ENTREVISTA
Brasil representa 70% do mercado da América do Sul para Adama, segundo Romeu Stanguerlin (diretor de Marketing)
Brasil representa 70% do mercado da América do Sul para Adama, segundo Romeu Stanguerlin (diretor de Marketing)
O diretor de Marketing da Adama, Romeu Stanguerlin, concedeu entrevista para o portal Global Agrochemicals. Romeu é graduado em Agronomia pela Universidade de Passo Fundo, possui MBA em Marketing e Finanças pela Fundação Dom Cabral e realizou o Leadership Program pela Universidade de Purdue – USA. Está na Adama desde 2014, após uma longa passagem pela Syngenta.
1 – Segundo dados provenientes da própria Adama, a empresa registrou no primeiro semestre de 2017 um crescimento no lucro líquido de 13%, principalmente devido ao aumento das vendas na Ásia e América do Norte, já na América do Sul houve decréscimo das vendas. Quais foram os principais fatores que prejudicaram a performance na América do Sul e quais medidas estão sendo tomadas para retomar as vendas?
O Brasil representa 70% do mercado da América do Sul e, apesar de termos tido no primeiro semestre uma leve queda nas vendas, conforme apontam os números públicos da empresa, nós conquistamos market share quando comparado com o mesmo período do ano passado – o que também é bastante relevante para a estratégia da empresa.
No mercado brasileiro temos três questões que devemos olhar com cuidado: primeiro, os altos estoques de produtos na rede de distribuição; o segundo é a falta de liquidez de parte dos agricultores e redes de distribuição, sendo que quando falta crédito os produtores investem menos, afetando o mercado. O terceiro é a significativa entrada de produtos contrabandeados sem fiscalização pelas fronteiras secas. Mas o mais importante para a Adama é que, mesmo com esse cenário, a companhia tem mantido seu ritmo de crescimento dos últimos anos, com o desenvolvimento de novos produtos diferenciados e de tecnologias digitais. Além disso, buscamos ser ágeis e oferecer as melhores alternativas a todos. Por exemplo, oferecemos aos agricultores a possibilidade de fazermos Operações de Trocas de grãos com opções de alta (em que se o preço subir o agricultor se beneficia da alta) ou de baixa (em que se o preço cair o agricultor nos paga usando o menor preço da commodity). Em breve esperamos realizar até 30% de nossos negócios por meio de Trocas. Essas iniciativas demonstram uma companhia sólida e comprometida com os produtores no trabalho de, cada vez mais, facilitar a vida no campo e auxiliar na produtividade.
2 – Os mercados chinês e indiano de defensivos estão sofrendo fortes alterações seja por políticas ambientais mais rígidas na China ou implementação de novas tarifas na Índia (GST). Como a Adama enxerga o futuro da produção e venda de defensivos nestes países no curto e médio prazo?
Após um período de baixas nos preços causados por excesso de oferta, os preços e volumes de produtos químicos aumentaram no primeiro semestre de 2017. Isso se deve ao aumento dos preços do petróleo, bem como da demanda registrada no primeiro trimestre de 2017, principalmente da China e dos EUA.
Com relação aos custos, a situação é crítica, pois após aumentos no quarto trimestre de 2016, os preços dos produtos na Índia e China continuaram a subir em 2017 devido às regulamentações e às inspeções ambientais mais rigorosas, que resultaram em grandes interrupções no fornecimento e escassez de matérias primas.
A realidade que vemos hoje é um aumento no valor das matérias-primas e, em consequência, acréscimo nos preços dos produtos para os agricultores.
3 – A ferrugem asiática é um problema que está sendo amplamente debatido e tem prejudicado as safras de soja no Brasil. Quais são as principais dificuldades em enfrentar esse vilão e como a Adama está buscando novas soluções para o problema, visto que muitos fungicidas já perderam a eficácia contra o Phakopsora pachyrhizi?
A ferrugem asiática é, sem dúvidas, uma das mais destrutivas doenças da soja, responsável por perdas de até 80% das lavouras. Como foi dito, a maior dificuldade encontrada no combate à ferrugem é a perda de eficácia dos produtos disponíveis no mercado, ano após ano, além da detecção de casos de resistência aos produtos tradicionais.
