COLUNISTAS

Variações do Dólar Antecipam Decisões

BOLETIM AGRO30


Prof. Dr. Marcos Fava Neves

Vinicius Cambaúva

Beatriz Papa Casagrande 

Reflexões dos fatos e números do agro em junho/julho e o que acompanhar em agosto

Na economia mundial e brasileira, o Banco Central publicou no dia 15 de julho mais um Boletim Focus com atualizações dos principais indicadores da economia brasileira, são eles: o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) estimado em 4,00% neste ano e 3,90% no próximo (ambos com alta mensal); o PIB (Produto Interno Bruto) com um crescimento projetado para 2,11% (ligeira alta) em 2024 e 1,97% em 2025 (ligeira queda); o câmbio fechando o ano corrente em R$ 5,22 e em R$ 5,20 o seguinte (os dois em alta); e por último a taxa Selic projetada para ser de 10,50% ao final deste ano e 9,50% no término do próximo (valores em manutenção).

No agro mundial e brasileiro, o índice de preços dos alimentos divulgado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) foi calculado em 120,6 pontos em junho, isto é, sem alteração se comparado ao registrado em maio. Em relação ao mesmo mês de 2023, o valor é 2,1% menor. A alta dos óleos vegetais, açúcar e laticínios equilibraram a queda dos cereais. Enquanto isso, as carnes ficaram mais uma vez com o índice praticamente inalterado. O aumento dos óleos vegetais (+3,1%) foi devido, principalmente, a demanda aquecida pelos óleos de soja e girassol, tanto pelo setor de biocombustíveis nas Américas, quanto pela oferta restrita de exportação na região do Mar Negro. Já a valorização do açúcar (+1,9%) se deve a estimativas de colheita abaixo do esperado no Brasil, chuvas irregulares na Índia e menores rendimentos na União Europeia. Os laticínios (+1,2%) subiram, em grande parte, por conta dos preços da manteiga, que foram sustentados pelo aumento da demanda e quedas sazonais em importantes produtores. Por outro lado, os cereais (-3,0%) seguiram em declínio: o trigo devido a pressão das colheitas no Hemisfério Norte e o milho em decorrência de maiores perspectivas de produção na Argentina e no Brasil, bem como maior área esperada nos Estados Unidos. Por último, as carnes mantiveram o patamar porque a ligeira retração da carne de aves foi compensada pelo aumento moderado da carne bovina, suína e ovina.

No 10º levantamento da safra de grãos 2023/24 no Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) elevou a oferta total no país: no mês passado, era de 297,5 mi de t e foi a 299,3 mi de t neste mês; se confirmada esta produção, a safra será 6,4% menor do que a passada e a distância segue diminuindo com a melhora das condições nos cultivos de safrinha. Em termos de área, a Conab indicou 79,8 mi de ha, 200 mil ha mais do que no último mês; e um crescimento de 1,5% no comparativo com 2022/23.

No milho, o relatório de julho do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) ampliou a estimativa da oferta em 2024/25 (safra já em andamento nos EUA e que será plantada a partir de set/out no Brasil): em junho, a produção total estava estimada em 1,220 bi de t e agora foi a 1,224 bi de t, 4,0 mi de t adicionais em um mês e praticamente o mesmo volume de 2023/24. O grande reajuste veio para os EUA, maior produtor do grão, que pulou de 377,5 (junho) para 383,6 (julho) mi de t, 1,6% menor do que o ciclo passado. Nos demais países de importância global, as estimativas foram mantidas: na China em 292,0 mi de t (+1,1% que 23/24); no Brasil em 127,0 mi de t (+4,1%); na União Europeia em 64,0 mi de t (+4,9%); e Argentina em 51,0 mi de t (-1,9%). Nas exportações, o Departamento indica que os EUA devem embarcar 56,0 mi de t em 2024/25 (+1,0%) e voltar a superar o Brasil como maior exportador global; os embarques brasileiros devem somar 51,0 mi de t (igual ao último ciclo). Já os estoques finais devem ficar em torno de 311,6 mi de t, alta anual de 0,8%. Chama atenção o movimento crescente dos estoques nos últimos ciclos, a ver: 2022/23, 302,3 mi de t; 2023/24, 309,1 mi de t; e 2024/25, 311,6 mi de t – aí vemos o motivo dos preços seguirem em queda.

