
A conjunção econômica menos favorável, fruto das incertezas no Brasil e da queda das cotações das commodities agrícolas, deverá levar a Bayer CropScience a registrar no país, neste ano, um crescimento das vendas abaixo de dois dígitos pela primeira vez desde 2011.
Mesmo assim, afirmou ao Valor o presidente da Bayer CropScience para o Brasil e a América Latina, Eduardo Estrada, esse crescimento será maior que a expansão média do mercado, prevista pelo Sindiveg, sindicato que representa a indústria agroquímica brasileira, em 2%.
Em 2014, o braço agrícola da multinacional alemã contabilizou vendas de R$ 5,45 bilhões no Brasil, 24% mais que no ano anterior. O montante representou 65% do faturamento total de R$ 8,3 bilhões do grupo no país. “Mais para a frente chegaremos aos 70%”, disse Estrada.
O executivo classifica o atual momento como “diferente”, derivado de um “sucesso agronômico” – não de um problema – que resultou em elevada oferta global de commodities agrícolas. Para Estrada, os “mais fortes” do setor estão sendo testados, e o Brasil deverá se sobressair.
Boa parte dos esforços da Bayer segue concentrada no mercado de sementes, onde a múlti ganhou relevância após uma série de aquisições na América Latina, focadas na soja. Desde 2010, a companhia comprou a CVR, a SoyTech, a Melhoramento Agropastoril, a Wehrtec e a CCGL no Brasil – além da FNSemillas, na Argentina, e da Granar, no Paraguai.
A companhia não descarta novas aquisições nessa frente, mas conforme Rafael Villarroel, diretor de operações de negócios Brasil da Bayer CropScience, o ciclo-chave de negociações está concluído. E segue firme no propósito de estrear com suas variedades transgênicas de soja na próxima safra, 2016/17, que deverão chegar ao mercado sob a marca “Credenz”, já lançada nos EUA.
Com o reforço de uma base genética, a Bayer tem trabalhado na criação de novas cultivares de soja, capitaneadas pelo gene Liberty Link (LL). O gene, que confere às plantas tolerância a herbicidas, está aprovado desde 2010 pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), mas ainda não foi introduzido em nenhuma cultivar comercial de soja no Brasil porque a multinacional alemã aguardava o aval chinês, que saiu em dezembro de 2014.
Resta a liberação do herbicida Liberty (ao qual a semente transgênica LL resiste) pelo governo brasileiro. “Mas [esse registro] é uma ampliação de uso, algo rápido, que não nos tira o sono”, disse Estrada.
O que tenderá a afetar mais os ânimos da companhia é a possível concretização da compra da Syngenta pela Monsanto, ainda que a empresa suíça tenha rejeitado as propostas iniciais da americana. Estrada não comenta a negociação, mas a Bayer tem dado sinais de sua disposição em estreitar os laços com sua clientela, para observar melhor as tendências e acelerar o desenvolvimento de novos produtos.
Ontem, a empresa lançou uma plataforma digital colaborativa que reunirá agricultores, cooperativas e distribuidores brasileiros para a troca de informações sobre o setor. A iniciativa, chamada de Rede AgroServices, receberá um aporte de R$ 100 milhões no primeiro ano. Para o lançamento, feito em Washington, nos EUA, a Bayer convidou cerca de 75 grandes produtores do Brasil.
Valor, 18/06/2015
Imagem: Contasconnosco