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O Brasil precisa garantir que a inovação chegue ao campo com agilidade


 

Pedro Duarte – Engenheiro Agrônomo formado pela ESALQ/USP e especialista em Assuntos Regulatórios de Defensivos Químicos na CropLife Brasil

 

 

 

 

A agricultura brasileira avança em ciência, inovação e sustentabilidade. Mas o desafio agora é garantir que essas soluções cheguem ao produtor rural com a agilidade que a realidade tropical exige.

Apesar do avanço expressivo em tecnologias voltadas à produção de alimentos em nosso clima, o Brasil ainda enfrenta um desafio crítico: a demora para que essas inovações cheguem, de fato, ao campo.

Produzir em nosso ambiente demanda respostas técnicas cada vez mais inovadoras, diante de uma combinação complexa de diversidade biológica, variações climáticas intensas e pressão constante de pragas e doenças — fatores agravados pelas mudanças no clima.

Enquanto a ciência desenvolve soluções eficazes para esse cenário, o produtor rural segue limitado por barreiras burocráticas que atrasam o acesso às tecnologias. A morosidade e a baixa previsibilidade do ambiente regulatório impõem custos diretos, comprometem a competitividade e fragilizam a capacidade de adaptação da agricultura nacional. E as pragas e doenças não esperam.

É nesse contexto que a COP 30, realizada no Brasil, ganha relevância estratégica. Diante dos olhos do mundo, o país terá a oportunidade de demonstrar que a agricultura moderna, baseada em ciência e inovação, é parte fundamental das soluções para os impactos climáticos e para garantir a segurança alimentar global.

Porém, esse protagonismo só será legítimo se vier acompanhado de coerência entre o discurso internacional e a realidade no campo — o que exige um ambiente regulatório mais ágil, previsível e alinhado ao conhecimento técnico já disponível.

O Brasil desenvolveu um modelo de produção fundamentado em ciência e práticas adaptadas à realidade. Plantio direto, recuperação de áreas degradadas, rotação de culturas, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), uso de bioinsumos, Manejo Integrado de Pragas e digitalização são exemplos de estratégias sustentáveis aplicadas. A adaptação de sementes e agroquímicos ao clima quente e úmido, aliada ao uso intensivo de tecnologia, impulsionou ganhos expressivos de produtividade. Segundo o Ipea, a Produtividade Total dos Fatores (PTF) cresceu cerca de 400% entre 1975 e 2021, com média anual de 3,31% — acima do desempenho de economias agrícolas consolidadas.

Esse protagonismo também se reflete em números: em 2024, o agronegócio brasileiro alcançou R$ 2,72 trilhões (23,2% do PIB nacional), com produção estimada em 330,3 milhões de toneladas de grãos. O país abastece cerca de 1 bilhão de pessoas e opera com uma matriz energética 45% renovável — muito acima da média global de 14%.

A experiência no campo comprova que o manejo de pragas e doenças é decisivo para a estabilidade da produção agrícola. Sem controle adequado, a ferrugem asiática pode causar perdas de até 90% na soja. Pragas como percevejos e lagartas reduzem a produtividade em até 50%, enquanto infestações comprometem até 34% da colheita de milho e 20% da produção de cana. Esses dados reforçam o papel essencial dos defensivos agrícolas na proteção do potencial produtivo, especialmente em sistemas intensivos e com baixa tolerância a perdas.

As mudanças climáticas ampliam a complexidade da agricultura tropical. Segundo a Embrapa, cerca de 46% das pragas e doenças no Brasil tendem a se intensificar ou expandir a área de ocorrência — reflexo do aumento de temperatura, instabilidade hídrica e aceleração dos ciclos reprodutivos. Esse cenário exige estratégias mais eficientes de controle, acesso rápido a novas tecnologias e constante atualização técnica.

A inovação tem sido essencial para enfrentar esses desafios. Novas moléculas atuam com menor dose e maior precisão, contribuindo para a sustentabilidade e o desempenho das lavouras. De acordo com o Ipea, até 2029, 85% do crescimento da produção agrícola virá do aumento da produtividade impulsionado por inovação e uso intensivo de insumos — apenas 5% virão da expansão de área. Isso reforça que o futuro da agricultura depende de inteligência tecnológica e que os defensivos agrícolas são ferramentas centrais para garantir a proteção das culturas em um ambiente em rápida transformação.

As empresas de inovação têm direcionado esforços para soluções projetadas especificamente para os desafios do ambiente tropical. Tecnologias são concebidas para manter eficácia mesmo em cenários de estresse climático — como calor extremo, alta umidade e instabilidade ambiental — garantindo o desempenho em condições cada vez mais exigentes.

Nesse cenário, o acesso a tecnologias modernas é ainda mais estratégico. O agravamento do comportamento de pragas e doenças exige respostas mais rápidas e inovadoras. É crucial valorizar ferramentas que viabilizam o manejo fitossanitário — e garantir que elas estejam disponíveis ao produtor no tempo certo.

 

Pedro Duarte 

Engenheiro Agrônomo formado pela ESALQ/USP e especialista em Assuntos Regulatórios de Defensivos Químicos na CropLife Brasil

Fonte da imagem: Freepik

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