COLUNISTAS

Atenções se voltam ao clima e à velocidade do plantio de grãos

BOLETIM AGRO30


Prof. Dr. Marcos Fava Neves

Vinicius Cambaúva

Beatriz Papa Casagrande

Rafael Barros Rosalino

 

Reflexões dos fatos e números do agro em setembro/outubro e o que acompanhar em novembro 

Na economia mundial e brasileira, em mais uma divulgação do Banco Central, o Boletim Focus divulgado no dia 20/11 trouxe a projeção para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 4,70% neste ano e 4,27% no ano corrente (ambos em queda mensal). Já para o PIB, a expectativa é para um crescimento de 2,17% em 2025 e 1,80% em 2026 (os dois em manutenção). O câmbio deve ficar em R$ 5,45 até o fechamento do ano atual e em R$ 5,50 no término do subsequente. Para finalizar, a taxa Selic se manteve em 15,0% neste ano e em 12,25% no próximo.

No agro mundial e brasileiro, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) divulgou mais uma atualização do índice de preços de alimentos, que fechou setembro com média de 128,8 pontos, uma leve queda em relação ao mês anterior (-0,7%), mas ainda 3,4% acima do mesmo período de 2024. Os cereais (-0,6%) foram pressionados pela terceira queda consecutiva no preço do trigo, diante de ampla disponibilidade nas principais regiões produtoras do Hemisfério Norte e demanda internacional moderada. O milho também recuou, refletindo a expectativa de boa safra nos Estados Unidos e Brasil, além da suspensão temporária dos impostos de exportação na Argentina. A queda dos laticínios (- 2,6%), foi impulsionada pelos preços da manteiga (-7,0%) que caíram devido à menor demanda no Hemisfério Norte e à perspectiva de maior produção na Nova Zelândia. O índice de óleos vegetais (-0,7%) cedeu com quedas nos preços do óleo de palma e de soja. O primeiro recuou com a divulgação de estoques elevados na Malásia, enquanto o óleo de soja foi impactado pela maior oferta argentina, após isenção temporária de impostos sobre exportações no final do mês.

O açúcar (-4,1%) registrou o menor índice desde março de 2021. A retração foi puxada pela produção no Brasil, com alto volume de moagem e maior destinação da cana para açúcar. As boas perspectivas de safra na Índia e Tailândia, após chuvas favoráveis e aumento da área plantada, também reforçaram a tendência de queda, neutralizando a firme demanda da China. Em contrapartida, as carnes (+0,7%) seguiram em trajetória de alta, atingindo o maior nível já registrado no índice. A carne bovina se destacou, com aumento das cotações brasileiras e australianas, sustentadas pela firme demanda dos Estados Unidos e da China. Já os preços da carne suína e de frango permaneceram estáveis, refletindo equilíbrio entre oferta e demanda, mesmo diante de incertezas comerciais e sanitárias.

A Conab publicou o primeiro Boletim de Safra de Grãos para o ciclo 2025/26. A produção deve alcançar 354,7 mi de t, aumento de 0,8% em relação ao ciclo 24/25. Caso essa produção se confirme, estabeleceremos um novo recorde histórico, pois em 2024/25 foram produzidas 351,9 mi de t de grãos. Para a área, a estimativa é de 84,4 mi de ha, um aumento de 3,3% em comparação com o ciclo anterior. Por outro lado, a primeira previsão para a produtividade estima uma queda de 2,4%, resultando em 4.202 kg por ha.

Devido ao shutdown do governo dos Estados Unidos, os relatórios mensais de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), de extrema importância para a formação de preços de

commodities no mundo, não foram divulgados no mês de outubro. Para conhecimento, o shutdown é uma paralisação de serviços federais que acontece quando o congresso não aprova o orçamento necessário para manter o governo em funcionamento.

No milho, a Conab estimou uma colheita de 138,6 mi de t, volume que representa uma queda de 1,8% em relação ao ciclo anterior, quando a produção foi de 141,1 mi de t. A produção de milho ao longo das safras deve ser dividida da seguinte forma: 25,6 mi de t na primeira safra (+2,8%); 110,5 mi de t na segunda safra (- 2,5%); e 2,5 mi de t na terceira safra (-13,1%). A produtividade média do milho para a safra está projetada em

6.109 kg/ha, indicando uma diminuição de 5,4%. A área plantada abrange 22,7 mi de ha, aumento de 3,9%.

No relatório de 11 de outubro, informou que o plantio do milho da primeira safra estava 31,2% concluído, apresentando avanços em relação a 2024 (28,8%) e à média das últimas cinco safras (30,7%). A maior parte do plantio está concentrada na região Sul, onde os três representantes possuem pelo menos 70% da área plantada. São Paulo e Goiás também começaram as atividades.

Na Bolsa de Chicago, até 22/10, os contratos de milho para vencimento em Dez/25 estavam cotados em US$ 4,22/bushel, 0,9% menor do que o preço registrado há um mês (era de US$ 4,26/bushel).

