Depois de recusar as propostas de aquisição feita pela americana Monsanto, a multinacional suíça Syngenta anunciou ontem a intenção de se desfazer de seu negócio de sementes de vegetais. Conforme a companhia, a decisão faz parte de um conjunto de ações destinadas a “acelerar a criação de valor ao acionista” e inclui um programa de recompra de ações de mais de US$ 2 bilhões, que deve ter início nas próximas semanas.
Em comunicado feito ontem, a Syngenta destacou a liderança, a alta margem e a presença global significativa de sua divisão de sementes de vegetais, que inclui hortifrútis. Entretanto, esse negócio gerou em 2014 vendas de apenas US$ 663 milhões, o equivalente a menos de 5% da receita total da companhia, de US$ 15 bilhões, o que tende a reforçar o interesse em se concentrar em segmentos que contribuem com uma maior parte do faturamento, como sementes de soja e milho.
Maior empresa de agroquímicos do mundo, a Syngenta resistiu firmemente às investidas da Monsanto. Líder global em sementes, a Monsanto tinha interesse em complementar seu portfólio de defensivos agrícolas, ofuscado nos últimos anos pelo desempenho mais expressivo de suas variedades de sementes geneticamente modificadas.
Assim, em maio deste ano, a Monsanto ofereceu US$ 45 bilhões pela rival, que rejeitou a proposta, considerando que esta “subavaliava” a empresa. A múlti voltou à carga em junho: prometeu pagar à Syngenta US$ 2 bilhões em multa caso a aquisição não fosse adiante por falta de aprovações regulatórias, uma vez que crescia o ceticismo sobre o aval das autoridades antitruste.
Semanas de negociações informais se seguiram, permeadas por notícias sobre a insatisfação de parte dos acionistas com a resistência da Syngenta em negociar e rumores de que a alemã Basf também poderia fazer uma oferta pela empresa. A própria Monsanto cogitou redirecionar a mira para a divisão agrícola da Bayer, caso o acordo com a suíça não vingasse. A derradeira movimentação aconteceu no fim de agosto, quando a Syngenta negou mais uma oferta da Monsanto, desta vez de US$ 47 bilhões.
“Espero atualizar os acionistas nos próximos meses a respeito do progresso [nas negociações do portfólio de sementes de vegetais], inclusive fornecendo ainda mais a visibilidade sobre a rentabilidade de nossa carteira de ativos”, afirmou no comunicado o CEO da Syngenta, Mike Mack. O executivo reiterou a confiança em atingir a meta de 24% a 26% de margem até 2018.
Valor, 04/09/2015