ENTREVISTA

Thiago Castro – Gerente de P&D da Koppert – comenta sobre as principais perspectivas do mercado de bioinsumos


Thiago Castro – é graduado em Ciências Biológicas pela ESALQ-USP, com Mestrado em Entomologia com ênfase em Controle Biológico pela ESALQ-USP/Norwegian University of Life Sciences (NMBU)/The Norwegian Institute of Bioeconomy Research (NIBIO) – Noruega, e Doutorado/PhD na mesma área com dupla titulação pela ESALQ-USP/University of Copenhagen, na Dinamarca. Iniciou sua trajetória na Koppert em 2017 como Pesquisador em Microbiológicos. Por dois anos, esteve à frente da Coordenação da Área de P&D e há um ano assumiu a posição de Gerente de P&D na Koppert América do Sul.

Sobre a Koppert 

A Koppert, líder mundial em controle biológico, trabalha para agricultores em todo o mundo desde 1967, promovendo a sustentabilidade e a rentabilidade de cultivos, preservando a biodiversidade na agricultura, e contribuindo para sistemas alimentares mais seguros. Está presente no Brasil desde 2011 e, atualmente, conta com três modernas unidades de produção: a de microbiológicos, localizada na cidade de Piracicaba, e as unidades de formulações e de macrobiológicos, que ficam na vizinha Charqueada, todas no estado de São Paulo. A empresa conta ainda com departamento próprio de Pesquisa & Desenvolvimento para aperfeiçoamento de tecnologias de controle biológico para a agricultura tropical, e é parceira do SPARCBio (São Paulo Advanced Research Center for Biological Control) e do Gazebo, primeiro hub de inovação do agronegócio especializado em tecnologias voltadas para o controle biológico do país.

1. A Koppert iniciou no mercado brasileiro em 2011, com a introdução dos seus primeiros produtos biológicos registrados junto ao MAPA. De lá para cá, quais foram as principais tecnologias e inovações que a empresa aplicou nos seus produtos?

Estou na Koppert há quase oito anos. Comecei como pesquisador, e posso dizer com segurança que a estrutura e a tecnologia que tínhamos naquela época eram completamente diferentes das atuais.

A Koppert cria tecnologia baseada em ciência. Nosso time de Pesquisa e Desenvolvimento é muito forte. Buscamos entender profundamente os inimigos naturais para, a partir disso, transformar esse conhecimento em produtos aplicáveis no campo. Não é o produto que orienta a ciência, mas a ciência que direciona o desenvolvimento do produto.

Desde a aquisição da Itaforte Bioprodutos, em 2012, que já possuía alguns produtos no portfólio, houve uma grande evolução. Hoje, os produtos são completamente diferentes, pois passaram por melhorias naturais e tecnológicas. Empregamos tecnologias que vão além do microrganismo em si — elas envolvem formulações para protegê-lo, garantindo eficiência no campo mesmo sob condições adversas, como altas temperaturas e umidade.

Além disso, temos investido fortemente em tecnologia de empacotamento e conservação. Sem isso, é inviável garantir a estabilidade dos microrganismos nas fazendas. Também criamos centros de pesquisa em parceria com universidades, como o SPARCBio na ESALQ, o que acelera a descoberta de novas moléculas e agentes de controle. Toda essa base científica é o que nos permite entregar valor ao agricultor.

2.Atualmente, a Koppert possui o maior número de defensivos biológicos registrados no MAPA. Qual o principal viés que a P&D da empresa tem estudado para o desenvolvimento de novos produtos?

O avanço das ciências biológicas tem sido impressionante. Vimos, em décadas anteriores, grandes marcos na física e na química, e agora a biologia está no centro das inovações. Isso se reflete diretamente no que fazemos.

Seguimos buscando na natureza soluções já existentes — o Brasil, com sua biodiversidade, é um celeiro de possibilidades. Paralelamente, investimos fortemente em tecnologias, como edição genética (CRISPR) e biologia molecular, para entender como os microrganismos atuam e como podemos potencializá-los.

Um grande foco atual é encontrar alternativas biológicas para o controle de plantas daninhas — o segmento de herbicidas ainda carece de ativos biológicos e representa cerca de 30% do mercado de controle de pragas.

Além das parcerias com universidades, estamos nos aproximando de startups por meio do nosso programa de inovação, o Gazebo. Isso nos permite acelerar a chegada de tecnologias ao campo. Também temos focado em aprimorar formulações e compatibilidades.

3.Levando em consideração o MIP e MID (Manejo integrado de plantas e de doenças), a empresa tem desenvolvido pesquisas para verificar a compatibilidade entre produtos químicos e biológicos? Quais são as expectativas para esse desenvolvimento?