No Brasil – e ainda relativo à safra 2023/24 – a Conab atualizou a produção nacional de milho de 114,1 mi de t (relatório de junho) para 115,9 mi de t (julho), reajuste de 1,8 mi de t que se dá graças ao avanço da colheita do cereal no país e bons resultados de produtividade. Ainda assim, a oferta nesse ciclo deve ser 12,2% inferior à do passado, ou 16 mi de t a menos. A produção for período está estimada da seguinte forma: 1ª safra com 23,4 mi de t (-14,4%); 2ª safra com 90,0 mi de t (-12,1%); e 3ª safra com 2,4 mi de t (+ 11,8%), um avanço interessante possibilitado em áreas irrigadas. A área total de milho está estimada em 20,9 mi de ha, uma queda de 6,3% em comparação com 22/23 graças ao desestímulo gerado pelos menores preços do grão.

A colheita do milho safrinha segue a “todo vapor” pelo Brasil. Até 14 de julho, a Conab indica que 74,2% das áreas cultivadas já haviam sido colhidas, bem acima dos 39,3% registrados no último ciclo. Os estados mais avançados são: Mato Grosso com 94,1% (2023: 67,6%); Tocantins com 75,0% (2023: 60,0%); e Paraná com 66,0% (2023: 4,0%). Entre os 9 estados mais relevantes – juntos somam 91% da área cultivada no país – o único que está atrasado no comparativo com 2023 é o Maranhão (2024: 36,0%; 2023: 50,0%). Das áreas ainda no campo, apenas 1,1% estão sob enchimento de grãos e 24,6% em maturação. Os números indicam uma tendência de conclusão nas operações até o próximo mês.

Nos Estados Unidos (safra 2024/25), o USDA avalia a condição das lavouras até 14 de julho da seguinte forma: média em 23,0% (2023: 30%); boas em 52% (2023: 46%); e excelentes em 16% (2023: 16%). Em geral, as condições estão melhores do que no último ano, o que reforça a oferta do grão.

Em mais um mês, as negociações do milho em Chicago registram queda. O contrato de dez/24 estava cotado em U$ 4,056/bushel na data de fechamento da nossa coluna, queda mensal de 9,3% (era US$ 4,473/bushel).

Na soja, o 3º relatório do USDA apontou um leve ajuste na oferta global de soja em 2024/25: de 422,3 (junho) para 421,9 mi de t (julho), volume que, caso confirmado, irá representar uma alta de 6,7% na oferta em um ano; ou 26,5 mi de t adicionais (praticamente metade do que a Argentina, o 3º maior produtor global, entrega ao mercado anualmente). O leve reajuste mensal veio do único grande produtor em atividade, os Estados Unidos, onde a estimativa foi reduzida em 400 mil t e está agora em 120,7 mi de t (+6,5%). Brasil segue com 169,0 mi de t estimados (+10,5%) e Argentina com 51,0 mi de t (+3,0%) – safras ainda não iniciadas. Nas exportações, o órgão americano prevê uma alta de 5 mi de t nos embarques, somando 180,2 mi de t transacionadas, onde: Brasil segue na liderança com 105,0 mi de t (+1,9%; e 58,3% do mercado); Estados Unidos vem em 2º com 49,7 mi de t (+7,3%; 27,6% de share); e o Paraguai como 3º maior exportador, somando 6,8 mi de t (mesmo valor de 23/24; 3,8% de participação). Os estoques finais da soja também acumulam crescimento, destacando: 2021/22, 92,6 mi de t; 2022/23, 100,6 mi de t; 2023/24, 111,3 mi de t; e 2024/25, 127,8 mi de t (+14,8% no comparativo com o último ciclo). Muita soja no mercado; pouca reação de preços!

Já a Conab (ainda relativo a 2023/24) manteve a estimativa de 147,4 mi de t de soja, 4,7% inferior ao ciclo passado e 7,2 mi de t a menos. A área também foi mantida conforme os últimos relatórios, em 46 mi de ha, 4,4% superior ao da última safra. Vale lembrar que os números da soja devem seguir com poucas alterações nos próximos 2 relatórios, uma vez que o cultivo já foi concluído (verão) e segue-se o vazio sanitário em diferentes regiões do país.

Na mega safra americana, até 14 de julho, as condições da soja estavam: médias em 24,0% (2023: 32,0%); boas em 56,0% (2023: 47,0%); e excelentes em 12,0% (2023: 8,0%). Também na soja, o desenvolvimento é bastante positivo, com percentuais baixos/médios passando a bons/excelentes (USDA).

