COLUNISTAS

Safra de Grãos Caminha para Recorde Histórico de 340 Mi de T

BOLETIM AGRO30


Prof. Dr. Marcos Fava Neves

Vinicius Cambaúva

Beatriz Papa Casagrande

Rafael Barros Rosalino

Reflexões dos fatos e números do agro em junho/julho e o que acompanhar em agosto

Na economia mundial e brasileira, o Boletim Focus divulgado em 21/07 pelo Banco Central estabeleceu novas projeções dos principais indicadores da economia brasileira. Para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a estimativa é de 5,10% em 2025 e 4,45% em 2026 (ambos em queda mensal). Já para o PIB (Produto Interno Bruto), a expectativa é de 2,23% ao término do ano corrente (alta) e 1,88% no subsequente (queda). Olhando para o câmbio, ambas as projeções caíram para R$ 5,65 neste ano e R$ 5,70 no próximo. Por fim, a taxa Selic permaneceu estável tanto para 2025 em 15%, quanto para 2026 em 12,5%.

No agro mundial e brasileiro, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) divulgou a atualização do Índice de Preços dos Alimentos referente ao mês de junho, que atingiu a média de 128 pontos, registrando um leve aumento de 0,5% em relação a maio. Apesar das quedas nos preços de cereais e açúcar, o índice foi sustentado pelas altas nos grupos de laticínios, carnes e óleos vegetais. Os cereais (-1,5%) foram influenciados principalmente pelo 2º mês consecutivo de baixa nos preços globais do milho, resultado do aumento da oferta sazonal na Argentina e no Brasil. Em contrapartida, o trigo registrou alta, impulsionado por preocupações climáticas em regiões produtoras, como Rússia, União Europeia e Estados Unidos. Para os óleos vegetais (+2,3%), o avanço foi liderado pelas altas nos preços do óleo de palma, canola e soja. Este último refletiu expectativas de alta na demanda de biocombustíveis após anúncios no Brasil e Estados Unidos.

O preço das carnes (+2,1%) atingiu novo recorde histórico, puxado por aumentos em todas as categorias, com exceção da carne de aves, impactada pelo excedente doméstico no Brasil após a imposição temporária de restrições à exportação em razão da gripe aviária. No entanto, o restabelecimento do status sanitário brasileiro no fim de junho contribuiu para uma leve retomada da demanda internacional. Nos laticínios (+0,5%) o destaque foi para a manteiga, que subiu 2,8% e alcançou novo recorde, impulsionada pela oferta restrita na Oceania e União Europeia, somada à alta demanda da Ásia e Oriente Médio. Por fim, o açúcar (-5,2%) atingiu o menor nível desde abril de 2021. A retração refletiu o avanço da colheita no Brasil, favorecido pelo clima seco, que acelerou a moagem e elevou a produção. Além disso, a previsão de recuperação na safra de 2025/26, com boas expectativas para Índia e Tailândia devido às monções antecipadas e intensas, aumentou a pressão baixista sobre os preços globais.

No Brasil, a Conab publicou seu décimo relatório referente à safra de grãos 2024/25, aumentando a estimativa de produção de 336,0 mi de t em junho para 339,6 mi de t em julho.  Caso a previsão se confirme, a produção deverá ser 14,2% maior em relação ao ciclo 23/24 e a maior da história.  A área destinada ao cultivo de grãos permaneceu estável em relação a junho, totalizando 81,8 mi de ha. Esse valor representa um aumento de 2,3% em relação à safra anterior, correspondendo a 1,9 mi de ha a mais.

