ENTREVISTA

Eduardo Leduc, vice-presidente da Basf, fala sobre as tendências para o mercado de defensivos no Brasil e no mundo


Eduardo Leduc é vice-presidente sênior da Divisão de Soluções para Agricultura da BASF para América Latina. Tem formação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e pós-graduação em Marketing pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).

1) Nos próximos 5 anos a Basf pretende produzir até 20 novos produtos para o setor agrícola na Índia e um total de 100 novos produtos na região da Ásia. Qual a estratégia da empresa em investir nessa região? Quais os possíveis reflexos que a Basf pretende ter também aqui no Brasil?

A Ásia continuará a ser o maior mercado do mundo para produção e consumo de produtos químicos. No ano passado, a BASF inaugurou um Campus de Inovação em Mumbai, na Índia, para a realização de pesquisas em proteção de cultivos com investimento de € 50 milhões. A empresa tem feito grandes investimentos nesta região em todas as áreas de atuação, incluindo a Divisão de Soluções para Agricultura.

A Ásia é a região das megatendências globais: a urbanização e a necessidade de oferta segura e sustentável de alimentos estão entre as mais evidentes. China e Índia são grandes fornecedoras de matérias-primas e devem continuar exercendo este importante papel nos próximos anos.

Na Divisão de Soluções para Agricultura, o Brasil é um dos principais mercados para a BASF. Investimentos contínuos e aquisições de novos ativos reforçam o compromisso de manter o Brasil no foco dos negócios da BASF agora e no futuro. A empresa tem mais de 150 anos de história na indústria química e tem suas atividades voltadas à vocação de cada região. Ásia e Brasil têm papeis distintos, mas complementares para que a BASF possa continuar sendo uma empresa líder em inovação.

2) A China iniciou nova etapa no processo de reestruturação ambiental nestes últimos meses e pode impactar novamente na disponibilidade de produtos e preços. Como a Basf vem se posicionando frente a este movimento chinês?

A BASF acompanha os acontecimentos na China, que passa por uma readequação do seu parque industrial. A oferta de matéria-prima aqui no Brasil tem sido afetada desde o ano passado, mas estamos atentos a este movimento para minimizar impactos no fornecimento aos nossos clientes. Isto exige um esforço de planejamento e logística para nos ajustarmos às oscilações de custos e fornecimento de matéria-prima chinesa.

3) O produtor rural busca cada vez mais alternativas para conseguir maior produtividade em sua lavoura e isso pode ser obtido não só por produtos, mas também serviços disponibilizados pelos fornecedores. Quais tipos de benefícios a Basf tem em seu portfólio para contribuir para o crescimento da Agricultura no país?

A BASF entende que o aumento de produtividade é o principal fator para elevar a rentabilidade do produtor rural. E estamos fazendo um grande trabalho para que o agricultor possa obter todo o potencial produtivo das lavouras. Um exemplo, é o Desafio de Produtividade do Comitê Estratégico Soja Brasil, CESB. Produtores que têm alcançado recorde de produtividade nas plantações de soja utilizaram produtos da BASF, especialmente os fungicidas Ativum® e Versatilis®. Na safra, 2017/2018, o campeão nacional alcançou 127,01 sacas por hectare em propriedade localizada em Sarandi no Rio Grande do Sul. Esta marca está 124% acima da média nacional registrada na última safra pela Conab. Resultado de manejo bem realizado pelo agricultor, com a adoção de um pacote tecnológico eficiente.

Atualmente, não basta oferecer somente um produto, seja defensivo ou semente. É preciso oferecer serviços e tecnologias que se complementam visando o resultado final: maior produção na lavoura. Por isso, a BASF investe maciçamente em pesquisa e desenvolvimento. Com as recentes aquisições de ativos, o investimento anual em P&D da Divisão de Soluções para Agricultura ficará em torno de € 1 bilhão, sendo a área da empresa que mais investe em pesquisa. Nos próximos anos, a empresa deve trazer ao mercado novos produtos e tecnologias, para seguir levando inovação ao campo, reforçando o compromisso de longo prazo com o agricultor.

Vale ressaltar, também, o AgroStart, programa de acelaração de startups em parceria com a ACE.  Criado em 2016, o AgroStart tem como principal objetivo encontrar soluções que facilitem a tomada de decisão na cadeia do agronegócio.  Mais de 340 startups de países da América Latina (maioria do Brasil) já se inscreveram no programa.  Destas, cerca de 100 receberam apoio para o desenvolvimento de iniciativas que abrangem desde sistemas de irrigação mais eficientes, monitoramento de pragas e pulverização aérea com drone (entre outras).

A plataforma de agricultura digital xarvio™, recém adquirida pela BASF na ocasião da compra dos ativos da Bayer em agosto, é outro investimento da empresa no segmento de digital farming.

Parcerias também são destaque para levar mais recursos à atividade rural. Uma das parcerias de longo prazo da BASF é com a Embrapa para o melhoramento genético. Este trabalho conjunto ganha novo fôlego com a entrada da BASF no mercado de sementes de soja e algodão recentemente adquiridas da Bayer.

A BASF é referência nas iniciativas de cocriação, e sempre busca parcerias com universidades, empresas, startups e pesquisadores, contribuindo, assim, com o legado da agricultura brasileira.

4) A BASF concluiu com sucesso a aquisição de diversos negócios e ativos da Bayer, o que representa a entrada nos mercados de sementes, herbicidas não seletivos e nematicidas. Quais defensivos a Basf pretende fornecer para Brasil? Esses produtos serão utilizados para quais culturas?

