Enquanto diversas economias do mundo preveem um aumento em torno de 20% na produção de alimentos, a meta do Brasil, proposta pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é de 40% até 2050. A adoção de novas tecnologias e ferramentas que auxiliem na gestão de custos e sustentabilidade das lavouras é fundamental para alcançar o objetivo.
Mão de obra especializada e sistemas de agricultura de precisão reduzem os impactos ambientais da produção e melhoram a gestão das propriedades. Pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) aponta que 53% dos produtores do país usam algum tipo de tecnologia de agricultura de precisão. Esse mercado no Brasil representou, no ano passado, R$ 300 milhões baseados no consumo de tratores e colheitadeiras, enquanto mundialmente movimenta US$ 2 bilhões, de acordo com Marcio Renato Muraro, diretor da AG Leader, empresa americana que oferece monitores para a dispersão de insumos no campo.
Em maior ou menor grau os produtores começam a adotar algum tipo de sistema para mecanizar a cultura. “O setor busca tecnologias para uso racional da aplicação de agroquímicos que têm peso importante no custo da lavoura e evita desperdícios”, afirma Muraro. A AG Leader oferece um sistema que, integrado ao trator da colheitadeira, determina a largura de suas passadas no campo, orientando o operador por GPS para aplicações de fertilizantes, herbicidas, calcário ou outros insumos. O equipamento é instalado junto com os componentes hidráulicos do trator ou caminhão e informa a correta variação da dose de aplicação a partir de indicações agronômicas e as condições do solo. Por meio de informações sobre a área de cultivo o sistema fornece o volume ideal de produto que deve ser dispensado por hectare. Um monitor com GPS orienta o veículo.
Por meio de coleta de amostras do solo, são avaliados os macronutrientes da lavoura e o rendimento dos insumos por tonelada, mapeando os pontos onde os produtos serão dispensados. Com base nas informações sobre o estado nutricional do solo, o sistema é programado para dispensar os produtos de forma mecanizada.
Uma das principais reclamações dos produtores é o descontrole dos custos da propriedade. “Geralmente ele sabe quanto custa a tonelada de soja, milho, cana, eucalipto, mas não o rendimento real da operação na fazenda”, diz o gerente comercial da CHB Sistemas, Gley Camillo. A empresa oferece o software CHB Agro que monitora operações agrícolas por fazenda, talhão e cultura, além de controlar despesas com veículos. É possível apurar os diversos custos agrícolas com frota, estoque e recepção de materiais envolvidos na operação do campo, incluindo máquinas, abastecimento e serviços.
“O que antes era feito em papel, o produtor vai lançando no sistema, informando o horário do início e término do plantio, insumos que usa, custo do veículo, gastos com combustíveis e as notas fiscais”, diz Camillo. Como o sistema trabalha no conceito de computação em nuvem, não é necessário um servidor especializado para rodar o software, que também pode ser acessado no tablet ou celular. A partir das informações, o sistema aponta quais faturas vão vencer, enviando e-mails de alerta e os desvios de produtividade, além de informar sobre o planejamento e manutenção dos veículos. “O produtor consegue apurar o seu custo de produção por hectare alimentando o sistema com os apontamentos que faz no dia a dia”.
É comum o produtor rural não saber qual seu custo real pois conta apenas com um sistema rudimentar de fluxo de caixa e contas a pagar anotado em planilhas. “Nosso principal público é o pequeno e médio produtor rural que precisa saber seu custo agrícola real mês a mês para não quebrar”, completa Camillo.
Na criação de animais, o gargalo são os gastos com a ração dispensada à criação. Para esse mercado, a Casale, de São Carlos (SP), lançou o Feeder, um sistema distribuidor de ração para animais em semiconfinamento. “Hoje é muito difícil encontrar mão de obra rural, por isso o grande apelo do sistema é substituir o trabalho manual pelo mecanizado”, afirma o supervisor regional de vendas da Casale, William Matheus Dantas Araújo.
O Feeder é integrado ao trator ou caminhão e suporta três toneladas de ração pronta e suplementos alimentares. Conta com balança de precisão e informa quanto deve ser colocado no coxo de acordo com o peso dos animais, reduzindo o custo com a ração e economizando o tempo de trator. O sistema de autocarregamento de ração tem uma balança eletrônica programável que informa o volume ideal para depósito nos coxos, sem desperdício de ração.
Com custo médio de R$ 200 por hora máquina no campo, o produtor quer melhorar a gestão de equipamentos e equipes de trabalho. A Simova, de São José dos Campos, oferece o Bob Agro, um software especializado no controle e supervisão de máquinas. “O foco é transmitir para o campo informações planejadas e receber a realidade da execução do trabalho, diminuindo o tempo das máquinas paradas”, diz o diretor de inovação da Simova, Fábio Calegari.
Valor Econômico, 29/05/2014