MERCADO
Resistência de pragas a defensivos faz crescer interesse por controle biológico
Resistência de pragas a defensivos faz crescer interesse por controle biológico

Com custo elevado para desenvolver um novo agroquímico, gigantes do setor passaram a investir em controle biológico para estender a vida útil de seus produtos. A estratégia é vista como essencial para a sustentabilidade dos negócios, especialmente diante da resistência criada pelas pragas após anos de aplicação de defensivos.
— Está cada vez mais difícil e caro descobrir novas tecnologias. Por isso, entendemos que o futuro passa pelo manejo integrado — afirma Giuliano Pauli, coordenador de pesquisa e desenvolvimento de produtos biológicos da indústria de químicos FMC.
Para uma nova molécula química ser lançada no mercado, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Controle Biológico (ABC Bio), são estimados investimentos de US$ 150 milhões a US$ 256 milhões (R$ 495 milhões a R$ 845 milhões), em um período de 10 anos. Para um biodefensivo, o valor despendido varia de US$ 2 milhões a US$ 10 milhões (R$ 6,6 milhões a R$ 33 milhões), em menor tempo.
Uma das primeiras multinacionais de químicos a entrar no mercado de biológicos, há 10 anos, a FMC tem hoje quatro produtos desenvolvidos a partir de microrganismos, dos quais três são voltados para o combate de lagartas.
— Temos um portfólio completo de produtos químicos e opções biológicas para complementar o manejo das lavouras. O segredo é saber quando é necessário entrar com uma técnica ou outra – completa Pauli, acrescentando que a previsão é de que os produtos biológicos cresçam em faturamento nos próximos anos.
O surgimento de novas pragas em ciclos recentes também estimulou as empresas a investirem no controle biológico. Desde 2000, foram identificados pelo menos 41 insetos, ácaros, fungos, vírus e fitoplasmas prejudiciais à produção agrícola — média de três novas pragas por ano, conforme dados da Agropec Consultoria.
No topo das pragas mais temidas pelos agricultores, pelo poder de destruição, a Helicoverpa armigera recebeu boa parte dos investimentos em pesquisa nos últimos anos. A primeira tecnologia brasileira para o controle da lagarta foi desenvolvida a partir de uma bactéria pela Simbiose Agro, empresa que fabrica produtos biológicos à base de fungos e bactérias.
— O inseticida microbiológico consegue quebrar o ciclo de vida de diferentes populações da Helicoverpa armigera — explica Artur Junior, responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento da Simbiose Agro.
Com sede em Cruz Alta, no noroeste do Estado, a empresa passou a produzir insumos microbiológicos em 2010. Mas foi há dois anos que sentiu o real potencial desse mercado, com aumento na procura. Hoje, a empresa tem 27 defensivos e biofertilizantes à venda.
— O controle biológico veio para ficar, seja em uso isolado ou em complemento à ação química – pondera Junior.
Readaptação após quase três décadas
A última vez que o agricultor Jorge Elon Kellermann, 52 anos, havia tentado controlar pragas com produtos biológicos foi há quase 30 anos. Na época, fazia a moagem de lagartas contaminadas e misturava os resíduos no pulverizador.
— Era uma fabricação caseira e muito trabalhosa — lembra Kellermann, que vive em Fortaleza dos Valos, no Noroeste.
Desde então, passou a usar defensivos químicos pela “facilidade e eficiência” . Nesta safra, porém, resolveu apostar novamente no controle biológico, com fórmulas elaboradas industrialmente. Ao tomar conhecimento de um biodefensivo para controle de lagartas, resolveu aplicá-lo em 40 dos 130 hectares de soja.
— Funcionou muito bem — conta.
Com o resultado, ele planeja aumentar o uso de biodefensivos na próxima safra, com o teste de fungicidas e nematicidas. O estímulo vem do custo 25% mais baixo em relação aos agroquímicos, e do menor impacto à saúde e ao ambiente.
— Além de baratear o custo de produção, ficarei menos exposto a ação de produtos nocivos à saúde — diz Kellermann, que está na metade da colheita da soja, com média de 65 sacas por hectare.
ZH Joana Colussi 24/03/2015
Imagem: G1.Globo