No milho, para a safra 2025/26, o relatório de julho do USDA indicou uma produção global estimada de 1.263 mi de t, a caminho de ser a maior safra da história, superando em 3,1% a safra de 2024/25 (estimada em 1.225 mi de t); um aumento de 38 mi de t. Em comparação com junho, as estimativas para a produção do cereal foram mantidas para os seguintes países: China, com 295 mi t (+0,03%); Brasil, com 131 mi t (+0,8%); União

Europeia, com 60 mi t (+1,1%); e Argentina, com 53 mi t (+6,0%). Apenas os Estados Unidos, com 398,9 mi de t (+5,6%), apresentaram uma diminuição na previsão de produção (anteriormente era de 401,8 mi de t em junho). Para o ano 2025/26, projeta-se que os estoques finais de milho atinjam 272,1 mi de t, representando uma diminuição de 4,2% em comparação com o ciclo anterior, o que equivale a uma redução de 12,1 mi de t.

Nos Estados Unidos, até 20 de julho, o USDA avalia a condição das lavouras da seguinte maneira: média em 20% (2024: 23%); boas em 57% (2024: 51%); e excelentes em 18% (2024: 16%). De modo geral, as condições estão melhores do que no ano passado, o que justifica a previsão de uma grande oferta do grão.

Em relação à produção brasileira, a Conab revisou para cima a produção do cereal para 2024/25, com produtividades superiores na maioria dos estados produtores, devido ao clima propício e às tecnologias apropriadas.  Caso a produção atinja os 132 mi de t, a oferta será 14,3% maior em relação ao ciclo anterior.  A produção entre as safras de milho está distribuída da seguinte maneira: 24,9 mi de t na primeira safra (+8,5%); 104,5 mi de t na segunda safra (+16,1%); e 2,5 mi de t na terceira safra (+1,4%).  A produtividade do milho para a safra atual é estimada em 6.122 kg/ha, representando um aumento de 11,6%.

Até 19 de julho, 98,6% da colheita do milho da primeira safra havia sido concluída. No mesmo período de 2024, esse valor alcançou 99%. A média nos últimos cinco anos é de 98,6%. Dos principais estados produtores, apenas Santa Catarina (99%), Piauí (98%) e Maranhão (85%) ainda realizam atividades de colheita, enquanto os demais estados produtores já a finalizaram. No geral, as condições climáticas favoreceram a colheita do milho 1ª safra e elevaram o índice de produtividade em relação ao ano anterior. As exceções nos percentuais ficam para áreas em que o excesso de precipitações prejudicou a colheita, além de áreas em que o calendário de plantio, é mais extenso, como o Maranhão.

No mesmo período, o milho 2ª safra apresentou 60,6% de avanço na colheita. Grande redução em relação ao ciclo anterior, quando esse número era de 79,6% no mesmo período. Nos últimos 5 anos, a média é de 60%. Esse atraso se dá devido às altas precipitações e temperaturas mais amenas em grande parte do país. Apesar disso, os índices de produtividade continuam superiores aos especulados no início da safra e aos da safra anterior, com recordes em grandes estados produtores, como o Mato Grosso.

Na bolsa de Chicago, os contratos de milho para vencimento em Dez/25 estavam cotados em US$ 4,20/bushel em 15/07, 3,6% menor do que o preço registrado há um mês (US$ 4,35/bushel).

Na soja, o relatório mais recente do USDA aumentou a estimativa de produção de 2025/26, passando de 426,8 mi de t em junho para 427,7 mi de t em julho. Caso se confirme, a oferta deverá ser 1,3% maior do que a atual, totalizando 5,7 mi de t a mais, das 422,0 mi de t previstas para a safra 2024/25. Dos três maiores produtores, somente o Brasil deve aumentar sua produção em relação à safra anterior: 175 mi de t (+3,5%). Em julho, a estimativa de produção de soja dos Estados Unidos foi reduzida para 118,0 mi de t (-0,6%), em comparação com os 118,1 mi de t de junho. Para a Argentina, a produção foi estimada em 48,5 mi de t (-1,0%).

Nos Estados Unidos, até 20 de julho, o USDA avalia a condição das lavouras da seguinte maneira: média em 25,0% (2024: 24%); boas em 54% (2024: 56%); e excelentes em 14% (2024: 12%). Assim como no milho, o desenvolvimento das lavouras de soja é positivo, colaborando para bons números produtivos esperados, apesar da leve redução em comparação ao ciclo anterior.