Na soja, a produção foi elevada: a Conab estima uma colheita de 177,6 mi de t, o que representa um aumento de 3,6% em relação ao ciclo anterior, ou seja, 6,1 mi de t a mais. A produtividade da soja para a safra deve ser de 3.620 kg/ha, um número praticamente igual (-0,1%) ao da safra passada. A área total destinada à cultura deve ser de 49,1 mi de ha, representando um aumento de 3,6%.

No relatório de 11 de outubro, o plantio da soja estava 11,1% concluído. Esse percentual representa um avanço em relação ao ciclo anterior (9,1%), porém é inferior à média das últimas cinco safras (16,9%). A maior parte do plantio foi realizada em áreas irrigadas e em locais onde foram registrados volumes adequados para a emergência da cultura.

No mercado futuro (Chicago), até 22/10, o contrato de Nov/25 da soja foi cotado a US$ 10,33/bushel, 1,5% maior do que o preço registrado há um mês (era de US$ 10,18/bushel).

No algodão, a primeira estimativa da Conab para a safra 2025/26 indicou uma redução na produção: uma colheita de 4,0 mi de t de pluma, volume que representa uma redução de 1,1% em relação ao ciclo anterior. A produtividade esperada para a safra é de 1.885 kg/ha, o que representa uma diminuição de 3,5%. A área total destinada à cultura deve ser de 2,1 mi de ha, um aumento de 2,5%.

No relatório de 11 de outubro, a Conab indicou que as lavouras de algodão se encontram no período de vazio sanitário, e devem permanecer assim até dezembro. Nesse intervalo, produtores direcionam esforços para atividades pós-colheita, como transporte e beneficiamento, além de preparar o solo para a próxima safra.

No mercado futuro (Nova Iorque), até 22/10, o contrato de Dez/25 do algodão foi cotado em 64,11 centavos de dólar por libra-peso, 2,0% maior do que o preço registrado há um mês (era de 62,86 cent/lbp).

Nas demais culturas, a Conab trouxe em seu 1º relatório uma projeção para a produção de 9,9 mi de t nas culturas de inverno. A produção por cultura deve estar segmentada da seguinte forma: trigo com 7,7 mi de t; 1,3 t de aveia; 553,3 mil t de cevada; e 324,2 mil t de canola. A área destinada às culturas de inverno deve ser de 3,3 mi de ha, com uma produtividade média entre as culturas de 2.955 kg por ha.

O agronegócio brasileiro registrou, em setembro de 2025, o maior valor de exportações para o mês desde o início da série histórica: foram US$ 14,9 bilhões, um crescimento de 6,1% em relação ao mesmo mês de 2024. O setor respondeu por 49,0% de todas as exportações brasileiras no mês, impulsionado pelo aumento dos volumes embarcados (+7,4%), mesmo com uma leve queda nos preços médios internacionais (-1,1%). As importações do setor, por sua vez, somaram alta de 7,3% no mês, com destaque para fertilizantes e insumos

pecuários. No acumulado de janeiro a setembro, o agro soma US$ 126,6 bilhões em exportações (+0,7% em relação ao mesmo período de 2024), gerando mais de US$ 111 bilhões de superávit comercial no ano.

Os destaques incluem a carne bovina in natura, com US$ 1,8 bilhão em exportações (+55,6%), em meio à forte demanda da China e novos mercados habilitados. A carne suína in natura também bateu recorde, com US$ 346,1 mi (+28,6%) e quase dobrou o volume embarcado (+78,2%). O milho se manteve em alta, com US$ 1,5 bilhão exportado (+23,5%). Entre os produtos afetados pelas restrições comerciais e tarifaços, o desempenho segue positivo: café com US$ 1,3 bilhão exportado (+9,3%) e pescados, com US$ 38,7 mi (+6,1% em volume).

O mês de setembro também reforçou o movimento de diversificação da pauta exportadora, com recordes históricos em volume para produtos menos tradicionais, como sementes de oleaginosas (exceto soja) (+92,3%), melancias frescas (+65%), feijões (+50,8%) e lácteos (+13,7%). No total, as exportações de produtos não tradicionais cresceram 9,2% no mês e 19,1% no acumulado do ano.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) atualizou o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) em agosto para R$ 1,409 trilhão, ficando 11,1% superior ao valor registrado no ano passado. Do total, R$ 929,4 bilhões (+10,6%) provém das lavouras e R$ 479,6 bilhões (+12,3%) da pecuária. A soja (R$ 324,7 bilhões) e o milho (R$ 164,5 bilhões) continuam liderando as posições na lavoura, enquanto os bovinos (R$ 205,1 bilhões) e frango (R$ 111,0 bilhões) são protagonistas na pecuária.

Brasil conquista novos mercados para exportações do agronegócio em outubro: os Ministérios da Agricultura e Pecuária e das Relações Exteriores confirmaram a abertura de diversos novos mercados internacionais para produtos do agronegócio brasileiro. São eles: produtos para alimentação de cães, para os Estados Unidos; sementes de abobrinha e melancia, para o Irã; carnes bovina, de frango e suína, para Santa Lúcia (país no Caribe); mudar de árvores, para o Uruguai. A conquista desses novos destinos é estratégica para o setor, pois promove a diversificação das exportações, reduzindo a dependência de compradores tradicionais, como a China. Já são 453 novas aberturas de mercado desde o início de 2023.

