MERCADO
Esqueça o conselho da Syngenta. A Monsanto precisa influir na opinião pública
Esqueça o conselho da Syngenta. A Monsanto precisa influir na opinião pública
O conselho administrativo da Syngenta AG está relutante em aceitar a oferta de aquisição da Monsanto Co. por US$ 45 bilhões. Talvez seja ainda mais difícil convencer ambientalistas e reguladores.
Ativistas da política alimentícia em ambos os lados do Oceano Atlântico estão se preparando para se opor à transação que fortaleceria a Monsanto na Europa e consolidaria seu domínio nos EUA. Eles argumentam que uma Monsanto maior poderia pressionar fazendeiros, reduzir a diversidade genética na agricultura e dificultar aos governos o controle dos organismos geneticamente modificados (OGM).
A resistência dos grupos não governamentais poderia criar obstáculos políticos significativos para qualquer aquisição feita pela Monsanto, que provavelmente também enfrentará uma análise antitruste. A transação poderia unir consumidores que se preocupam com o que comem – pessoas que compram produtos orgânicos e rejeitam o que percebem como alimentos convencionais e inferiores – e alguns agricultores preocupados com dar muito poder a uma única corporação.
“Da perspectiva da saúde pública e do meio ambiente, isso é um desastre absoluto”, disse Bill Freese, analista de ciência política do Center for Food Safety, um grupo ativista em Washington. “Quanto mais eu analiso isso, mais me preocupo e mais necessário é se opor”.
A Syngenta, maior produtora mundial de produtos químicos para plantações, como pesticidas, rejeitou oficialmente no dia 8 de maio uma oferta de aquisição da Monsanto avaliada em 449 francos suíços por ação, ou 41,7 bilhões de francos (US$ 45,1 bilhões). A empresa americana, a maior produtora de OGM do mundo, disse em resposta à recusa que uma fusão “ofereceria um valor significativo”.
Atualmente, a Monsanto está ponderando aumentar sua oferta, segundo fontes do setor. A empresa não quis comentar sobre uma potencial oferta maior nem sobre a oposição à transação. Os representantes da Syngenta não puderam ser contatados imediatamente.
Reputação
A Monsanto enfrenta desafios por sua reputação, não só pela transação com a Sygenta. No último estudo realizado pela empresa de pesquisa Harris Interactive sobre a percepção pública das cem companhias americanas mais proeminentes, a Monsanto foi a 97° colocada. No ano passado, a revista Modern Farmer, publicação adorada pelos amantes da comida e do comércio justo de Willamsburg até West Hollywood, publicou uma matéria com o título “Why Does Everyone Hate Monsanto?” (“Por que todos odeiam a Monsanto?”, em tradução livre).
Uma das maiores preocupações é a diversidade das safras: uma empresa maior acabaria acarretando a redução das variedades de sementes disponíveis para os agricultores, dizem opositores como Freese. Outra é que a companhia fusionada possa incentivar um uso maior de herbicidas ao combinar o arsenal de herbicidas da Syngenta com o poder de marketing e a experiência no desenvolvimento de culturas da Monsanto.
É provável que os OGM sejam um ponto crítico particular na Europa. Seus defensores argumentam que eles podem produzir rendimentos maiores e incorporar características úteis, como a resistência a insetos, o que reduziria a necessidade de usar pesticidas químicos sem gerar riscos à saúde maiores do que os que são causados por outras técnicas de cultivo.
Ironia
A Monsanto tem sido uma das principais defensoras da tecnologia. Seus cientistas estiveram entre os pioneiros da modificação genética de células de plantas no começo da década de 1990, e a empresa tem feito um lobby vigoroso pela utilização delas.
No entanto, os responsáveis pela política da Europa não foram influenciados. A maioria dos OGM está proibida na União Europeia devido ao que os ativistas chamam de efeitos incertos sobre a saúde e o meio ambiente. Em 2012, a BASF SE da Alemanha – cansada da hostilidade do público contra as safras geneticamente modificadas – interrompeu a pesquisa sobre elas na Europa e transferiu as operações restantes para os EUA, onde são amplamente utilizadas.
Ironicamente, uma transação com a Syngenta, que tem expressado menos entusiasmo em relação aos OGM, poderia melhorar a reputação da Monsanto, disse Jeremy Redenius, analista da corretora Bernstein. Apesar dos comentários desfavoráveis a alguns dos seus produtos e do impacto documentado dos pesticidas sobre a saúde, a empresa suíça tem um perfil menos negativo, disse Redenius.
A transação daria à Monsanto uma variedade de produtos menos polêmicos, e “talvez eles possam deixar de usar o nome Monsanto” depois da operação, disse Redenius. “Não sei se eles adotariam o nome da Syngenta, mas é uma oportunidade”.
Infomoney, 13/05/2015