O mercado futuro da soja também seguiu tendência baixista. O contrato para entrega em ago/24 estava cotado em US$ 10,96/bushel, redução de 6,6% em 30 dias (antes, estava em US$ 11,75/bushel).

No algodão, na safra global 2024/25 (que se inicia em 1º de agosto), o USDA reajustou para cima a oferta de algodão: de 25,9 mi de t (junho) para 26,2 mi de t (julho), alta de 5,6% no comparativo com 2023/24 ou 1,4 mi de t adicionais da pluma. China segue na liderança da produção com 5,98 mi de t (igual a 23/24), seguido de Índia com 5,44 mi de t (-4,6%), Estados Unidos – que reassume a 3ª posição, ocupada no último ciclo pelo Brasil – com 3,70 mi de t (+ 41,2%); e Brasil em 4º com 3,63 mi de t (+14,5%). Embora a situação da oferta acenda um “alerta” no mercado, já que teremos de volta um grande volume da pluma americana (que sofreu com o clima no ciclo passado), junto a aumento nas áreas no Brasil e outros países, o consumo e as importações trazem um certo conforto. Isso porque a demanda global deve crescer 4,0% em 2024/25 (25,5 mi de t) e as importações aumentam em 3,0% (9,71 mi de t). Falando em embarques, Estados Unidos e Brasil devem competir o podium no novo ciclo: os americanos devem vender 2,83 mi de t da pluma (+12,3%), enquanto O Brasil, 2,72 mi de t (+1,9%). Os estoques finais de algodão devem fechar 2024/25 em 18,0 mi de t, 4,0% superior a 2023/24 ou 800 mil t adicionais. Vamos ter atenção aos preços!

Ainda em 2023/24, a Conab manteve a estimativa de produção de algodão no mesmo nível do último relatório: 3,6 mi de t da pluma, 14,6% superior a 22/23 e 460 mil t adicionais. Em relação a área, 1,94 mi de ha estão sendo (ou foram) cultivados com algodão no país, 16,9% a mais do que no último período ou 280 mil ha adicionais. O preço atrativo em vista da menor oferta da pluma em outros players relevantes, como os EUA, foi o principal motivador das altas.

No campo, a colheita brasileira do algodão tem apresentado progresso nos últimos dias. Até 14 de julho, a Conab estima que 16,7% das áreas totais da pluma haviam sido colhidas no país, contra 11,2% no mesmo período de 2023. Mato Grosso do Sul é o estado com progresso mais avançado, de 46,0% (2023: 23,0%); seguido de Goiás com 42,0% (2023: 30,0%); e Minas Gerais com 33,0% (2023: 32,0%). Nos 2 maiores produtores, o Mato Grosso registra avanço de 12,8% (2023: 7,0%) e a Bahia de 24,9% (2023: 20,4%) – ritmo de colheita bastante favorável. Dos campos ainda não colhidos, 3,7% estão em formação das maçãs e 79,7% em maturação. Um grande volume de algodão deve chegar ao mercado nestes próximos 30 dias.

E a boa oferta nacional possibilitou mais uma grande notícia no último mês: o Brasil superou os Estados Unidos e se tornou o maior exportador global de algodão em 2023/24, o que estava estimado apenas para 2030. Segundo a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), nosso país deve embarcar 2,6 mi de t da pluma. Com 60,0% da produção já comercializada, a tendência é que a maior parte do produto seja destinado ao mercado externo, já que a indústria têxtil nacional segue com demanda estável nos últimos anos.

Nos Estados Unidos, o USDA indicou que até 14 de julho, as condições dos campos de algodão eram: médias em 32,0% (2023: 27,0%); boas em 37,0% (2023: 38,0%); e excelentes em 8,0% (2023: 7,0%). Na pluma, as lavouras seguem praticamente com as mesmas condições do ciclo passado. Vamos acompanhar.

Em Chicago, o contrato para entrega do algodão em dez/24 estava cotado em 70,79 centavos de dólar por libra-peso, uma leve redução de 2,9% na comparação com as negociações há 30 dias (72,92 cts lb).

Nos demais setores, nas culturas de inverno, a Conab fez um leve reajuste na oferta total: era de 10,9 mi de t em junho e foi a 10,8 neste relatório, graças aos impactos do clima na região Sul do país. Ainda assim, a oferta total será 11,4% superior, com destaque para os cultivos de trigo (9,0 mi de t; +10,6%), aveia (1,10 mi de t; +12,3%) e cevada (473,4 mil t; +21,1%). No campo, as lavouras de trigo estão: 15,9% em emergência; 55,7% em desenvolvimento vegetativo; 11,7% em floração; 6,9% em enchimento de grãos; 6,2% em maturação; e 3,5% foram colhidos – operações iniciadas no Centro-Oeste, onde o ciclo é adiantado (GO: 70%; e MG: 14,0% das áreas colhidas).

