MERCADO
Venda interna de defensivos acumula queda de 15%
Venda interna de defensivos acumula queda de 15%
A indústria brasileira de defensivos agrícolas prevê para este ano repetir o desempenho de 2014 ou, se o cenário não mudar, registrar queda no faturamento. A redução de capital próprio dos produtores, taxas de juros mais altas para o financiamento agrícola e a valorização do dólar são alguns dos fatores que têm levado ao adiamento da compra. Até o momento, as vendas internas do setor acumulam queda de 15% em relação a igual período do ano passado, de acordo com o diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher.
Quando avalia a estimativa de faturamento do setor em dólares para a safra 2015/2016, Daher prevê um recuo de aproximadamente 7%, para US$ 11,4 bilhões (mesmo faturamento verificado em 2013), em 2014/2015, foram US$ 12,2 bilhões.
– Se no começo do ano estimávamos um crescimento de 2% a 3%, a perspectiva agora é de andarmos de lado ou vermos uma pequena redução, considerando o faturamento em reais. Isso não necessariamente implica em vendas menores até o final da safra. Haverá concentração da entrega em um período muito curto, o que deve acarretar problemas logísticos – disse ele.
Os efeitos das taxas de juros mais altas, fixadas para as linhas de crédito disponibilizadas no Plano Agrícola e Agropecuário 2015/2016, ainda são incertos. Enquanto em 2014/2015 os juros para linhas de custeio variaram de 5,5% a 6,5%, neste ano-safra ficarão entre 7,75% e 8,75%.
– O produtor irá atrás do recurso, até para testar se ele está de fato disponível no banco. Talvez a procura por financiamento seja até maior (que na safra passada) – acredita o executivo.
Além disso, destaca Daher, diferentemente do que se observou nas duas últimas safras, o produtor está menos capitalizado. Enquanto em 2013 e 2014 até 50% dos custos iniciais da produção eram financiados com recursos próprios, em 2015 este percentual retornou ao patamar pré-2013, de cerca de 30%.
– Estamos retornando ao cenário anterior, em que tradings e bancos respondiam por dois terços do custeio da safra – afirma.
A Andef avalia que Mato Grosso continuará sendo o principal mercado consumidor de defensivos do país, respondendo por cerca de 21% das vendas do setor. Na safra passada, Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul apareceram em seguida, com cerca de 13% de participação cada um. Em 2015/2016, contudo, o Rio Grande do Sul deve elevar sua contribuição às vendas do segmento, enquanto São Paulo, que vive simultaneamente as crises dos setores de citrus e cana, possivelmente reduzirá o consumo de defensivos. Para a entidade, a região do Matopiba, que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, manterá a taxa de crescimento de consumo destes produtos verificada nos últimos anos, em torno de 10%.
Como no ano passado, os inseticidas devem liderar as vendas do setor, respondendo por cerca de 40% dos defensivos comercializados no país. O clima seco, favorável à ocorrência de insetos nas lavouras, leva a um maior consumo deste tipo de produto. Outros 27% das vendas corresponderão a herbicidas e 25%, a fungicidas. As culturas da soja e do algodão devem dar sustentação às vendas das empresas no ano safra que se inicia. Produtores de café, que têm sido bem remunerados, também podem retomar suas compras dos produtos. Já os de cana poderiam vir a reduzir os investimentos nesta área, devido à crise por que passa o setor, segundo Daher.
Sindiveg
O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), que reúne 50 empresas de defensivos e responde por 98% do mercado nacional, traz uma perspectiva semelhante para a safra 2015/2016. Segundo a entidade, a queda nas vendas no primeiro trimestre do ano (últimos dados disponíveis) em relação a igual período de 2014 chegaram a 20%. Assim como a Andef, contudo, o Sindiveg não acredita que o resultado do final do ano será menor que o de 2014.
– A queda deve ser revertida e os volumes vendidos provavelmente se manterão no nível do ano passado – diz Silvia Fagnani, vice-presidente executiva do Sindiveg.
Ela reforçou as reclamações do setor agrícola de que os recursos para o custeio, ainda que existam no papel, não estão chegando ao produtor.
– Temos ouvido muitas queixas nesse sentido – afirma.
Outra mudança esperada para esta safra diz respeito às vendas para os produtores de soja. A commodity, que hoje responde por 55,5% de todos os negócios da indústria de defensivos, pode diminuir sua participação no bolo para 40,5%.
– Isso porque estamos esperando uma redução na área plantada da commodity.
Também podem ocorrer quedas de vendas para produtores de café, por conta da seca que afeta a produção no Brasil. O segmento, contudo, representa apenas 2,5% das vendas da indústria.
Canal Rural, 03/07/2015