Sim, esse é um ponto central. Nosso objetivo nunca foi criar uma solução única que resolva todos os problemas do agricultor, mas oferecer ferramentas eficazes dentro do manejo integrado.

Para isso, investimos fortemente em formulações que protejam os agentes biológicos mesmo quando misturados com produtos químicos. Desde o início, nossas formulações buscam compatibilidade em mistura de tanque.

Um exemplo recente é o Trichodermil FS, lançado para tratamento de sementes. Ele já foi desenvolvido com tecnologia para sobreviver ao contato com químicos usados nesse tipo de aplicação. Criamos uma espécie de “encapsulamento” para que o microrganismo fique protegido mesmo em ambientes desafiadores.

4.A Lei nº 15.070 promulgada no final de 2024 tem gerado inúmeras discussões durante sua fase de regulamentação. Quais as expectativas da empresa frente a nova legislação? Quais dificuldades devem ser solucionar com este novo marco regulatório?

Enxergamos a mudança com grande otimismo. O segmento de biológicos carecia de uma regulamentação específica, uma vez que era enquadrado na categoria de agrotóxicos e afins — uma classificação que não condizia, do ponto de vista técnico e regulatório, com as particularidades desses produtos.

Com a nova legislação, passamos a contar com uma estrutura jurídica e regulatória mais adequada às particularidades dos bioinsumos, possibilitando avanços significativos em aspectos como rastreabilidade e registros. Um exemplo claro é que, anteriormente, não era permitido registrar um produto que atuasse simultaneamente como bioestimulante e agente de proteção de plantas — o que agora se torna viável, contribuindo para a consolidação de um mercado mais maduro e profissional.

5.Na safra 23/24, os bioinsumos cobriram uma área aproximada de 156 milhões de hectares. Quais são os próximos passos para que o produtor rural passe a adotar ainda mais biológicos em sua produção?

A chave para ampliar o uso de bioinsumos está na educação. É fundamental que o produtor compreenda que os produtos biológicos são eficazes, embora exijam um manejo mais integrado e estratégico em comparação aos defensivos químicos.

Outro aspecto essencial é a compatibilidade entre soluções biológicas e químicas, considerando que a substituição total dos químicos, na prática, é pouco provável. O ideal é reverter a lógica atualmente predominante: priorizar o uso de biológicos como base e recorrer aos químicos apenas quando necessário — e não o contrário.

Nesse contexto, as universidades desempenham um papel relevante ao incluir o controle biológico em suas matrizes curriculares. Paralelamente, o fortalecimento de hubs de inovação e o apoio a startups do setor são iniciativas que contribuem significativamente para o amadurecimento do mercado.

6.Considerando os mais de 800 registros de produtos biológicos no mercado nacional, a empresa tem percebido a preferência dos produtores por produtos sólidos ou líquidos? Ou por algum método de aplicação específico? E como a Koppert vê a popularização do uso de drones?

As formulações líquidas têm se destacado entre os produtores devido à praticidade no manuseio e à redução do risco de perdas por deriva, especialmente durante o processo de diluição. Apesar de muitos produtos ainda serem comercializados em pó — em razão de limitações tecnológicas —, temos direcionado esforços significativos para o aprimoramento dessas formulações.

A crescente adoção de drones também representa um avanço relevante, pois permite aplicações mais precisas, com menor desperdício, além de viabilizar o uso dos produtos em áreas menores ou de difícil acesso. No caso dos macrobiológicos, as formulações sólidas ainda são predominantes devido a impossibilidade de se formular insetos e ácaros em formulações líquidas.

7.Levando em consideração as estratégias que estão sendo firmadas para a exportação de insumos biológicos, vocês veem o Brasil como um potencial exportador de tecnológicas biológicas, principalmente agentes biológicos de controle? Estão trabalhando para que isso seja uma realidade?

Sim, e isso já está acontecendo. A Koppert Brasil assumiu a responsabilidade estratégica pelas operações da América do Sul. Estamos registrando aqui os produtos que serão levados para outros países e adaptando nossos dossiês regulatórios para atender às legislações locais.

Nosso objetivo é lançar produtos no Brasil que também possam ser utilizados em outros continentes, como América do Norte e Europa. Temos, inclusive, uma unidade de produção fora do Brasil, o que facilita esse processo de internacionalização.

Para registrar um produto em outro país, é necessário comprovar pelo menos 70% de eficiência contra o alvo local. Antes disso, realizamos muitos testes para garantir desempenho.

Microrganismos como o Metarhizium podem ser usados globalmente, desde que suas formulações sejam adaptadas ao ambiente. Já macrobiológicos enfrentam mais restrições, pois alguns insetos e ácaros não são endêmicos em outras regiões, podendo representar riscos ambientais. Há legislações rigorosas que evitam esse tipo de desequilíbrio.

 

Equipe Global Crop Protection, 11/07/2025

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