Brasil se beneficia de boicote chinês aos Estados Unidos: com preferência chinesa à soja do Brasil, vendas devem bater recorde anual já em outubro. Segundo a ANEC (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), o Brasil deverá exportar 102,2 mi de t de soja no acumulado de janeiro a outubro, superando os volumes de 2023 e 2024. Para o ano de 2025, espera-se um volume exportado de 110 mi de t do grão. Para o produtor, isso significa liquidez e valorização do seu produto. Para o Brasil, é um fortalecimento da posição como líder absoluto no fornecimento da soja para o mundo.

O mais novo relatório da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), divulgado no final de setembro, revelou que o número de pessoas ocupadas no agronegócio atingiu seu maior nível histórico no segundo trimestre de 2025. O agro empregou 28,2 mi de pessoas entre abril e junho. O destaque vai para o setor primário, que apresentou alta de 1,7%, ou de 125,5 mil novos trabalhadores. Dentre as cadeias, a cafeicultura se destacou, com alta e 39,5%, ou 187,3 mil pessoas. Esta notícia evidencia a força do setor como um dos principais pilares de geração de emprego e renda no país.

Para finalizar nossa seção de análise do agro, apresentamos os preços mais recentes dos produtos do setor no fechamento da nossa coluna. No milho, considerando dados de cooperativa do estado de São Paulo, o preço físico era de R$ 64,00/sc; já o contrato para julho/2026 (B3) estava em R$ 69,95. Na soja, o preço Spot estava em R$ 131,80/sc (FOB) e a entrega para mar/26 em R$ 122,30/sc (FOB). O algodão (Base Esalq) era cotado a R$ 116,90/lb. O trigo, estava em R$ 1.140,00/t (FOB). Demais preços, considerando dados do Cepea são: café arábica em R$ 2.275,55/sc, valorização mensal de 7,1%; laranja para indústria em R$ 50,05/cx (40,8kg) a prazo, praticamente estável; e o boi gordo em R$ 310,20/@, aumento de 2,4% no mês.

Os cinco fatos do agro para acompanhar em novembro são:

  1. A nova safra 2025/26 de grãos entra em ritmo de consolidação, com projeção recorde de 354,7 mi de t segundo a Conab (+0,8% frente ao ciclo anterior), resultante da expansão de 3,3% em área (84,4 mi ha). Por outro lado, a produtividade recua 2,4%, refletindo incertezas climáticas e custos elevados. É hora de acompanhar como o ritmo do plantio principalmente da soja e milho verão avança em novembro e se o crédito e o endividamento rural permitirão sustentar a expansão planejada.
  2. Os modelos climáticos indicam La Niña de baixa intensidade, que pode trazer chuvas mais regulares ao Centro-Oeste e Matopiba, mas períodos mais secos ao Sul. Após um início irregular de primavera, é decisivo definir a janela ideal de semeadura e o estabelecimento das lavouras nas próximas O plantio atrasado pode deslocar a colheita da soja e afetar a janela da safrinha de milho, além de pressionar custos logísticos e operacionais.
  3. O shutdown do governo americano suspendeu temporariamente os relatórios do USDA, o que amplia a incerteza sobre estoques e produção globais de grãos. Enquanto isso, os preços internacionais vêm recuando: soja a US$ 10,06/bushel (-3,4%) e milho a US$ 4,13/bushel (-2,4%) até meados de outubro, diante das boas perspectivas de safra nos EUA, Brasil e Argentina.
  4. A disputa comercial entre Estados Unidos e China volta ao centro das atenções, com Pequim zerando as compras de soja americana pela primeira vez em 5 anos, e aumentando as importações do Brasil. Esse movimento, somado à ameaça de novas tarifas norte-americanas sobre produtos chineses, cria um ambiente de incerteza e de oportunidade para o agronegócio brasileiro. Será importante acompanhar o desenrolar dessas negociações, bem como a evolução das importações chinesas de grãos e os impactos sobre os preços internacionais.
  5. Continuar de olho no câmbio. A previsão do dólar foi mantida a R$ 5,45 até o fim do ano e Selic em 15%. A combinação de custos elevados, juros ainda altos e um cenário internacional de incertezas deve elevar o foco na eficiência, otimizar o uso de insumos e buscar ganhos de escala e Com margens mais apertadas, quem conseguir produzir mais com menos e ampliar a gestão financeira e comercial da propriedade sairá à frente.

 

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdade de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). Sócio da Markestrat Group. É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto – SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande é associada na Markestrat Group, engenheira agrônoma pela ESALQ/USP e mestra em Administração na FEA-RP/USP. É especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

Rafael Barros Rosalino é consultor na Markestrat Group, médico veterinário pela FCAV/UNESP. É especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

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