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Impacto dos incêndios no manejo de pragas para a cultura de cana


Nos últimos anos, os incêndios em canaviais têm provocado mudanças significativas na dinâmica de pragas e inimigos naturais. Esses incêndios, cada vez mais recorrentes, alteram o equilíbrio do solo e afetam diretamente os insetos, tanto as pragas quanto os predadores que controlam suas populações.

De acordo a engenheira agrônoma e especialista em Entomologia, Leila Luci Dinardo-Miranda, a presença do fogo nos canaviais tem uma ação direta sobre a mortalidade de pragas, mas também leva à perda de inimigos naturais, criando um ambiente com menos resistência biológica. “O incêndio mata insetos-praga, como a broca comum e a cigarrinha das raízes, mas também elimina predadores naturais desses organismos, deixando o ambiente desequilibrado”, explica Leila.

A ausência da palha nas áreas queimadas, além de reduzir a umidade do solo, diminui os refúgios naturais para muitos insetos e seus predadores, o que, segundo Leia, é importante para insetos como a cigarrinha das raízes, cuja presença é diretamente associada à umidade do solo. Estudos realizados na Usina Colorado, em janeiro de 2002, demonstraram que áreas de cana crua apresentavam uma densidade média de 20,2 cigarrinhas por metro, enquanto áreas queimadas registraram apenas 0,5 cigarrinhas por metro. “A cigarrinha das raízes depende da umidade. Sem a palha para reter essa água no solo, as populações tendem a cair naturalmente”, acrescenta a especialista.

Algumas pragas são menos vulneráveis às queimadas. Entre elas, segundo a pesquisadora, estão o Migdolus, o pão de galinha e os cupins. Essas espécies habitam camadas mais profundas do solo, onde o calor do fogo não chega. “O Migdolus vive em camadas profundas, e o pão de galinha e os cupins ficam em diferentes profundidades. O calor da queimada atinge apenas as camadas superficiais e de forma muito rápida, o que não afeta significativamente essas pragas”, esclarece Dinardo-Miranda.

Outro grupo pouco afetado pelas queimadas são os nematoides. “Esses organismos também vivem em áreas do solo que não são atingidas pelo calor, preservando-se mesmo em cenários de incêndio frequente”, adiciona.

A broca comum (Diatraea saccharalis) é uma das pragas afetadas pelo fogo, mas estudos indicam que a ausência de queima e a presença de palha contribuem para o aumento de predadores naturais, ajudando no controle da praga. Pesquisas de Araújo e Macedo (1998) mostraram que, em áreas de cana crua, há maior presença de insetos predadores e parasitoides. No entanto, a redução da população da broca não foi observada de forma consistente com a adoção da cana crua em larga escala.

Em 2024, incêndios impactaram o controle da broca de modo misto: enquanto a queima ajuda a eliminar os adultos dessa praga, o uso intenso de inseticidas para controlar outras pragas, como o Sphenophorus levis, tende a reduzir as populações de inimigos naturais da broca. Como resultado, as previsões indicam que populações de broca poderão aumentar no final do verão, caso as chuvas sejam escassas. “Aplicações de inseticidas durante a seca de 2024 foram pouco absorvidas devido às altas temperaturas, e os incêndios perto do período de aplicação ampliaram ainda mais essa perda”, ressalta a agrônoma.

A especialista disse ainda, durante o último encontro Fitotécnico do IAC, realizado na última semana de outubro, que a queima nos canaviais tem efeitos ambíguos, e seu uso como prática de manejo de pragas precisa ser revisado, considerando o impacto geral no ecossistema e as perdas na eficiência de controle biológico.

 

Fonte: Revista Rpa News, publicado em 08/11/2024

Fonte da imagem: Freepik

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