Com a aquisição destes ativos, a BASF passa a ser uma empresa de Soluções para Agricultura e consolida-se como uma das cinco maiores indústrias deste segmento. A aquisição marca a entrada definitiva da BASF no mercado de sementes e é um compromisso com o futuro do agronegócio no Brasil e em todos os mercados nos quais atuamos. A conclusão do negócio evidencia a visão de longo prazo da empresa.

Do portfólio de defensivos adquirido, temos o negócio global de herbicidas não seletivos baseados em glufosinato de amônio. O Liberty® é um herbicida indicado para uso em área total da cultura em aplicações de pós-emergência das variedades ou híbridos de milho, algodão e soja geneticamente modificados tolerantes ao ingrediente ativo glufosinato de amônio. O Finale® é um herbicida que controla eficientemente plantas daninhas nas culturas de alface, algodão, banana, batata, citrus, café, eucalipto, feijão, maçã, milho, nectarina, pêssego, repolho, soja, trigo e uva. Outros destaques que passaram a fazer parte do nosso portfólio são os produtos para tratamento de sementes. No Brasil, temos o Poncho® para a proteção da cultura do milho.

Além dos produtos que já estão no mercado, fortalecemos o nosso pipeline com lançamentos previstos para os próximos anos. A pesquisa foi fortalecida e aumentamos a nossa equipe de especialistas com profissionais que agora fazem parte do time da BASF, com incremento de 4500 colaboradores globalmente. No Brasil, são aproximadamente 350 profissionais altamente qualificados e comprometidos com o negócio que ingressaram em nosso time. Também crescemos no número de estações experimentais de pesquisa e desenvolvimento, com 15 novas unidades.

Diante deste novo cenário, a BASF acredita ter dado um passo importante para continuar sendo uma parceira de longo prazo dos agricultores brasileiros.

5) O setor de defensivos está passando por um momento de consolidação de fornecedores e parcerias no desenvolvimento de produtos. Qual a visão da Basf nesse movimento e quais suas consequências? A Basf está se posicionando junto a outros fornecedores para o desenvolvimento de novas soluções?

O mercado de defensivos está cada vez mais competitivo. Por isso, a BASF tem buscado parceiros em diversos segmentos para oferecer novidades que aumentam a produtividade no campo. Estes trabalhos em conjunto são novas oportunidades de negócio.

Um dos exemplos mais recentes é o acordo com a Biotrigo Genética para o desenvolvimento de novas cultivares de trigo dentro do sistema de produção Clearfield®. A previsão é de que a tecnologia chegue ao mercado brasileiro em 2020 e será uma eficiente ferramenta para auxiliar no controle de plantas daninhas. Assim, a nova cultivar será resistente a um grupo de herbicidas pertencente às imidazolinonas, o que ajuda a eliminar importantes plantas daninhas, como o azevém e o nabo, resistentes ou não a outros herbicidas.

Outra parceria anunciada este ano é com a Sumitomo Chemical para o desenvolvimento conjunto de novo fungicida. O produto que será registrado como Pavecto® poderá ser utilizado na produção de cereais de inverno no Brasil e na Argentina e estará disponível no mercado nacional em até 10 anos.

A BASF realiza investimentos em diversas frentes que resultam em produtos cada vez mais eficientes e usados de maneira sustentável. Nossa preocupação é com o sucesso do negócio do agricultor e para isso oferecemos um portfólio cada vez mais completo em Soluções para Agricultura.

6) O mercado nacional de defensivos biológicos deve crescer 15% ao ano no país até 2021. Quais estratégias a empresa está tomando para o futuro de produtos biológicos?

A BASF acredita no uso integrado de produtos biológicos e químicos para potencializar o controle de pragas e doenças nas mais diversas culturas. Em breve, lançaremos uma solução que alia controle químico e biológico para a cana-de-açúcar. Em nosso pipeline (inclusive o que veio da Bayer), temos alguns produtos que devem ser incorporados ao nosso portfólio nos próximos anos. A pesquisa nesta área vem avançando e a BASF acompanha este movimento para suprir as necessidades dos agricultores. Com investimento de US$ 1 bilhão, a BASF adquiriu (em 2012) a empresa americana Becker Underwood, que desenvolve produtos biotecnológicos para o tratamento de sementes, tornando-se líder mundial neste segmento.

7) Como uma empresa que atua em países de todo o globo, quais as perspectivas no mercado consumidor de defensivos nos principais países produtores agrícolas?

As megatendências indicam o crescimento da população mundial que atualmente é de 7,6 bilhões deve chegar em 8,6 bilhões de pessoas em 2030 e 9,8 bilhões em 2050. Os maiores crescimentos demográficos estão concentrados na Ásia e na África. Nestas regiões, a demanda por alimentos vai crescer e o desafio é produzir mais comida com recursos que tendem a ser cada vez mais escassos.

A BASF trabalha para aumentar a produção agrícola de maneira sustentável, com a oferta de alimentos seguros e de qualidade para a população global. Para tornar este desafio ainda mais complexo, observa-se o fenômeno da urbanização em países como China e Índia. Com o crescimento dos centros urbanos e consequente redução da população rural, a produção de alimentos deve ser cada vez mais eficiente, com a utilização de mais tecnologia e menos mão de obra, porém mais especializada na produção de alimentos.

Neste contexto, a empresa acredita ter um importante papel para levar inovação e contribuir para aumentar a produtividade dos cultivos sem aumento de área cultivada. Nossa visão estratégica vê o mercado de defensivos integrado com a oferta de novas tecnologias, como os produtos biológicos e a agricultura digital.

E acreditamos no papel decisivo do Brasil como fornecedor de alimentos para o mundo, com grande potencial para aumento de produção que vem sendo observado nas últimas décadas e deve continuar ocorrendo nos próximos anos enquanto a população mundial aumenta.

Equipe Global CropProtection, 01/11/2018

Fonte Imagem: Reprodução

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