COLUNISTAS
Visão Geral do Mercado de Pesticidas e Registro de Produtos
Alta e queda de preços, mudanças na distribuição, recorde na aprovação de registros, queda nos preços dos testes laboratoriais de pesticidas.

Flavio Hirata, engenheiro agrônomo pela Esalq/USP, MBA, especialista em registro de agrotóxicos e sócio da AllierBrasil.
A AllierBrasil é uma consultoria de registro de produtos, e promove o agro brasileiro através de exposições, palestras, seminários e visitas técnico-comerciais, na Índia, na China e no Brasil. Em março, a AllierBrasil está realizando o AgriTour China, visitas técnico-comerciais e à feira CAC Shanghai 2026.
O Brasil é líder mundial agrícola – previsão de 354,4 milhões de toneladas de grãos na safra 2025/26 -, com área produtiva de mais de 80 milhões de hectares. O aumento do uso de tecnologias cada vez mais accessíveis, seja em preço e/ou disponibilidade, juntamente com outros elementos, têm resultado em recordes sucessivos na produção de grãos e aumento da produtividade.
Evolução da produção x área x produtividade de grãos no Brasil (2016/17 – 2025/26)

Fonte: Conab; adaptado por AllierBrasil
Esse cenário tem despertado cada vez mais o interesse de empresas estrangeiras e transformado a atuação das empresas locais ao longo dos anos, sobretudo no segmento de pesticidas, tecnologia essencial para produção em escala. Para se ter uma ideia, no início dos anos 2000 eram menos de 20 distribuidores (detentores de registros de pesticidas) e hoje somam mais de 400, com destaque para as empresas de produtos químicos genéricos e, mais recentemente, de produtos biológicos.
O interesse no mercado de pesticidas mudou quando foi regulamentado o registro de produtos equivalentes ou genéricos, cujos primeiros registros foram aprovados a partir de 2006. Isso reduziu o escopo dos testes laboratoriais para fins de registro, cujos valores caíram de US$ 500 mil para US$ 150 mil, e o tempo para aprovação de registro, que foi reduzido para aproximadamente 12-15 meses.
Nem tudo, porém, foi reduzido. O tempo médio para aprovação do Registro Especial Temporário (RET), obrigatório para importação e realização de testes laboratoriais, ultrapassava 24 meses, ou seja, quase o dobro do tempo para aprovação do registro de um produto técnico mais o respectivo produto formulado. Por muitos anos, o RET foi um gargalo para registro de produtos.
A partir de então houve uma corrida para acessar o mercado, principalmente por parte dos fabricantes da China, e um número menor de empresas da Índia, entre fabricantes e traders; e, paralelamente, de distribuidores locais para registrar produtos. Com a aprovação desses registros de produtos genéricos houve uma queda significativa dos preços e, aos poucos, o receio de importar e utilizar produtos da China foi sendo desmistificado.
À medida que mais processos de registros eram submetidos para avaliação junto à Anvisa, Ibama e Ministério da Agricultura, os prazos para aprovação começaram a se dilatar, chegando até 10-12 anos.
Grupos estrangeiros e fundos de investimentos passaram a comprar participações ou aquisição de revendas locais, com muito apetite. Considerando a demora para aprovação de registro, também floresceu o comércio de registro de produtos.
Tudo mudou com a pandemia. A falta de suprimentos, frete marítimo com preços exorbitantes e especulação levaram à escassez de produtos e causaram uma elevação súbita dos preços, chegando até 400%, para pagamento 100% antecipado em alguns casos. Preços elevados e demanda em alta motivaram os fabricantes chineses a ampliar o parque fabril.
Após a pandemia, mais mudanças em curso. Com capacidade de produção muito maior que a demanda, redução dos preços de frete e excesso de estoque local – medida adotada por distribuidores para garantir entrega de produtos em caso de possível escassez. Então veio a queda vertiginosa de preços, que alcançou níveis jamais vistos, ao ponto de os fabricantes venderem a preços de custo, ou até abaixo disso, como forma de manter as fábricas em operação, haja vista que o custo de manutenção de uma fábrica não operante é extremamente elevado. Somado a isto, ocorreu a valorização do real frente ao dólar. Empresas estocadas com produtos mais caros em dólar, e cargos desembarcando com os mesmos produtos com preços em dólar mais barato.
Com preços tão baixos, os exportadores passaram a conceder mais crédito aos distribuidores, com prazos de pagamento mais longos, sem as devidas garantias de praxe. Isso não tende a gerar problemas quando o mercado prospera. Essa prática; todavia, é frágil frente às recuperações judiciais, seja em número de empresas ou em valores, que em alguns casos são astronômicos, com efeito dominó, atingindo todos os elos da cadeia de distribuição, como o mercado enfrenta hoje.
Enquanto isto, o número de aprovações de registros tem batido recordes nos últimos anos, o que deve se repetir em 2025, podendo passar de 900 novos registros. Por outro lado, a demora nas aprovações dos registros tem levado as empresas a ingressarem na justiça para que os pleitos sejam avaliados de acordo com o tempo previsto em Lei. O número de ações tem aumentado consideravelmente nos últimos 5 anos. Hoje, mais de 20% das aprovações de produtos genéricos formulados são aprovados sob ações judiciais. Em 2025, a Anvisa já deferiu 115 avaliações por ordem judicial, e o Ibama, 48 [até 15/12/2025].
O RET deixou de ser obrigatório e somente é exigido para ingredientes ativos novos ou novos usos. Nos últimos dois anos, as exigências regulatórias têm aumentado significativamente, como o SISPA, avaliação de risco, controle de qualidade,… Por outro lado, com a atuação de mais laboratórios BLP no país, o custo para elaboração de um dossiê de produto formulado equivalente foi reduzido de US$ 75 mil para US$ 25 mil, em relação aos preços praticados no início dos anos 2000.
Registros aprovados (2021 – 15/12/2025)

Fonte: MAPA; adaptado por AllierBrasil
Mesmo com as adversidades, o mercado brasileiro tem atraído ainda mais empresas. Do exterior, são fábricas com portfolio reduzido de produtos, grandes formuladores, traders que até então estavam focados no mercado doméstico chinês e sudeste asiático. No Brasil, empresas globais exportadoras de grãos começaram a importar diretamente dos fabricantes da China e Índia; e revendas de médio porte começaram a importar da China. O objetivo em comum é atender o agricultor diretamente, como forma de diminuir elos da cadeia de distribuição e manter margens competitivas, assumindo riscos dos elos frágeis da cadeia de distribuição.
Com o intuito de facilitar a busca por parceiros locais e internacionais, a plataforma look2agroTM disponibiliza contatos de mais de 80 mil empresas da China, Índia e Brasil, de diversos setores do agronegócio.
Para conhecer os fornecedores da China e Índia, a AllierBrasil está organizando o AgriTour China – CAC Shanghai em março de 2026. Serão visitas e reuniões com empresas interessadas no mercado brasileiro e visita a CAC Shanghai, maior feira de agroquímicos do mundo.
Fonte da imagem: Freepik