Em relação à produção brasileira, a Conab fez uma leve redução nas projeções da produção da soja para 2024/25, passando de 169,6 mi de t (junho) para 169,5 mi de t (julho). O volume é 14,8% maior do que na safra passada, resultando em um aumento de 21,8 mi de t. A produtividade média da soja brasileira foi ao redor de 3.560 kg/ha, representando um aumento de 11,2%. É importante ressaltar que os dados da soja devem apresentar poucas mudanças nos próximos dois relatórios, considerando que a safra já foi finalizada

(verão) e o vazio sanitário continua em diversas áreas do país. Apenas restam estados que possuem períodos de chuva diferenciada, como é o caso de áreas do Alagoas, Roraima e Tocantins.

No mercado futuro (Chicago), o contrato Nov/25 da soja foi cotado a US$ 10,02/bushel no dia 15/07, 5,8% inferior ao preço dos últimos 30 dias (era de US$ 10,60/bushel).

No algodão, a mais recente previsão do USDA para a safra de 2025/26 registrou um aumento na produção mundial após uma redução em junho: 25,78 mi de t em julho, em comparação com os 25,47 mi de t de junho.  Em comparação com a safra 24/25, quando a produção total alcançou 26,11 mi de t, a diminuição é de 1,3%.  A China, principal produtora, deve oferecer 6,7 mi de t (-3,1%), seguida pela Índia com 5,1 mi de t (-2,0%), Brasil com 4,0 mi de t (+7,4%) e Estados Unidos com 3,2 mi de t (+1,3%).  Os estoques finais de pluma devem chegar a 16,8 mi de t, um pouco acima dos 16,7 mi de t previstos para 2024/25.

Nos Estados Unidos, até 20 de julho, o USDA avalia a condição das lavouras da seguinte maneira: média em 30% (2024: 29%); boas em 48% (2024: 42%); e excelentes em 9% (2024: 11%). Assim como na soja e no milho, as lavouras americanas seguem condições favoráveis nesse ciclo em relação ao ciclo passado.

Em julho, a Conab reiterou a previsão de produção de algodão brasileiro 2024/25, mantendo a estimativa em 3,9 mi de t de pluma.  Comparado ao ciclo anterior, a produção deve crescer 6,4%, ao passo que a área total das lavouras se manteve igual à estimativa de junho: 2,08 mi de ha (crescimento de 7,2% em relação a 23/24).  Por outro lado, a produtividade de algodão em caroço teve um leve aumento, alcançando 2.661 kg/ha (-0,7%).

No campo, a colheita do algodão tem apresentado progresso nos últimos dias. Até 19 de julho, a Conab estima que 24,8% das áreas haviam sido colhidas no país, contra 20,5% no mesmo período de 2024. Nos 3 maiores produtores, o Mato Grosso registra avanço de 8,4% (2024: 17,4%), Bahia com 36,0% (2024: 40,5%) e Minas Gerais, 53,0% (2024: 38,2%). No Mato Grosso, as chuvas intensas prejudicaram as plantações e o processo final de colheita da primeira safra, enquanto lavouras de segunda safra foram beneficiadas pelas precipitações. Dos campos ainda não colhidos, 7,8% estão em formação das maçãs e 75,5% em maturação.

Em Nova Iorque, o contrato futuro com vencimento em Dez/25 estava cotado em 68,56 centavos de dólar por libra-peso em 17/07, queda de 1,5% no comparativo mensal (em 17/06, estava em 67,55 cent/lbp).

