ENTREVISTA

Gerson Marquesi – Head de Pesquisa e Assuntos Regulatórios da Gênica fala sobre mercado de bioinsumos


Gerson Marquesi é o Head de Pesquisa e Regulatório da Gênica. Desde 2020 na companhia, está à frente do desenvolvimento e implementação de diversas soluções em bioinsumos, que vem tornando a empresa referência em inovação no setor.  Entre elas está o REGENERA, plataforma de soluções para agricultura regenerativa, que vem impulsionando a produtividade e rentabilidade de muitas propriedades rurais. Engenheiro Agrônomo e mestre em fitotecnia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, possui MBA em Gestão Comercial pela FGV e tem mais de oito anos de experiência em manejo biológico e regenerativo, tendo atuado nas áreas de consultoria, P&D, desenvolvimento técnico, comercial e marketing. Atualmente está à frente dos times de P&D, Assuntos Regulatórios e Pesquisa Agronômica na Gênica, liderando a estratégia de portfólio e inovação da companhia.

 

Fundada no ano de 2015, a Gênica é uma indústria de bioinsumos focada em resultados, qualidade e inovação. Sediada em Piracicaba (SP), a empresa nasceu no Agtech Valley, com a proposta de ser um centro de inovação de biotecnologia, que propõe soluções que vão impactar positivamente diversas gerações. Em seu portfólio, a Gênica oferece soluções regenerativas que desempenham um importante papel na construção de sistemas agrícolas mais eficientes e sustentáveis. (Fonte: Gênica)

  1. O crescimento do mercado de bioinsumos está relacionado a qual (ou quais) fator(es) e por quê?

O principal motivo para o crescimento acelerado do mercado de bioinsumos no Brasil está relacionado à necessidade de tecnologias mais eficientes para a agricultura tropical. O uso contínuo de um mesmo ingrediente ativo ou grupo químico em determinada área gera forte pressão de seleção de pragas e fitopatógenos cada vez mais resistentes, reduzindo gradativamente a eficácia dos defensivos agrícolas. Ao mesmo tempo, as dificuldades para obtenção de novas moléculas, como custo e tempo, reduziram as inovações na indústria de defensivos, beneficiando indiretamente o mercado de insumos biológicos. A intensificação da agricultura no Brasil, passando de uma para até 3 safras ao ano, também impulsionou o aumento da demanda de biológicos. E assim, a roda de progresso gira: com a maior adoção de bioinsumos, há um maior investimento em pesquisa e desenvolvimento de produtos, o que faz do Brasil um grande produtor e consumidor de produtos biológicos. Diferente do que ocorre no mercado de defensivos químicos, Marquesi destaca a possibilidade de, no futuro, o Brasil passar a ser também um grande exportador de biológicos.

  1. Em relação à PD&I, qual (is) o(s) foco(s) e linha(s) de pesquisa na Gênica?

O foco de PD&I na Gênica está em três importantes desafios da agricultura tropical: controle de pragas e doenças, eficiência nutricional e manejo fisiológico:

I. Nutricional: a eficiência de uso de nitrogênio pelas grandes culturas no Brasil gira em torno de50 e 60%. O objetivo é aumentá-la para 70 a 80% de eficiência por meio do uso de inoculantes inovadores e comunidades complexas de microrganismos. Para fósforo, apenas 20% a 30% do fósforoaplicado como fertilizante é aproveitado em solos tropicais, sendo necessário aplicar de 3 a 5 vezes a quantidade demandada pelas culturas para um ciclo produtivo, sendo possível aumentar a eficiência de uso desse nutriente através da aplicação de bioinsumos e modulação do microbioma do solo, reduzindo perdas e aumentado a absorção do fertilizante aplicado. Essas tecnologias têm um impacto enorme na agricultura brasileira, que utilizou mais de 45 milhões de toneladas de fertilizantes em 2023, dos quais 85% importados.

II. Promotores e reguladores de crescimento: devido aos impactos das mudanças climáticas, como aumento da frequência de veranicos e restrição hídrica, o objetivo é lançar novos bioinsumos que aumentem a tolerância das culturas à estresses abióticos, cada vez mais intensos no Brasil e no mundo, e aumentem a produtividade das culturas

III. Proteção de cultivos: a prospecção e desenvolvimento de ativos fungicidas e inseticidas a base de microrganismos é um importante pilar das indústrias de bioinsumos, mas a Gênica está buscando potencializar a eficiência desses biodefensivos desenvolvendo produtos à base de metabólitos produzidos por microrganismos e outras moléculas orgânicas funcionais. Os metabólitos são compostos naturais produzidos por microrganismos que podem apresentar função antimicrobiana, inseticida, de indução de resistência, entre outras. O objetivo dessa estratégia é aumentar a eficiência de controle de pragas e doenças, possibilitando a substituição integral de determinados ativos químicos.

