ENTREVISTA

Entrevista com Agrosystem destaca evolução da tecnologia em taxa variável


Isadora Campedelli Andrade, Diretora de Novos Negócios da Agrosystem.

Isadora é formada em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas – EAESP. Com experiência no mercado financeiro, fez parte do time de investimentos do fundo de private equity Pátria Infraestrutura. Pelo Pátria, trabalhou na investida greenfield Argo Energia desde sua concepção. Também teve passagem pela consultoria estratégica A.T. Kearney e pela Fundação Lemann.

1. O agronegócio é um dos setores que está sempre necessitando de novas tecnologias para reduzir o custo e otimizar a aplicação dos insumos no campo. Como a Agrosystem consegue suprir esta necessidade para os produtores rurais na otimização para aplicação e uso de defensivos agrícolas? Qual é a perspectiva de crescimento e inovações da Agrosystem neste mercado em 2021?

Todas as soluções Agrosystem têm como objetivo a redução de custos e aumento de produtividade para uma lavoura mais sustentável. No caso específico da otimização de aplicação de defensivos agrícolas, inovamos nas análises de condições meteorológicas para aplicações com menos perdas.
Sabemos que os defensivos representam um dos maiores custos variáveis no campo e que condições meteorológicas inadequadas durante aplicações – sobretudo velocidade do vento, temperatura e umidade do ar fora dos limites indicados – causam perdas por deriva e evaporação. Chuvas inesperadas após pulverizações também podem ocasionar baixa absorção de defensivos pelas folhas. Dessa forma, é de extrema importância que o produtor e seus funcionários se atentem às condições meteorológicas e previsões do tempo para planejar e executar pulverizações.
Pensando nisso, em 2021 um de nossos lançamentos é o Mapa de Pulverização, funcionalidade exclusiva do aplicativo AgrosystemCloud, que informa ao produtor de maneira simples e intuitiva qual o risco atual e futuro para pulverizar, com base em algoritmo que utiliza dados meteorológicos coletados nos talhões, previsões do tempo ultra-localizadas e cálculos específicos.
A receptividade dessa ferramenta tem sido excelente pelos produtores que temos trabalhado.
Nossa perspectiva é que em 2021 praticamente toda estação ou rede de sensores meteorológicos Agrosystem seja vendida juntamente com o Mapa de Pulverização, solução que estimamos que traga retorno ao investimento do produtor em apenas uma safra.

2. Em 2020 o mercado sofreu com os impactos da pandemia provocada pela COVID-19. O agronegócio veio se reinventando até então e as estratégias foram revisadas para garantir a produtividade e o menor custo. Qual foi o principal impacto no setor de tecnologia neste ano? Como a Agrosystem suportou os produtores rurais para atingir uma boa safra?

Para nós da Agrosystem, o principal impacto negativo durante a pandemia da covid-19 foi a falta de alguns componentes específicos para manufatura de nossas soluções e a alta do dólar, que acabou elevando os custos de matéria prima e equipamentos importados. O cancelamento de feiras agrícolas também foi um desafio, principalmente por serem um excelente espaço para o lançamento de novas tecnologias. Tivemos que investir mais fortemente em marketing digital, realizar lives e participar de feiras virtuais – algumas delas com resultado muito positivo. Além disso, como todas as empresas, tivemos, é claro, que nos adaptar de forma rápida à nova forma de trabalho, com grande parte de nossos funcionários realizando home-office.
Porém, mesmo nesse cenário desafiador, principalmente em termos de suprimento, conseguimos entregar todos os equipamentos que nos comprometemos e este foi o melhor ano de vendas da história da Agrosystem. Além disso, nosso quadro de funcionários no campo cresceu cerca de 20% em 2020 e continuaremos expandindo em 2021.
Essa alta de vendas se deve a uma combinação de mais apetite do produtor rural para tecnologia agregada, aliada ao aumento dos preços das commodities, que para o produtor rural significou mais receitas e otimismo na hora de investir.
No ano de 2020, ajudamos produtores rurais a atingirem uma boa safra, principalmente colaborando fortemente com soluções para um plantio eficiente, fornecendo desde módulos ISOBUS e monitores de plantio, até os serviços que prestamos no campo em todo Brasil, que é nosso maior diferencial. Tudo isso garante que a safra de nossos clientes se inicie de forma positiva, sem desperdícios de sementes, falhas, sobreposição de plantas e prejuízos.

3. O sistema de aplicação variável é uma das tecnologias mais conhecidas no mercado. Quais as principais culturas que estão usando essa tecnologia? Qual a perspectiva de crescimento e até mesmo desenvolvimento deste sistema?

