MERCADO

Produtores e revendas de Goiás reclamam da falta de crédito

Produtores e revendas de Goiás reclamam da falta de crédito


A comercialização antecipada de fertilizantes e defensivos para o plantio da safra 2015/16 de soja na região Centro-Oeste do país está sendo prejudicada pela restrição de crédito do Banco do Brasil, de acordo com informações de produtores e da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas (Andav).

“A paralisação é total”, afirmou o diretor da Andav em Goiás, Benjamin de Sousa Junior. Na mira dos agricultores estão os recursos com juros subsidiados pelo governo, e o Banco do Brasil é o principal agente das liberações desse dinheiro. “Em outros anos, nessa época o Banco do Brasil já estava recebendo proposta e até liberando o custeio. O produtor ia na distribuidora e já fazia compra à vista”, disse Sousa Junior.

A temporada 2014/15 ainda está em fase de colheita das culturas de verão e de plantio das chamadas segundas safras, mas, como de costume, muitos agricultores do Centro-Oeste já estão planejando o que fazer no próximo ciclo. Assim, a ideia é que boa parte dos insumos de 2015/16 sejam comprados neste primeiro semestre, de forma mais planejada e, normalmente, com melhores condições de preços e de logística para a entrega.

“Esses pré-custeios eram liberados mais cedo. Nesta época já deveria estar acontecendo… Está havendo alguns negócios [de insumos] ainda com dólar mais baixo. Seria importantíssimo uma aceleração [das liberações]”, disse Arlindo Cancian, presidente do Sindicato Rural de Canarana, no nordeste de Mato Grosso. Procurado, o Banco do Brasil não se manifestou.

De acordo com cálculos da Aprosoja, associação que representa produtores de grãos de Mato Grosso, o percentual de empréstimos vindos de bancos federais para financiar suas atividades foi de 19% em 2014/15.

Em entrevista coletiva concedida na segunda-feira desta semana, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, chegou a dizer que desconhecia problemas na liberação de recursos. “Eu desconheço esse tema”, afirmou ela ao ser questionada sobre eventuais problemas no chamado pré-custeio. Kátia Abreu reforçou, por outro lado, que ainda sobram recursos do Plano Safra 2014/15.

Produtores e empresas aguardam detalhes sobre o Plano Safra 2015/16, especialmente sobre as taxas de juros das linhas de crédito. O anúncio pelo governo, como já informou a ministra, deverá ser antecipado para maio. Para efeito de crédito rural, a safra 2015/16 terá início no dia 1º de julho. “Ajustes em termos de juros, isso é normal, devido o aumento geral de juros do país, mas não faltarão recursos”, afirmou a ministra mais de uma vez.

O Plano Safra 2014/15, que começou a vigorar em 1º de julho de 2014 e terminará em 30 de junho próximo, teve uma taxa média de juros de 6,5%. De acordo com o vice-presidente institucional da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), Bartolomeu Braz, se houve crédito rural à disposição, mesmo para o chamado pré-custeio, os juros cobrados têm de ser os que foram fixados para 2014/15. “A não ser que eles tenham cortado o crédito para que os novos custeios sejam feitos após a elevação dos juros”, disse.

Um levantamento realizado pela Faeg em todas as regiões produtoras de Goiás detectou agricultores com dificuldades para a obtenção de crédito no Banco do Brasil para a aquisição de insumos para a safra 2015/16. “Os produtores têm reclamado muito, porque é um momento de planejamento da safra. Eles estão preocupados, não sabem o que vai acontecer”, reforçou Braz.

Benjamin de Sousa Junior, diretor da Andav, afirmou que, na prática, há algumas linhas disponíveis no banco, mas com taxas de juros de 16% ao ano, o que torna a tomada de recursos inviável. Para os recursos com taxas subsidiadas e controladas, disse ele, não havia autorização do banco para o recebimento de propostas. “Mas, mesmo que pegue proposta hoje, o produtor não sabe se o dinheiro vai sair e a qual taxa”, afirmou Sousa.

Segundo a Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (AMA), há vários fatores que justificam uma cautela maior dos agricultores neste momento, inclusive para a compra de insumos. “Está havendo uma retirada menor de fertilizantes. O agricultor está aguardando uma definição do dólar, dos preços das commodities e dos fertilizantes”, disse Carlos Florence, diretor da entidade. “Não dá para colocar a responsabilidade [sobre a liberação de crédito] no Banco do Brasil… Eventualmente pode haver casos pontuais”.

Valor,  26/03/2015

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