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Bayer oferece US$ 62 bi por Monsanto, mas não agrada todos os acionistas

Bayer oferece US$ 62 bi por Monsanto, mas não agrada todos os acionistas


A gigante alemã de remédios e produtos químicos Bayer AG detalhou ontem sua oferta de US$ 62 bilhões em dinheiro para comprar a Monsanto Co. A proposta oferece um prêmio substancial pela empresa americana, num acordo que poderá criar a maior fornecedora de produtos agrícolas do mundo.

A Bayer, que confirmou na semana passada ter feito uma oferta pela Monsanto, informou que o preço de US$ 122 por ação oferecido está 37% acima da cotação de fechamento em 9 de maio, de US$ 89,03, um dia antes de a Bayer fazer uma oferta formal pela gigante agrícola.

“Esta transação representa uma oportunidade atraente para os acionistas da Monsanto”, disse ontem o diretor-presidente da Bayer, Werner Baumann, durante uma coletiva de imprensa. O acordo vai gerar “valor imediatamente” para os acionistas, acrescentou.

A Monsanto informou, ontem, que seu conselho de administração está “analisando cuidadosamente” a proposta da Bayer, mas não fez comentários adicionais.

Investidores da Monsanto disseram que eram receptivos à oferta da Bayer, mas esperavam que o conselho da Monsanto buscassem um preço maior.

“É uma ótima oferta inicial pela empresa”, diz James Zoldy, diretor-superintendente da Halsey Associates Inc., uma empresa americana de planejamento financeiro que é acionista da Monsanto. “Nós achamos que o preço pode subir e terá que ser negociado com cuidado pelo conselho [da Monsanto] para obter um valor adicional.” De acordo com ele, o conselho da Monsanto terá que ter cuidado para não ceder a uma barganha, considerando que há outros compradores potenciais para a companhia.

A Bayer informou que financiará o negócio — a maior tentativa de aquisição estrangeira já feita por uma empresa alemã — através de uma combinação de dívida e ações, incluindo uma venda de ações avaliada em cerca de 25% do valor total da transação. Isso significa que a empresa deve realizar um aumento de capital de cerca de US$ 15,4 bilhões, disse o diretor financeiro, Johannes Dietsch.As ações da Bayer, que estão sob pressão desde que a empresa informou que estava em negociações com a Monsanto, caíram 5,7% na Europa, em meio a preocupações com custos e financiamentos. Já as da Monsanto fecharam em alta de 4,4%.

Diante do nível relativamente alto de endividamento da Bayer, investidores da empresa alemã manifestaram dúvidas de que ela vai conseguir bancar a transação sem um aumento de capital ou venda de ativos.

Dietsch disse ontem esperar que a forte geração de fluxo de caixa futura da empresa formada pela união dos negócios agrícolas da Monsanto e da Bayer permita que a firma alemã rapidamente reduza sua alavancagem, depois da aquisição.

“Nós vamos elevar substancialmente nosso endividamento no balanço”, disse Dietsch em uma teleconferência. “Estamos dispostos a assumir uma dívida maior com um forte desejo de reduzir esse nível de endividamento logo depois, com um forte fluxo de caixa.”

A dívida líquida da Bayer era de 17,45 bilhões de euros (cerca de US$ 20 bilhões) em 2015, mais que o dobro de sua dívida líquida de 7 bilhões de euros em 2011, antes de a empresa começar uma série de aquisições.

O endividamento líquido da empresa “claramente superaria 40 bilhões de euros no momento da transação”, segundo cálculos de analistas do banco alemão Equinet Bank. “Embora a alavancagem pareça ser administrável de uma perspectiva de classificação de risco, acreditamos que ela reduzirá a flexibilidade estratégica da Bayer no nicho farmacêutico no futuro”, escreveram os analistas do banco em uma nota divulgada ontem.

O acordo também pode desagradar alguns acionistas da Bayer que tendem a ver a empresa mais como uma farmacêutica do que uma firma agrícola.

Markus Manns, gerente de portfólio da Union Investment, uma gestora alemã que tem ações da Bayer, diz que está receoso de que a aquisição da Monsanto concentre muito a empresa alemã no setor de agroquímicos, à custa de suas operações na área de cuidados com a saúde. Os negócios farmacêuticos e de produtos de saúde voltados ao consumidor são “mais atraentes” porque a unidade agrícola tende a ser “um pouco mais volátil”, diz ele.

Manns acrescenta que entendeu o valor estratégico da oferta da Bayer — tornar-se uma concorrente mais forte no setor de sementes, onde ela tem ficado para trás —, mas argumenta que a aquisição pode ser grande demais. “Se eles tivessem encontrado uma ‘miniMonsanto’, faria mais sentido”, diz.

Se a Bayer comprar a Monsanto, a empresa alemã passaria a gerar metade da sua receita na área de lavouras modificadas, segundo analistas do banco de investimentos europeu Bryan Garnier. A divisão agroquímica da Bayer registrou uma receita de 10,37 bilhões de euros no ano passado, ante vendas totais do grupo de 46,3 bilhões de euros.

Baumann, da Bayer, que assumiu o posto há apenas três semanas, diz que o acordo está em linha com a estratégia da empresa de criar uma companhia integrada de ciências da vida, concentrada em produtos agroquímicos, farmacêuticos e remédios que não precisam de receita médica.

Essa abordagem foi implementada pelo antecessor de Baumann, o ex-diretor-presidente Marijn Dekkers, que chacoalhou de forma agressiva a empresa alemã por meio de uma série de aquisições e desinvestimentos.

No ano passado, num negócio de 11 bilhões de euros, Dekkers desmembrou parte da divisão de plásticos especiais da Bayer, agora conhecida como Covestro AG, por meio da sua abertura de capital. A Bayer ainda possui uma fatia majoritária na Covestro, que produz principalmente poliuretanos e policarbonatos, mas tem afirmado que pretende sair completamente do negócio mais adiante. Um ano antes, a Bayer adquiriu a unidade de remédios sem a exigência de prescrição médica da americana Merck & Co. por 14,2 bilhões de euros.

A Bayer informou que a oferta da Monsanto não estava sujeita a condições de financiamento e que estava “muito confiante” em sua capacidade de financiar a transação, tendo como base as discussões com seus bancos financiadores, o Bank of America Merrill Lynch e o Credit Suisse.

Analistas têm especulado que a Bayer pode ter que acelerar sua saída da Covestro ou vender sua divisão de saúde animal para ajudar a financiar o acordo. Baumann insistiu que mudanças no portfólio não serão necessárias.

A Bayer afirmou que uma fusão com a Monsanto impulsionaria os lucros básicos da Bayer em torno de 5% por ação no primeiro ano depois do negócio ser concluído, e em um percentual de dois dígitos depois. A empresa alemã também informou que a união iria gerar sinergias de US$ 1,5 bilhão após três anos.

 

The Wall Street Journal, 24/05/2016

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