  1. No processo de evolução dos produtos biológicos, existem gerações de produtos biológicos? Quais são elas? São gerações lineares ou complementares?

No processo de evolução de biológicos, podemos visualizar quatro gerações, as quais não são lineares ou excludentes, mas complementares ao longo do tempo. A primeira geração, amplamente difundida e com produtos utilizados até hoje, está focada em produtos contendo um único microrganismo, específico para determinada função. A segunda geração já engloba produtos com a combinação de dois ou mais microrganismos na mesma formulação, agrupando funções e resultando em maior eficiência do produto final. A terceira geração inclui produtos baseados em metabólitos ou moléculas orgânicas capazes de serem tão ou mais eficientes quanto os microrganimos ativos. E a quarta geração envolve a modulação do microbioma do solo, a partir de comunidades microbianas que possam complementar o gap funcional de um microbioma natural, apresentando um alto nível de personalização de produtos para diferentes sistemas e ambientes.

  1. Qual a sua visão sobre o processo de registro de produtos no Brasil?

O registro de insumos biológicos no Brasil já é bem avançado, comparado ao processo em outros países. Os representantes do MAPA, ANVISA e IBAMA estão sempre procurando o entendimento dos produtos e buscando conhecimento em eventos e workshops. Para evoluir ainda mais, contamos com a aprovação da PL dos Bioinsumos, a qual impactará positivamente o mercado, sobretudo no lançamento de produtos que possuam funções múltiplas ligadas a legislações distintas, como por exemplo organismos (em mistura ou não) que tenham ação em controle de doenças e em eficiência nutricional ao mesmo tempo. A natureza dos microrganismos é multifuncional, portanto, precisamos ajustar a regulamentação à ciência.

  1. Em relação ao mercado de produtos biológicos, você visualiza potencial na entrada de produtos importados assim como ocorre no mercado de defensivos químicos (ex: China/ Índia)? Ou existem limitantes para essa entrada (ex: tempo de prateleira, transporte, registro etc.)?

Em relação aos microrganimos e cepas específicas, não vejo potencial de entrada de produtos importados, sobretudo produtos de primeira ou segunda geração. Aqui temos indivíduos adaptados às condições tropicais, agronomicamente e climaticamente adaptados à realidade dos diferentes biomas brasileiros. Já para os produtos de 3ª geração, há maior possibilidade de entrada de produtos de outros países, entretanto nosso foco nos problemas regionais e investimento no desenvolvimento de biotecnologias adaptadas às nossas condições são um importante diferencial competitivo.

  1. Qual(is) é(são) a(s) principal(is) premissa(s) em relação à melhoria de produtos biológicos hoje?

Sem dúvida o principal foco sempre está em aumentar a eficiência da função a que se destina o produto, seja de controle ou nutricional.  Entretanto, outras melhorias importantes estão ligadas à compatibilidade com ativos químicos, possibilitando a mistura na calda com maior quantidade de produtos possível, além de tempo de prateleira estendido e facilidade na operação de aplicação.

  1. Quais são os principais produtos da Gênica hoje? Com quais funções? E para quais culturas?

As principais culturas em market share da Gênica hoje são: soja (60%), cana de açúcar (25%), milho (10%) e outras culturas (5% – café, algodão, pastagem, trigo). Em relação às funções, em ordem de volume de utilização, estão: biodefensivos, inoculantes, promotores de crescimento e plantas de cobertura.

O portfólio da Gênica possui uma gama de produtos altamente eficientes, atendendo as diferentes demandas de bioinsumos. Entre os produtos, destaca-se o Congregga, fungicida biológico composto por uma cepa exclusiva de Trichoderma asperellum, a qual reduz o inóculo na palhada no solo. Tolerante a temperaturas mais altas, é também compatível para aplicação com vinhaça. Como inovações, temos dois produtos em fase de lançamento. No Dry, composto de substâncias orgânicas que garantem tolerância a condições de estresse hídrico e térmico; e um produto à base de uma cepa exclusiva de Priestia megaterium, a qual oferece os benefícios de manter a hidratação de raízes, aumentar o desenvolvimento radicular e aumentar a absorção de N e P, garantindo dessa forma alta performance em condições de restrição hídrica e auxiliando em questões operacionais, como a mitigação do efeito da janela de plantio do milho segunda safra na redução de produtividade.

 

Equipe Global Crop Protection, 04/07/2024

Fonte da imagem: Freepik

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