Quinze dias após assumir o comando da Syngenta, Eric Fyrwald, veio a São Paulo, para iniciar contato com o time do Brasil. O intuito é compreender minuciosamente as demandadas e oportunidades de crescimento do agronegócio no Brasil.
“Queria vir logo para cá mostrar minha cara”, afirmou ao Valor Econômico o novo CEO da Syngenta, em sua primeira entrevista exclusiva após assumir o cargo. “Não tenham dúvidas: o Brasil continuará sendo “top””.
Lutar pela liderança, é o caminho seguido em meio ao cenário atual, onde ocorrem extensas transformações, até mesmo por parte da Syngenta. Logo o controle da gigante suíça passa a China National Chemical (ChemChina), resultado de uma aquisição de US$ 43 bilhões.
O executivo precisará se adequar a um novo cenário no mercado mundial de comércio de pesticidas, inseticidas, fungicidas e de distribuição de sementes. Já que possíveis uniões entre concorrentes poderão afetar o negócio. Mas a Syngenta está em uma posição favorável nessa disputa, disse Fyrwald segundo informações do Valor . “Continuaremos a investir de forma agressiva em pesquisa, enquanto os outros terão algumas distrações pela frente”.
“Grandes fusões geralmente acarretam muitos anos de ruptura”, explicou Fyrwald. “Pense só nos empregados. Quando duas grandes empresas se juntam com o desafio de reduzir custos, isso é um problema. Elas superarão com o tempo, mas é desafiador. Para nós, isso não é problema. Enquanto elas se distraem com essas questões, estamos focados em inovar”.
A aquisição da Syngenta pela estatal chinesa surpreendeu a todos, pelo fato de pouca proximidade cultural das empresas, mas principalmente porque a Monsanto, meses antes, havia oferecido US$ 3 milhões a mais pela aquisição da companhia.
Para o novo CEO da Syngenta, porém, o negócio com a empresa chinesa faz sentido. O maior trunfo? Escapar da pressão de acionistas. Ex-executivo da multinacional DuPont, onde ficou por 27 anos, Fyrwald tem conhecimento de como é a pressão pela entrega imediata de resultados. “Não há uma consolidação com a Syngenta – apenas a transferência de controle”, disse.
“As outras mudanças ocorrem devido a desafios econômicos maiores. As empresas estão se juntando por pressão dos acionistas, sobretudo nos EUA, com ativistas pedindo reduções bruscas nos custos. Então, o que se vê é um ajuste como razão central para a fusão”.
Com os chineses, o objetivo é ganhar fôlego financeiro para a inovação. “Queremos continuar na liderança mundial e vamos investir para isso”, afirmou ele, enfatizando as pesquisas com soja e milho e a necessidade de novas combinações de defensivos que elevem a produtividade no campo. Hoje, 10% do faturamento da Syngenta é comprometido com Pesquisa & Desenvolvimento (P&D).
Fyrwald sucedeu John Ramsay na Syngenta, num momento em que a indústria também se vê às voltas com a queda nos preços das commodities, o que reduziu o poder de compra de tecnologias pelo agricultor. No primeiro trimestre deste ano, a foi registrado queda equivalente a 7% na receita líquida, para US$ 3,7 bilhões, afetada também pelo efeito do câmbio e da retração na demanda na América Latina.
No Brasil, estima-se que a Syngenta, com 20% do mercado de defensivosprincipal mercado da empresa, perca a liderança caso ocorra a comentada fusão entre Bayer e Monsanto, que daria resultado a uma empresa com 22% do mercado. Os defensivos movimentaram no país cerca de US$ 9,6 bilhões em 2015. O mercado de sementes, avaliado em US$ 4 bilhões por ano, tem como líder no país a Monsanto.
Para a China, até então marginal nesse debate, a ChemChina representa uma entrada triunfante no agronegócio. Grande importador de grãos, o país tem como plano reduzir sua dependência de mercados externos e elevar sua segurança alimentar. Uma proposta de compra bem-sucedida ajudaria a China a combater ervas daninhas e pragas diante da menor oferta. A compra também colocaria a ChemChina no rol de empresas de transgênicos, em competição direta com a Monsanto, que lidera o mercado.
Questionado sobre críticas em relação à facilidade que a Syngenta teria em aprovações de novas tecnologias na China, em detrimento de produtos da concorrência, Fyrwald disse que o foco das pesquisas não será a Ásia, mas grandes mercados emergentes em geral. “A Syngenta é parte da indústria global, e não faria sentido desenvolver tecnologias só para a China. Passamos pelo mesmo processo regulatório em qualquer país, e queremos que esse processo continue sendo baseado em ciência e seja transparente, não político”.
A compra da Syngenta é analisada pelas autoridades regulatórias dos EUA e da Europa, e deverá ser finalizada até o fim desse ano, diz o executivo. “Não há sobreposição de áreas. Seremos o braço agrícola da ChemChina. Nada muda. Continuamos uma empresa com sede na Suíça, continuamos a Syngenta, com um conselho composto por membros históricos da empresa e alguns representantes chineses. Quem ganha é o agricultor”.
Equipe Global Agrochemicals – baseada em informações do Valor Econômico, 16/06/2016