NOVAS TECNOLOGIAS
‘Startup’ quer ajudar agricultor a colher, e vender, dados da lavoura
‘Startup’ quer ajudar agricultor a colher, e vender, dados da lavoura
À medida que as grandes companhias agrícolas adotam ferramentas de alta tecnologia para permitir aos produtores aumentar a produtividade, uma pequena empresa americana quer seguir um caminho diferente: ajudar os agricultores a coletar e vender os dados de suas colheitas.
A Farmobile LLC, uma firma novata fundada há um ano em Leawood, no Estado do Kansas, quer desenvolver um mercado on-line onde produtores possam armazenar várias informações sobre cultivo, aplicação de pesticidas e produtividade da colheita. Se assim desejar, o produtor poderia vender esses dados para empresas fornecedoras de produtos agrícolas ou para operadores de commodities.
A iniciativa surge num momento em que novas tecnologias estão sendo adotadas no cinturão agrícola dos Estados Unidos. Empresas como a Monsanto MON -0.03% Climate Corp. devoram montanhas de estatísticas climáticas e analisam imagens de satélite para oferecer complexas orientações de gestão aos produtores, enquanto a DuPont DD +0.86% está trabalhando com as fabricantes de equipamentos Deere DE -1.42% & Co. e Raven Industries RAVN +2.35% na transmissão de dados das lavouras para análise em servidores remotos de computadores. Monsanto, DuPont e suas concorrentes vendem serviços de dados que ajudam produtores a tomar decisões como quais sementes plantar, o melhor momento para aplicar pesticidas e onde pode ser necessário empregar fertilizantes.
A corrida para desenvolver serviços de análises de dados tem apresentado novas questões para os produtores. Alguns deles relutam em compartilhar dados do seu negócio com as grandes companhias de sementes, químicos e equipamentos.
Na semana passada, o Farm Bureau, uma entidade de classe que representa agricultores nos EUA, e outros grupos do setor anunciaram um acordo com as grandes empresas do agronegócio, incluindo Monsanto, DuPont e Deere, referente a uma série de princípios para o uso de dados de campo dos produtores.
A Farmobile, por sua vez, tem um produto próprio que permite que os agricultores que comandam grandes operações possam monitorar o paradeiro de seus tratores usando um aplicativo no iPad, da Apple Inc., AAPL -0.23% que ajuda a reduzir o tempo em que as máquinas ficam inativas durante a colheita ou responder mais rapidamente a qualquer problema no seu funcionamento, na época do plantio. Os transmissores da empresa — do tamanho de um notebook pequeno — podem ser conectados a vários equipamentos e podem enviar informações a bancos de dados eletrônicos conforme os agricultores realizam o plantio das sementes, pulverizam as culturas contra pragas e fazem a colheita.
Em meados do próximo ano, a Farmobile espera lançar um serviço de troca de dados que possibilite a operadores de commodities ou fabricantes de sementes, produtos químicos e tratores pesquisar o banco de dados da empresa. Se uma companhia que produz pesticidas quer saber se um fungo está atingindo a lavoura numa certa região, ou se o gestor de um fundo de hedge está curioso para saber o quanto a plantação de milho está atrasada numa outra, eles podem pagar os produtores para analisar seus dados.
Os agricultores poderiam, então, decidir se querem ou não vender seus dados, diz Jason Tatge, um dos fundadores e diretor-presidente da empresa. A Farmobile dividiria a receita da venda de dados com o produtor.
Se o negócio der certo, os produtores estarão “monetizando algo que não monetizavam antes”, diz Tatge, que vendeu sua empresa anterior, dona de um sistema de comercialização de grãos via celulares e tablets, para a DuPont em 2012. Segundo ele, os recursos da Farmobile até o momento são todos próprios.
Durante o desenvolvimento do seu sistema de troca de dados, a Farmobile encontrou um especialista no segmento de negociação de commodities: o diretor de operações da empresa, Kenny Conklin, que antes comandava a área de desenvolvimento de negócios da operadora de bolsas eletrônicas BATS Global Markets Inc., sediada na área de Kansas City. Fundada em 2005, a BATS hoje negocia diariamente quase a mesma quantidade de ações de empresas listadas nos EUA do que a IntercontinentalExchange Inc., ICE +0.41% dona da Bolsa de Nova York (Nyse).
Alguns acham que a abordagem da Farmobile proporciona aos agricultores um controle maior sobre esse incipiente negócio — e possivelmente uma receita extra. David Seba, que planta soja, milho e girassóis com seu irmão numa área de pouco mais de 4 mil hectares próximo a Cleveland, no Estado do Missouri, testou o sistema há alguns meses e estima que os dados de plantação, pulverização e colheita de uma safra pode valer até quase US$ 45 por hectare para possíveis interessados, como fabricantes de químicos e sementes.
“Somos nós que estamos gerando os dados”, diz Seba. “Deveríamos poder lucrar com os dados que coletamos.”
The Wall Street Journal 03/12/2014