NOVAS TECNOLOGIAS
Investimentos em pesquisa e manejo tentam reduzir resistência nas lavouras
Investimentos em pesquisa e manejo tentam reduzir resistência nas lavouras
Pressionada pelo aumento da resistência de pragas, doenças e plantas daninhas ao uso contínuo de agroquímicos, a agricultura brasileira é desafiada a buscar soluções específicas para o clima tropical — propício à proliferação de insetos, fungos e inços. A cada ano, a redução da eficácia de defensivos nas lavouras, na mesma lógica de antibióticos consumidos por humanos, vem tirando mais horas de sono dos produtores e de pesquisadores.
O problema da resistência no Brasil é verificado em lavouras de soja, trigo, arroz, algodão, hortaliças e frutas, com manifestações diferentes em cada Estado (veja no quadro ao lado os casos mais frequentes no Rio Grande do Sul). Terror dos sojicultores no início dos anos 2000, a ferrugem asiática voltou a assombrar os agricultores recentemente quando o fungo começou a mostrar resistência aos principais químicos utilizados para o seu controle.
A redução na ação de fungicidas no combate à doença foi uma das causas que levou a alemã Bayer CropScience a investir em laboratórios no Brasil de monitoramento de resistência a fungicidas, herbicidas e inseticidas. Inaugurados em Paulínia (SP), na semana passada, os centros irão concentrar pesquisas para evitar que moléculas químicas percam sua eficácia no campo.
— O Brasil tem altas temperaturas e umidade, o que dificulta o controle de doenças e pragas. Esses laboratórios buscarão solucões específicas para o clima tropical — disse Liam Condon, CEO global da Bayer CropScience.
No centro de pesquisa, especialistas irão monitorar constantemente as evoluções de fungos, pragas e plantas daninhas para desenvolver soluções voltadas ao manejo da resistência em diferentes regiões do país.
— Temos problemas de resistência na soja, com a ferrugem, no algodão, com o bicudo, além de lagartas em outras culturas — detalha Eduardo Estrada Whipple, presidente da empresa para Brasil e América Latina.
Além dos laboratórios de monitoramento de resistência, a multinacional inaugurou em São Paulo um centro de tecnologia de aplicação, voltado à adaptação do uso de defensivos agrícolas conforme a realidade local. Somente em 2015, a empresa investiu R$ 22 milhões na unidade de pesquisa brasileira. A estratégia de investimento vem também de perspectivas de faturamento. A Bayer estima que, enquanto o mercado de agroquímicos deverá crescer 21% em países de clima temperado, de 2011 a 2017, a alta na agricultura tropical chegará a 34%.
— É no cinturão tropical que estão os ambientes mais desafiadores. É onde temos eventos extremos mais frequentes, solos mais pobres e plantas no campo o ano inteiro — avalia o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, ao comparar a realidade brasileira com a dos Estados Unidos, onde o frio extremo ajuda a fazer o controle natural das lavouras.
ZH Campo e lavoura, 10/11/2015