De fato, a adoção deste sistema no campo, que é carro-chefe em soluções de plantio e fertilização da Agrosystem, vem crescendo ano após ano de forma acentuada. Hoje, atendemos principalmente produtores de soja, milho e algodão, em todos os cantos do Brasil. Um dos motivos desse aumento de adoção nos últimos anos foi o advento de novas plataformas que realizam a prescrição de taxa variável, algumas utilizando também imagens de satélite. Tudo isso facilita a implementação de técnicas de agricultura de precisão no campo.
A perspectiva futura é que cada vez mais soluções de taxa variável venham embarcadas, inclusive nas médias e pequenas plantadeiras e nos distribuidores de fertilizante. A Agrosystem já fornece soluções de taxa variável para praticamente todos os principais OEMs do mercado, e a tendência é que essa demanda cresça ainda mais dentro dos fabricantes. Com a solução embarcada, iremos observar ainda maior penetração da taxa variável nas lavouras em um futuro próximo. Isso irá demandar mão-de-obra qualificada na ponta para operação de maquinário e acesso a treinamentos no campo – razões pelas quais seguimos investindo fortemente em time técnico especializado em todo o Brasil e fornecemos equipamentos e serviços ao SENAR, por exemplo, para apoiar a qualificação de pessoal.
Somente no SENAR-MT, nos últimos 3 anos, já foram mais de 18 treinamentos, 520 horas-aula e 370 pessoas capacitadas a operar equipamentos Agrosystem.
Além disso, algumas novidades tecnológicas em módulos de controle de taxa variável já são realidade no agro brasileiro, como compensação de curva e uso de motores elétricos. Na Agrosystem, por exemplo, lançamos no ano passado o módulo ISO 6, que já conta com essas funcionalidades. A expectativa é que essa solução se popularize nos próximos anos.

4. A IoT está se tornando cada vez mais comum na lavoura brasileira e deve se expandir cada vez mais. Como vocês veem essa tecnologia e quais serão os principais benefícios para o campo? Como a Agrosystem está usufruindo dessa evolução em seus equipamentos?

O IoT, ou Internet das Coisas, é forte tendência mundial, e não se aplica apenas para o agronegócio. No caso específico do agro, cada vez mais teremos todas as máquinas, sensores e dados coletados no campo integrados a plataformas de software em tempo real. O benefício para o agricultor é imenso, pois permite que ele tome decisões mais rápidas e eficientes, com base em análises de dados ultra-localizados.
Dentro da Agrosystem, destaco as inovações que estamos trazendo em IoT na área de agrometeorologia. A ideia é que o produtor possa espalhar sensores agrometeorológicos por seus talhões – como pluviômetros, sensores de umidade do solo, vento, temperatura do ar – e tenha uma visão integrada e granular do microclima da fazenda. Isso é um avanço considerável quando pensamos que hoje a maioria dos agricultores possui apenas uma estação meteorológica para monitorar grandes áreas – e sabemos que as variáveis meteorológicas, principalmente a chuva, podem variar mesmo em pequenas distâncias. Esta tendência explica,  também, o advento da demanda por radares meteorológicos no agro – capazes de medir chuva de forma espacializada em grandes áreas – tecnologia que a Agrosystem também oferece.
Os dados meteorológicos coletados por sensores nos talhões alimentam nosso APP AgrosystemCloud, o qual traz ferramentas valiosas como o Mapa de Pulverização. Ou seja, o produtor poderá saber na palma da mão e em tempo real em qual talhão as condições meteorológicas estão mais propícias para pulverizar, por onde começar. Isso é um benefício enorme de eficiência e economia de aplicação. Além disso, os dados coletados também podem ser integrados por meio de API (interface de programação de aplicações) a outras plataformas que o cliente possua, alimentando análises de outros softwares.
É evidente que para possibilitar a Internet das Coisas (IoT) nas fazendas brasileiras a conectividade ainda é o principal gargalo – mas esse cenário está mudando rapidamente. Na Agrosystem já temos solução com preço acessível para coleta de dados nos talhões via Rede LoRaWAN, que permite que, mesmo fazendas com pouquíssima disponibilidade de internet sejam completamente conectadas, com alcance de mais de 25km do ponto de wifi. Em breve lançaremos, também, soluções de coleta de dados via 4G NBIoT 700MHz e conexão via satélite. A escolha da tecnologia de conectividade de cada cliente vai depender da realidade da fazenda.
O importante será ter dados confiáveis alimentando decisões melhores.

5. A utilização de drones na agricultura na área de defensivos ocorre principalmente para aplicação de defensivos biológicos. A Agrosystem vê o uso mais intensivo deste tipo de tecnologia na aplicação de defensivos químicos? Qual parece ser o futuro desses equipamentos no agronegócio?

Como comentei na questão da Internet das Coisas, a tendência é que cada vez mais o agricultor trate os desafios do campo de forma granular, talhão por talhão ou até mesmo “sub-talhão” por “sub-talhão” (ou glebas). Isto é, imagens de satélites e de drones com resolução espacial cada vez maior serão capazes de identificar com alta precisão onde estão localizados os focos de dano na lavoura, permitindo agir de forma micro-focada, pulverizando somente onde foram identificados problemas como doenças, fungos e pragas.
E é ai que entram os drones para aplicação de defensivos, os quais permitem justamente que seja feita essa pulverização de forma micro-focada, somente onde há infestação e reduzindo o uso de químicos e por conseguinte os custos e impactos ambientais. Dessa forma, nos parece que no futuro haverá sim a intensificação do uso desses equipamentos no agronegócio para pulverizações ainda mais precisas. Inclusive, esperamos em breve integrar os dados meteorológicos coletados por equipamentos Agrosystem também com plataformas de voo de drones.

Equipe Global Crop Protection, 04/01/2021

Fonte da imagem: Imagem de Franz W. por Pixabay

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