Nas demais culturas, a Conab projetou nova e acentuada redução na produção de culturas de inverno: de 10,15 mi de t (junho) para 9,82 mi de t (julho), muito devido à redução da área plantada do trigo nos principais estados produtores, como Rio Grande do Sul e Paraná. A redução produtiva só não será maior graças às condições climáticas favoráveis do início do ciclo, que devem sustentar a produtividade em um patamar adequado. A produção por cultura deve ser dividida da seguinte forma: trigo com 7,81 mi de t (-0,9%); 1,12 mi de t de aveia (+11,8%); 511,7 mil t de cevada (+16,7%); e 295,2 mil t de canola (+51,0%). A área destinada às culturas de inverno deve atingir 3,41 mi de ha, uma queda de 11,0% em relação ao ciclo 2023/24.

O agronegócio brasileiro exportou US$ 82 bilhões no 1º semestre de 2025, mantendo um montante financeiro praticamente estável em relação ao mesmo período do ano anterior (-0,2%). Em junho, as exportações brasileiras somaram US$ 14,6 bilhões, registrando queda de 3,6% em relação ao mesmo mês de 2024. O desempenho negativo refletiu a combinação entre retração nos preços médios de exportação (-2,9%) e leve recuo no volume embarcado (-0,6%). Produtos como soja em grãos (US$ 5,4 bilhões | -12,5%) e carne de frango in natura (US$ 558,2 mi | -25,1%) pressionaram a balança. A soja teve redução tanto no preço médio (-9,0%) quanto no volume exportado (-3,9%), impactada pelo aumento da oferta global. Já o frango recuou por conta dos embargos sanitários provocados pela gripe aviária, mesmo com sinais de recuperação no fim do mês.  Enquanto isso, o café verde obteve destaque positivo, alcançando US$ 934,4 mi (+16,5%) mesmo com queda de 34,1% no volume, reflexo da valorização de 76,9% nos preços.

O mês foi marcado por recordes históricos de valor e/ou volume em diversos produtos, como carne bovina in natura (US$ 1,31 bilhão | +52,8%), carne suína in natura (US$ 320,8 mi | +44,9%), sebo bovino (US$ 82,5 mi | recorde absoluto) e café solúvel (US$ 74,7 mi | recorde para meses de junho). Além disso, o fumo não manufaturado se destacou ao entrar para os dez principais produtos exportados do agro no mês, ultrapassando o algodão.

Entre os principais setores exportadores do mês, os 5 mais relevantes foram: complexo soja (US$ 6,21 bilhões | -13,1%), carnes (US$ 2,39 bilhões | +30,4%), produtos florestais (US$ 1,31 bilhão | -5,3%), café (US$ 934,4 mi | +16,5%) e complexo sucroalcooleiro (US$ 1,33 bilhão | estável). Juntos, esses setores representaram 86,2% das exportações do agronegócio brasileiro em junho de 2025. Já as importações de produtos agropecuários totalizaram US$ 1,55 bilhão (-0,9% ante junho/24), com destaque para o crescimento das compras de insumos essenciais à produção, como fertilizantes (US$ 1,45 bilhão | +10,7%), defensivos agrícolas (US$ 562,5 mi | +50,2%) e produtos para nutrição animal (US$ 279,7 mi | +20,0%). Os dados são da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI/Mapa).

O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de 2025 foi atualizado em R$ 1,408 trilhão em junho pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), sendo 11,6% abaixo do registrado no ano anterior. Do total, R$ 932,2 bilhões (+11,5%) foram provenientes das lavouras, sendo as maiores contribuições: soja (317,4 bilhões | participação de 22,5%); milho (158,9 bilhões | 11,3%); café (124,2 bilhões | 8,8%); cana-de-açúcar (118,7 bilhões | 8,4%); algodão (35,7 mi | 2,5%). A pecuária, por sua vez, representou R$ 476,1 bilhões (+12,0%) com destaques para: bovinos (203,3 bilhões | participação de 14,4%); frango (113,0 bilhões | 8,0%); leite (69,5 bilhões | 4,9%); suínos (59,7 bilhões | 4,2%); ovos (30,7 bilhões | 2,2%).

