Rafael Barros Rosalino é consultor na Markestrat Group, médico veterinário pela FCAV/UNESP. É especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.