O Índice de Poder de Compra de Fertilizantes (IPCF) calculado pela Mosaic Fertilizantes alcançou 1,05 em junho, um aumento mensal de 8,0% (era 0,97 em maio). Isso significa uma relação de troca mais apertada para os produtores na hora de adquirir fertilizantes para a safra 2024/25. Essa elevação é atribuída ao aumento médio de 5,0% nos preços dos fertilizantes, incluindo uma alta de 15,0% na ureia, 5,0% no fosfato monoamônico (MAP) e 4,0% no superfosfato simples (SSP). Além disso, os preços das commodities foram menores e o dólar subiu cerca de 5,0%.

No 2º semestre de 2023, a capacidade de armazenamento agrícola no Brasil aumentou 4,7%, alcançando 210,9 mi de t, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima um déficit de armazenagem superior a 120 mi de t, representando cerca de 37,0% da produção total. Essa lacuna na infraestrutura provoca perdas significativas para o agronegócio, totalizando até R$ 11,5 bi anuais em milho e R$ 19 bi em soja. No total, cerca de R$ 30,5 bi são perdidos devido à deterioração dos grãos, problemas de escoamento e longas esperas nos portos. Além disso, a falta de infraestrutura adequada torna os produtores mais vulneráveis, já que não podem escolher o melhor momento para vender seus produtos e ficam expostos à volatilidade dos preços.

As exportações do agronegócio brasileiro alcançaram R$ 15,2 bi em junho, sendo apenas 2,2% menores do que o mesmo mês do ano anterior (US$ 15,5 bi), de acordo com dados da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (SCRI/Mapa).

Olhando para o 1º semestre de 2024, as vendas externas atingiram o valor de US$ 82,4 bi, o 2º maior da série histórica, sendo US$ 400 mi menor do que o recorde registrado no mesmo período de 2023. Os 5 setores que mais contribuíram para esse resultado são liderados pelo “Complexo Soja” com US$ 33,5 bi em vendas, representando 40,7% do total exportado pelo agronegócio. O 2º lugar ficou com as “Carnes” que exportaram US$ 11,8 bi (14,3% do total | +1,6% em relação a 2023), com destaque para a carne bovina que foi recorde em volume nos 6 primeiros meses do ano (1,14 mi de t | +29,1%). Em seguida, o “Complexo Sucroalcooleiro” registrou US$ 9,2 em vendas (11,2% do montante financeiro | +54,1%) devido principalmente ao açúcar que vendeu US$ 8,6 bi (+62,8%). Os “Produtos Florestais” aparecem na 4ª posição com US$ 8,3 bi (10,1% do total | +11,9%) e por último o “Café” alcançou US$ 5,3 bi, equivalendo a 6,4% das exportações e com um crescimento de 46,1% se comparado ao mesmo período do último ano. Esses setores representaram 82,8% das vendas externas do agro brasileiro.

Outros produtos que também se destacaram na 1ª metade do ano foram: o algodão não cardado e não penteado com um recorde de US$ 2,7 bi em vendas ao exterior (+236,0%) e 1,4 mi de t exportadas (+228,0%); e o suco de laranja com US$ 1,25 bi em receita (+24,0%), mais um recorde.

Na atualização do Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária feita pelo Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), o indicador foi revisado para R$ 1,180 tri, sendo 0,7% menor do que o registrado há um ano (R$ 1,188 tri). O protagonismo do crescimento é da pecuária, que aumentou o VBP em 5,3% em um ano, para R$ 379,1 bi. As posições de destaque na pecuária foram os bovinos (R$ 138,1 bi | -4,1%), frango (R$ 98,6 bi | +7,5%) leite (R$ 62,1 bi | -3,8%) e os suínos, que apesar de aparecerem em 4º lugar foram os que obtiveram maior crescimento anual (R$ 54,9 bi | +58,2%). Quanto as lavouras, apesar de apresentarem retração de 3,3%, ainda são as maiores contribuintes no VBP com R$ 801,1 bi. O ranking é liderado pela soja (R$ 279,4 bi | -17,5%), seguida do milho (R$ 118,5 bi | -17,5%) e cana-de-açúcar (R$ 117,8 bi | +2,5%). Enquanto isso, os destaques de crescimento ficam com o cacau (R$ 9,1 bi | +120,5%) e laranja (R$ 31,3 | +50,1%).