Para auxiliar o agricultor nesta luta contra a ferrugem asiática, obtivemos recentemente o registro do fungicida Cronnos. Nesta safra faremos o pré-lançamento do produto com uma série de atividade e áreas comerciais em todas as regiões do Brasil. O grande diferencial do Cronnos é o fato de contar com a combinação tripla de princípios ativos com um protetor. Por possuir estes três princípios ativos em sua formulação, ele protege a planta por completo, já que estes mecanismos atuam diretamente no fungo e dificultam sua entrada na planta. Além disso, por ser um produto simples para o agricultor utilizar, evita as misturas de tanque que causam a incompatibilidade química e entopem os bicos dos pulverizadores.
4 – A Adama disponibilizou várias tecnologias para os agricultores, tais como: Adama Alvo, Adama Wings e Adama Clima. No Brasil, como está sendo a modernização nas lavouras nesses últimos anos? Em termos de tecnologias aplicadas ao campo, o que falta para o Brasil modernizar ainda mais?
Apesar de termos tido um grande avanço na chamada agricultura 4.0 no Brasil, ainda temos alguns desafios para realmente decolar no tema. O principal deles é vencer os gargalos de infraestrutura para a transmissão de dados que são coletados no campo. A cobertura de sinal celular (GPRS/GSM) ainda é bastante restrita em áreas rurais, o que dificulta e restringe a transmissão de dados.
Por isso, acreditamos que o futuro da agricultura 4.0 no País vai ser alavancado pela utilização de IoT (Internet das Coisas) e que vai haver uma menor (ou mínima) dependência de redes celulares para a coleta e transmissão de dados no campo, uma vez que serão utilizados outras tecnologias de transmissão baseadas em arquiteturas de sistema distintas (como redes LPWAN, que transmitem dados através de sistemas de rádio com baixo consumo de energia e tamanho dos componentes, possibilitando que sejam instalados diretamente nas lavouras).
5 – Cada vez mais questões de sustentabilidade estão sendo discutidos no Brasil e em diversos países do mundo, não só na aplicação de defensivos, mas também na sua própria produção e descarte das embalagens. Neste contexto, quais são as práticas da Adama quanto a práticas de sustentabilidade no Brasil, e quais devem ser as tendências para o futuro?
Para a Adama, as boas práticas de sustentabilidade são parte fundamental do processo, desde a fabricação de produtos até o descarte das embalagens. Alinhado a isto, temos diversas ações em nossa área industrial, como:
– Certificação ISO 14.0001
– Gerenciamento de resíduos
– Auditoria Fornecedores ambientais
– Reserva ambiental – 70.000m²
– Indicadores ambientais (geração de resíduos)
– Análise de água da chuva
– Treinamentos para os colaboradores
– Utilização de lâmpadas de LED na área industrial
Além disso, a Adama possui parceria com o INPEV – Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, sendo o Brasil um País referência no processo de logística reversa – de acordo com o INPEV, 94% das embalagens primárias de defensivos comercializadas têm destinação ambientalmente adequada.
Para o futuro, temos em vista algumas tendências, como o lançamento de novos produtos “verdes”, a captação de água da chuva (novo armazém) e também a utilização de energias limpas, como a energia solar.
As linhas de créditos no Brasil estão indefinidas e muitas cooperativas estão com restrição e altos estoques, além dos preços no mercado internacional de algumas commodities agrícolas estarem pouco competitivos. Este cenário pode prejudicar principalmente as redes de distribuição. Como a Adama vê a situação atual do mercado e quais poderão ser as principais consequências para as redes de distribuição?
Tivemos uma safra com altas produtividades, principalmente de soja e milho, o que significa um aumento da oferta e, por consequência, aumento dos estoques internos e preços menos competitivos no mercado. A nível global, temos ainda uma boa expectativa na safra norte-americana de soja e milho, o que também dificulta a reação dos preços.
Com este cenário de preços de commodities estáveis, somado à dificuldade de crédito e altos estoques na rede de distribuição, a questão do crédito e das garantias deve ser muito bem administradas em toda a cadeia de fornecimento. O foco deve ser melhorar a eficácia e a eficiência nos processos para reduzir os riscos. Por isso mesmo, como já comentamos, a Adama tem ferramentas financeiras que ajudam os nossos clientes a mitigar o risco do negócio.
Equipe Global Agrochemicals, 19/09/2017