No dia 9 de julho, o presidente Donald Trump anunciou que vai aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, alegando que a relação entre os países é “injusta” e “não recíproca”. É verdade que os Estados Unidos representam fatias importantes das exportações de commodities agrícolas brasileiras, como o café (16% e maior comprador), carne bovina (12% e 2º maior comprador) e suco de laranja (41% e 2º maior comprador) e é fato que as tarifas impactarão a economia brasileira. Por outro lado, o mercado americano também deverá ser impactado, com elevação dos preços dos produtos para o consumidor, eventuais desabastecimentos e afastamento da relação Brasil-Estados Unidos. Além do aspecto comercial, Trump elevou o tom contra o BRICS, ameaçando ampliar barreiras caso prevaleça o alinhamento do bloco contra a hegemonia americana. Neste momento é a principal preocupação do agro. Tarifas começam a incidir em 1 de agosto.

Segundo o relatório Visão Agro divulgado pelo Itaú BBA, 2025 tem sido marcado por instabilidade econômica global, impulsionada pela elevação das tarifas de importação nos EUA e imprevisibilidade da política econômica norte-americana, que reduziram a projeção de crescimento do PIB do país para 1,7% e enfraqueceram o dólar. Ao mesmo tempo, a China também desacelera, e o crescimento global projetado é de apenas 2,9%, abaixo da média histórica. Conflitos geopolíticos, como entre Israel e Irã, adicionam riscos sobre o preço de petróleo e insumos estratégicos. No Brasil, mesmo com a recente valorização do real, a moeda segue desvalorizada devido a deterioração e desconfiança fiscal e trajetória insustentável da dívida pública. A economia brasileira deve desacelerar nos próximos trimestres, embora o consumo siga sustentado por transferências públicas e mercado de trabalho ainda aquecido. Às vésperas de um novo ciclo eleitoral e diante de um ambiente externo volátil, o país se prepara para mais uma safra sob forte tensão e incertezas.

No dia 1º de Julho, o Governo Federal lançou o Plano Safra 2025/2026 com R$ 516,2 bilhões para apoiar a agricultura empresarial, um aumento de R$ 8 bilhões em relação ao ciclo anterior. Serão R$ 447 bilhões destinados a grandes produtores e cooperativas, e R$ 69,1 bilhões via Pronamp (este que tinha o limite de

renda para produtores de R$ 3,0 mi por ano e agora passou para R$ 3,5 mi). Do total, R$ 414,7 bilhões vão para custeio e comercialização, e R$ 101,5 bilhões para investimentos. As taxas de juros variam: 10% ao ano para Pronamp e 14% para os demais no custeio, e entre 8,5% e 13,5% ao ano para investimentos. O plano traz como novidades a ampliação das exigências do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para todas as operações, a autorização para financiar rações, suplementos e medicamentos adquiridos até 180 dias antes do crédito e ampliação do limite de armazenagem de 6 para 12 mil t.

A primeira quinzena de julho foi marcada por eventos extremos de frio e geadas, principalmente em áreas produtoras do Sul e Sudeste do Brasil. As temperaturas negativas afetaram lavouras de trigo e hortaliças no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde os termômetros marcaram -10ºC; milho, trigo e grãos no Paraná (-5ºC); cana-de-açúcar em São Paulo; e até mesmo produções de café no Sul de Minas Gerais. A ocorrência de baixas temperaturas, associada à baixa umidade e ventos, elevou o alerta para a chamada geada negra em pontos do Sul e do Sudeste. Novas frentes frias são esperadas ainda para o mês de julho e começo de agosto. Atenção redobrada para o desenvolvimento das lavouras de trigo e para a colheita do milho.

Em 16 de julho de 2025, autoridades sanitárias argentinas confirmaram um novo caso de gripe aviária de alta patogenicidade do tipo H5 em aves domésticas na província de Buenos Aires. O foco envolveu aves de subsistência, acendendo alerta para o setor avícola e agroexportador do país. O Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa) adotou medidas imediatas de vigilância, controle e saneamento para conter a disseminação do vírus e preservar a biossegurança das propriedades próximas com a criação de uma zona de prevenção de raio de 10 quilômetros ao redor da propriedade. É um sinal de alerta também para o setor avícola brasileiro, evidenciando que criações de “fundo de quintal” também podem ser porta de entrada para epidemias com possibilidade de alto impacto na economia do país.