O USDA também divulgou em julho a sua atualização trimestral das estimativas das cadeias globais de proteína animal bovina, de frango e suína. Na carne bovina, a produção deve somar 60,75 mi de t, 1,3% superior ao ciclo passado, com destaques para a produção nos Estados Unidos (12,14 mi de t; -1,1%), Brasil (11,35 mi de t; +3,7%) e China (7,8 mi de t; +3,6%). Na suína, a produção total deve ficar em 116,3 mi de t, o mesmo valor de 2023, sendo que os principais players são China (56,8 mi de t; -2,0%), União Europeia (21,2 mi de t; +1,9%), Estados Unidos (12,8 mi de t; +3,2%) e Brasil (4,6 mi de t; +2,5%). Por fim, no frango, a perspectiva é de uma oferta total de 105,3 mi de t, crescimento de 1,6%. Os destaques na produção são os Estados Unidos (21,3 mi de t; +1,0%), o Brasil (15,1 mi de t; +1,3%) e a China (15,0 mi de t; +1,4%). O consumo global deve crescer 1,0% para a carne bovina, cair 0,3% para a suína e crescer 1,2% para a carne de frango.

Nas exportações, o relatório do USDA estima um volume de 12,93 mi de t de carne bovina embarcadas em 2024, alta anual de 6,1%. Os principais vendedores serão: Brasil com 3,3 mi de t (+ 14,2%; 25,5% de participação); Austrália com 1,8 mi de t (+15,4%; 13,9% de share); e Estados Unidos com 1,3 mi de t (-4,5%; 10%). Na carne suína, as exportações devem somar 10,4 mi de t, leve crescimento de 3,2%, sendo que nos principais mercados temos: Estados Unidos com 3,3 mi de t (+6,8%; 31,7% de participação), União Europeia com 3,2 mi de t (-3,0%; 30,3%) e Brasil com 1,4 mi de t (+0,7%; 13,7% do mercado). Na carne de frango, os embarques devem somar 13,84 mi de t, 2,2% a mais. Nos principais mercados, temos: Brasil com 4,9 mi de t (+3,4%; 35,6% de share); seguido dos Estados Unidos com 3,1 mi de t (-7,0%; 22,4%); e União Europeia com 1,8 mi de t (+6,7%; 13,0% de participação). As importações globais devem crescer 5,4% para a carne bovina, cair 0,9% para a suína e cair 1,8% para a carne de frango em 2024.

Falando em proteína animal, recentemente, foi identificado um foco da doença de Newcastle (DNC) em uma granja comercial de aves em Anta Gorda, no Rio Grande do Sul. A doença, que não era registrada no Brasil desde 2006, é altamente contagiosa e atinge tanto aves domésticas como silvestres, causando problemas respiratórios, manifestações nervosas, diarreia e edema na cabeça dos animais. O lote em questão deve ser sacrificado em breve. Entretanto, o Brasil tomou a iniciativa de suspender as exportações de carne de aves do RS, de forma temporária, como medida cautelar. A China importou cerca de 15,0% de toda a carne de frango do Brasil até o momento, em 2024. Vamos acompanhar e torcer para que seja apenas mais um caso pontual, sendo resolvido de forma rápida e sem novos registros.

A indústria do café no Brasil enfrenta dificuldades com a oferta regular do grão para processamento, o que impacta diretamente os estoques e pode levar a um aumento nos preços no varejo. As previsões de falta de chuvas nas principais áreas produtoras do Brasil e a falta de umidade no solo mantém o cenário preocupante. Além disso, a produção de café robusta também enfrenta dificuldades no Vietnã e na Indonésia. O mercado está caminhando para uma situação de escassez, e qualquer frustração de safra pode levar a uma corrida por suprimentos até a próxima colheita.

As chuvas recentes em várias regiões produtoras de laranja do estado de São Paulo, embora ainda abaixo do ideal, trouxeram um alívio para os agricultores. De acordo com o Cepea, nas áreas do sudoeste do estado, onde as chuvas foram mais intensas, os pomares de sequeiro podem começar a florescer devido à redução do estresse hídrico. Em contrapartida, nas regiões onde as precipitações foram limitadas ou inexistentes, ainda é necessária mais umidade para estimular a floração. No que diz respeito às exportações de suco de laranja do Brasil, na safra 2023/24 o Brasil exportou 1 mi de t em forma concentrada, o que representa uma diminuição de 8,1% em relação à temporada anterior, conforme dados do Comex Stat.

