ENTREVISTA

Professor Pedro Yamamoto fala sobre controle de pragas na agricultura


Prof. Dr. Pedro Takao Yamamoto – Professor da Esalq – USP Piracicaba

Possui Mestrado e Doutorado na área de Entomologia. Atua na área de Manejo Integrado de Pragas, com ênfase em sensoriamento remoto, seletividade de produtos fitossanitários, danos e prejuízos de pragas, dinâmica populacional de pragas, controle químico e controle biológico. Possui 117 artigos completos publicados em periódicos e 86 artigos técnicos publicados em revistas. Participou em 22 capítulos de livro e organizou um livro.

 

 

1. Na safra de milho deste ano, estima-se que as perdas nas lavouras de Santa Catarina podem chegar a 20% devido aos ataques da cigarrinha do milho. Quais deveriam ser as boas práticas para que ataques como esse não causassem uma perda tão significativa?

Um ponto fundamental é não tentar encontrar a “bala de prata”, ela não existe. O importante é utilizar e diversificar as ferramentas (táticas) disponíveis para reduzir a incidência da doença, causada tanto pelo fitoplasma como pelo espiroplasma, agentes causas do enfezamento vermelho e pálido, respectivamente, e a população do inseto vetor, a cigarrinha-do-milho Dalbuus maidis. O plantio de variedades menos suscetíveis ou tolerantes aos patógenos é primordial, com isso os danos e os prejuízos são reduzidos. Eliminar as plantas espontâneas, tigueras, de milho em outras culturas, principalmente na primeira safra é outra medida que deve ser adotada para diminuir a fonte de inóculo e os locais de manutenção da população da cigarrinha, que tem um número de hospedeiros pequeno. Ainda na linha de controle cultural, o vazio sanitário é uma medida viável e aconselhável, dado ao pequeno número de hospedeiros. O controle biológico, com uso de fungos entomopatogênicos, Beauveria bassiana e Isaria fumosorosea, é outra ferramenta a ser utilizada para diminuir a incidência da cigarrinha, com vantagem de ser mais amigável e com menor impacto sobre a fauna benéfica. O controle químico também não deve ser esquecido e negligenciado, mas deve ser utilizado com critérios para não causar efeitos negativos. Para a cigarrinha recomenda-se o tratamento de sementes para controle das infestações iniciais e também aplicações em pulverização caso sejam necessárias. Portanto, o monitoramento do inseto vetor deve ser constante e as medidas de controle tomada quando for constatado a presença da praga. Para um controle efetivo, deve-se utilizar todas as ferramentas de forma integrado.

2. Com o uso inadequado dos defensivos agrícolas, estamos gerando um problema de resistência química. Quais seriam as boas práticas para evitar esse problema? E como disseminar melhor essas informações?

Para evitar a seleção de população resistentes, além da rotação de inseticidas de diferentes mecanismos de ação, é importante a adoção do MIP. Nesse sentido, é importante realizar o monitoramento da praga e a tomada de decisão ser realizada quando a praga está presente, apesar de não existir um nível de controle estabelecido para a cigarrinha. A integração da ferramenta química com as não-químicas auxilia também no retardamento da seleção de populações resistentes, portanto, medidas culturais e controle biológico devem ser incorporados em programa de MIP para cigarrinhas-do-milho. Quanto a disseminar melhor as informações sobre o manejo de resistência, seria interessante desde publicações em revistas técnicas como também reuniões com produtores e técnicos difundindo a importância da rotação de inseticidas para retardar e/ou evitar a seleção de população resistente.

3. Em termos de Manejo Integrado de Pragas, o Brasil ainda precisa avançar? Existem leis/iniciativas que favorecem ou que podem favorecer esse cenário?

Com certeza o MIP ainda precisa avançar. Na atualidade, em muitas culturas, a dependência de uma única ferramenta para controle de pragas, geralmente química, é muito evidente. Apesar de ainda prover controle efetivo, é insustentável ao longo dos anos e pode trazer efeitos colaterais indesejados e/ou aumentar os efeitos indesejados que estão ocorrendo. Portanto, necessitamos urgentemente a mudança de paradigma e passar a diversificar as ferramentas para diminuir a população de pragas.

4. Como o sensoriamento remoto pode contribuir para a detecção rápida de infestações de pragas de modo que o combate seja mais eficiente?

Uma das dificuldades ou entraves para a doção do MIP é a amostragem de pragas, que em alguns casos é inviável economicamente, é demorada e o erro amostral grande. O sensoriamento remoto pode contribuir para a melhoria do monitoramento e os sensores, embarcados em drones, ou a análise de imagens de satélites pode tornar a amostragem mais fácil, mais precisa e com custo baixo. A tecnologia empregada na atualidade pode indicar, na área amostrada, locais em que há uma anomalia ou inconformidade, sem indicar a causa. Espera-se que, com a evolução da tecnologia, seja possível definir a causa e direcionar o controle para as áreas infestadas, racionalizando ou tornando possível o uso de diferentes ferramentas de manejo.

Fonte: Equipe Global Crop Protection, 10/05/2021

Fonte da Imagem: Imagem de Rudy and Peter Skitterians por Pixabay.

 

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