MERCADO

Venda de defensivos cresceu em ritmo menor no Brasil em 2014

Venda de defensivos cresceu em ritmo menor no Brasil em 2014


As vendas de defensivos agrícolas bateram um novo recorde no país em 2014, mas o ritmo de avanço do segmento arrefeceu em relação aos anos anteriores. Levantamento recém-concluído pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) indica que a comercialização rendeu US$ 12,2 bilhões, 6,9% a mais que em 2013 (US$ 11,4 bilhões). Mesmo festejado pela indústria, o resultado sinaliza que o ciclo de crescimento de dois dígitos, registrado nos cinco anos anteriores, pode ter ficado para trás.

“Claro que dependerá muito do preço das commodities, do dólar e do clima. Mas o crescimento médio de 15% ao ano [de 2009 a 2013] foi muito positivo, até meio atípico, e já não deve se repetir”, disse ao Valor Amaury Paschoal Sartori, vice-presidente executivo do Sindiveg. A disparada alçou o Brasil ao topo do mercado global de defensivos, com pouco mais de 20% de vendas totais estimadas em US$ 56,5 bilhões. Os EUA ocupam a segunda colocação, com um mercado próximo de US$ 9 bilhões.

A desaceleração de 2014 foi fruto da combinação entre problemas climáticos (que estimularam a redução dos investimentos nas lavouras) e a diminuição da área plantada de culturas como milho, cana e algodão. Mas a soja ampliou sua participação nas vendas totais – de 51,3%, em 2013, para 56% no ano passado – e voltou a embalar o segmento.

A hegemonia da soja contribuiu também para que a comercialização de fungicidas apresentasse o incremento mais significativo entre as categorias de defensivos: 12,1%, para US$ 2,91 bilhões. O impulso foi dado pela maior necessidade de combate à ferrugem asiática, fungo responsável por perdas consideráveis em lavouras do grão. “Condições climáticas favoráveis à ferrugem e o desrespeito ao vazio sanitário em algumas regiões ajudaram a elevar a pressão da doença”, avaliou Ivan Sampaio, gerente de informação do Sindiveg.

Apesar de os fungicidas terem ganhado peso, a classe permaneceu como a terceira mais vendida, com 24% da comercialização total, atrás dos herbicidas (32%, ou US$ 3,902 bilhões) e dos inseticidas (39,9%, ou US$ 4,892 bilhões). A helicoverpa, lagarta que dizimou lavouras de grãos e fibras duas safras atrás, ainda colabora para manter os inseticidas como o carro-chefe do segmento. “O agricultor está convivendo melhor com a helicoverpa. Mas muitos também cuidaram dela e descuidaram um pouco de outras pragas consideradas secundárias, como as lagartas falsa-medideira e do cartucho, e a mosca branca”, afirmou Sampaio.

Os números do Sindiveg revelam, ainda, que a receita dos produtos chamados de “especialidades” (patenteados, portanto mais caros) aumentou em relação à dos genéricos: passou a 51,3% no ano passado, ante 45% em 2013. Em volume, porém, os patenteados ficaram apenas com 24% de participação, embora acima dos 18,5% do ano anterior. “Foram lançados mais dois ou três produtos diferenciados no ano passado, principalmente fungicidas, que justificam esse aumento dos especialidades”, contou o gerente do sindicato.

Este ano, o clima mais úmido tem favorecido os plantios de cana, café e citros, o que, a princípio, sugere um cenário melhor de vendas para esses segmentos, na perspectiva do Sindiveg. Com os problemas de seca que afetaram essas três importantes culturas de São Paulo em 2014, o Estado caiu no ranking de vendas do segundo para o quarto lugar, com US$ 1,479 bilhão. Mato Grosso, como já era esperado, seguiu na liderança, com US$ 2,567 bilhões, seguido por Rio Grande do Sul (US$ 1,582 bilhão) e Paraná (US$ 1,574 bilhão).

No momento, chama a atenção a lentidão nas negociações de insumos no país. “Os produtores estão esperando uma melhor definição do dólar para saber se compram defensivos agora ou não”, disse Sampaio. Normalmente, acrescentou o executivo, 65% das vendas se concentram no segundo semestre, mas em 2015 a balança pode pender ainda mais para a última metade do ano. “O primeiro trimestre começou fraco e isso se refletiu nas importações de produtos técnicos e formulados, que caíram ao menos 20% em volume”, afirmou.

Para 2015, a expectativa do Sindiveg é que as vendas de defensivos cresçam modestamente, de 1% a 2%, ou permaneçam estáveis. “Os mercados de milho e cana, por exemplo, têm patinado, mas a soja pode tirar essa diferença, como sempre”, concluiu Sampaio.

Valor,  28/04/2015

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