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Evolução genética: por que a soja exige manejo de doenças cada vez mais eficaz


Ricardo Balardin, engenheiro agrônomo, PhD e CRO da DigiFarmz.

Nos últimos 30 anos, acompanhamos um avanço notável no melhoramento genético da soja. Se antes tínhamos variedades com ciclo mais longo, com grande área foliar e forte crescimento vegetativo, hoje a realidade é outra: plantas com arquitetura mais compacta, menor massa foliar e com foco muito maior na produtividade. Essa mudança trouxe ganhos inegáveis mas também impôs novos desafios ao produtor e ao consultor técnico.

Ao observarmos as lavouras atuais, fica evidente que a arquitetura da planta passou a exigir um cuidado diferente. Com menos folhas disponíveis, cada unidade fotossintética tornou-se um recurso fundamental. É por isso que costumo dizer: na soja moderna, cada folha importa. A perda foliar não é apenas um detalhe: ela impacta diretamente a produtividade final.

A pressão das doenças no campo

O cenário fitossanitário da soja no Brasil é complexo. Temos uma combinação de condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento de doenças e uma diversidade de patógenos que afetam a cultura. Entre eles, destaco dois que continuam sendo determinantes para a rentabilidade: a mancha-alvo e a ferrugem-asiática.

A mancha-alvo pode causar perdas de até 40% da produção e  a ferrugem, mais agressiva, pode comprometer até 90% do potencial produtivo. Em um cultivo que ocupa mais de 40 milhões de hectares no país, esses números representam um impacto econômico gigantesco, que não pode ser ignorado.

O grande ponto é que o manejo não pode ser reativo. Esperar os primeiros sintomas é, muitas vezes, tarde demais. O agricultor precisa planejar, conhecer o ciclo da variedade que escolheu, entender o comportamento da planta e se antecipar às condições de risco. Isso significa adotar uma estratégia fungicida estruturada, consistente e de caráter preventivo, respeitando momentos críticos da cultura.

Fitotoxicidade: o desafio invisível

A redução da área foliar, consequência da evolução genética, trouxe outro desafio que muitas vezes passa despercebido: a fitotoxicidade. Em plantas mais compactas, os efeitos de um produto mal posicionado ou inadequado se tornam mais severos.

Se antes havia uma “margem de tolerância” maior, hoje a realidade é diferente. Uma lesão causada por produto fitotóxico pode comprometer significativamente a área fotossintética disponível. Em outras palavras, a planta tem menos folhas e, portanto, menos capacidade de compensar. Isso significa que o erro custa mais caro.

Por isso, é fundamental que agricultores e consultores sejam criteriosos na seleção de defensivos, no momento da aplicação e nas misturas utilizadas. Um manejo cuidadoso é, ao mesmo tempo, proteção contra doenças e contra perdas induzidas pelo próprio uso incorreto da tecnologia.

O futuro do manejo de doenças na soja

Olhando para o futuro, acredito que o manejo de doenças passará cada vez mais pela integração entre conhecimento técnico, pesquisa aplicada e tecnologia digital. A realidade do campo está se tornando mais complexa: ciclos mais curtos, maior pressão de doenças e necessidade de respostas rápidas.

Nesse ambiente, a tomada de decisão baseada apenas na experiência ou em práticas tradicionais já não é suficiente. É preciso usar dados, modelos preditivos e inteligência agronômica para orientar o manejo com precisão.

É exatamente nesse ponto que vejo a contribuição da DigiFarmz. Nosso propósito é transformar ciência em recomendações práticas, permitindo que agricultores e consultores tenham acesso a informações que suportam decisões mais rápidas, seguras e rentáveis. Não se trata apenas de aplicar fungicidas, mas de aplicar da forma certa, no momento certo, com base em evidências sólidas.

A evolução genética da soja trouxe ganhos importantes, mas também elevou o nível de responsabilidade no manejo. Cada folha passou a ter um valor relevante dentro da lavoura. Proteger essa estrutura é, em última análise, proteger o potencial produtivo da cultura.

Cabe a nós, como setor, unir experiência, ciência e tecnologia para enfrentar os desafios atuais e preparar o campo para os próximos. Afinal, cuidar do manejo de doenças é cuidar não apenas da safra, mas também da sustentabilidade do agronegócio brasileiro.

Sobre a DigiFarmz

A DigiFarmz é uma agtech que desenvolve soluções inteligentes para o manejo agrícola, conectando ciência, tecnologia e dados de campo, e oferece recomendações agronômicas que apoiam produtores, consultores e empresas do setor na busca por maior eficiência, produtividade e sustentabilidade.

 

Ricardo Balardin

CSO & Founder da DigiFarmz

Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia/Fitopatologia e Ph.D. pela Michigan State University

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