Para finalizar nossa seção de análise do agro, apresentamos os preços mais recentes dos produtos do setor no momento do fechamento da nossa coluna. No milho, considerando dados de cooperativa do estado de São Paulo, o preço físico era de R$ 59,00/sc; já o contrato para maio/2026 (B3) estava em R$ 73,88. Na soja, o preço Spot estava em R$ 131,80/sc e a entrega para fev/26 em R$ 127,30/sc. O algodão (Base Esalq) era cotado a R$ 136,67/libra peso. O trigo, estava em R$ 1.450,00/t (FOB). Demais preços, considerando dados do Cepea, seguem na sequência: café arábica em R$ 1.815,89/sc, queda de 1,0%; laranja para indústria em R$ 44,40/cx (40,8kg) a prazo, queda mensal de 0,7%; e o boi gordo em R$ 298,50/@, queda de 5,9% no mês.

Os cinco fatos do agro para acompanhar em agosto são:

  1. Analisar o efeito da taxação de 50% de Donald Trump ao agronegócio e economia do Brasil. Apesar das cadeias mais afetadas – em volume/receita – serem a de carne bovina (a), suco de laranja (b), café (c) e papel/celulose (d), as que mais devem “sofrer” são as de frutas (como mangas) e produtos oriundos de hortifrutis (mel e outros produtos), tilápias e outros produtos perecíveis. Acompanhar as movimentações em busca de mercados alternativos; e as negociações comerciais para revogação ou redução das taxas.
  2. Embora os impactos imediatos da taxação sejam sobre os produtos exportados (item 1), importante avaliarmos também os efeitos sobre as importações, especialmente de insumos, em caso de reciprocidade do governo brasileiro. Uma parte importante dos defensivos vem dos EUA (6,3% de inseticidas, 2,6% de herbicidas e 0,3% de fungicidas; dados da Markestrat Agribusiness). Avaliar o impacto nos custos de produção, já pensando em 2025/26. Fora isto, as pressões sobre importações de fertilizantes e combustíveis vindos da Rússia.
  3. Continuar acompanhando o desenvolvimento das lavouras nos EUA. Até 20/07, o USDA apontou que as áreas de milho estavam 18% excelentes (2024: 16%) e 56% boas (2024: 21%). Na soja, a condição excelente era de 14% (2024: 12%) e boas em 54% (2024: 56%). No algodão, 9% das áreas estavam em condição excelente (2024: 11%) e 48% em boas (2024: 42%). Em geral, os campos seguem melhores e a oferta vai se consolidando conforme as previsões.
  4. A colheita da safrinha estará em suas fases finais em agosto, especialmente no Centro-Oeste. O volume final colhido e a qualidade do grão serão cruciais para consolidar o tamanho da safra brasileira de milho. Qualquer problema na secagem ou na logística de escoamento pode gerar pressões nos preços domésticos e na capacidade de exportação do país. Até 19/07, 55,5% das áreas de milho 2ª safra foram colhidas no país, contra 60,6% na média dos últimos 5 anos; dados são da Conab.
  5. Acompanhar os principais indicadores econômicos, tais como o câmbio e taxa Selic; e a situação institucional do Brasil relacionada ao embate congresso x STF, a questão do aumento do IOF e outros tópicos na área política nacional.

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdade de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). Sócio da Markestrat Group. É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto – SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande é associada na Markestrat Group, engenheira agrônoma pela ESALQ/USP e mestra em Administração na FEA-RP/USP. É especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

Rafael Barros Rosalino é consultor na Markestrat Group, médico veterinário pela FCAV/UNESP. É especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

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