O mercado do trigo enfrenta um período de volatilidade e incertezas, impulsionado por fatores climáticos, econômicos e geopolíticos. Há preocupações com a safra em importantes países produtores: o calor intenso ameaça as colheitas na Rússia e Ucrânia, enquanto o excesso de umidade gera alertas na França. Essas variações climáticas, combinadas com a instabilidade do dólar, têm trazido volatilidade aos preços. No Brasil, a principal preocupação dos produtores é o clima, pois o excesso de chuvas nos estágios finais pode reduzir a qualidade do grão e aumentar doenças fúngicas. Segundo o Cepea, a baixa oferta global e a valorização do dólar sustentaram os preços do trigo em junho no mercado interno, mas enquanto isso, os moinhos se mostram abastecidos e sem intenção de grandes compras.

Recentemente, a Associação Brasileira de Alimentos (ABIA) informou que até 2026, o setor deve investir R$ 120 bilhões, sendo que R$ 75 bilhões serão destinados a ampliação e modernização de plantas; e outros R$ 45 bilhões para novas máquinas, equipamentos e pesquisa e inovações no setor.

Concluindo a seção de análise do agronegócio, seguem os preços dos principais produtos na data de fechamento da coluna (19 de julho). Na soja, a cotação para entrega em cooperativa do estado de São Paulo estava em R$ 129,80/sc (60kg), enquanto a entrega em mar/25 era negociada em R$ 117,80/sc. No milho, o preço físico (também entrega em cooperativa de São Paulo), estava em R$ 56,00/sc; enquanto os futuros na B3 para mar/25 registravam R$ 68,82/sc. No algodão, base Esalq, a cotação era de R$ 135,92/@. Outros preços do setor, segundo o Cepea, eram: café arábica em R$ 1.451,58/sc (60kg), alta mensal de 5,9%; o trigo Paraná em R$ 1.502,63/t, 2,5% inferior no comparativo com o mês passado; a laranja para indústria chegou a R$ 80,14/cx (40,8kg), mais um crescimento mensal, agora de 2,3%; e o boi gordo segue estacionado na casa dos R$ 232,75/@, leve alta mensal de 3,4%.

 

Os cinco fatos do agro para acompanhar em agosto são:

  1. O andamento da mega safra americana de grãos. A condição das lavouras de soja e milho seguem acima do percentual médio da safra passada, e o USDA reforça a oferta. Se confirmado este cenário, iniciaremos a safra 2024/25 com grande volume, impactando preços. Olhos para os norte-americanos!
  2. Evolução (e possível conclusão) da colheita do milho safrinha no Brasil; e progresso da colheita do algodão. Até o momento, o cenário é bastante positivo para as duas culturas, e a oferta está chegando aos mercados. Atenção também as questões de armazenagem/logística para escoar essa produção.
  3. Em agosto, geralmente acontece o evento oficial da Conab para divulgação dos primeiros números para a safra 2024/25 no Brasil. Importante acompanhar para termos alguns indicativos das direções ou comportamento dos agricultores brasileiros no próximo ciclo; muitos já se preparam para novo ciclo.
  4. Acompanhar os desdobramentos do caso identificado de doença de Newcastle no Brasil e seus impactos nas exportações de carne de frango. Apesar da suspensão dos embarques, outros mercados podem restringir as compras da proteína brasileira. Temos, ainda, o risco de disseminação da doença, devido ao alto contágio. Vamos torcer para que não passe de um caso isolado.
  5. Por fim, seguir de olho no câmbio, diariamente! Em 02 de julho, ele alcançou R$ 5,68 (máxima desde 2022); e em 19 de julho (fechamento da nossa coluna) estava em R$ 5,60. Aproveitar estes momentos de alta para vender parte da produção é oportunidade diante do cenário desafiador de preço que temos pela frente. Por outro lado, momentos de baixa podem ajudar a “recuperar” bons momentos de compra para quem ainda precisa adquirir insumos para 2024/25, cujo timing já passou. Importante seguir acompanhando a conjuntura global, com destaque para os novos capítulos nos conflitos no Oriente Médio e Rússia/Ucrânia, e as novidades nas eleições globais, especialmente nos Estados Unidos. Planejamento e acompanhamento diário!

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto – SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

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