NOVAS TECNOLOGIAS
Multinacionais apostam em negócios ligados a serviços e agricultura de precisão
Multinacionais apostam em negócios ligados a serviços e agricultura de precisão
Com boa parte das indústrias do agronegócio nas mãos de estrangeiros, o Brasil é vislumbrado por multinacionais do setor como um celeiro para investimentos em serviços. Focadas no aumento da produtividade, empresas não se contentam mais apenas em fazer seus produtos chegarem às lavouras brasileiras — querem também eficiência no uso de suas tecnologias. Para tanto, a expertise de capital humano local passa a ser estratégica para abocanhar mercado no país onde a produção agrícola bate sucessivos recordes.
Somente em 2014, o agronegócio acumulou 49 fusões e aquisições no Brasil, sendo 23 delas envolvendo multinacionais. Conforme levantamento da PricewaterhouseCoopers (PwC), com dados de janeiro a outubro, as transações do setor representam 7% de todos os negócios feitos no país.
— Os investimentos mais recentes de multinacionais seguem essa tendência, inovação e serviços — detalha Ana Malvestio, sócia da PwC Brasil e líder de agribusiness.
Ao investir em inovação e desenvolvimento, as empresas conseguem colocar seus produtos no mercado com diferencial. O passo seguinte é garantir que a tecnologia cumpra de fato a meta de eficiência produtiva, explica a especialista em agribusiness.
— E isso depende de capital humano local, por isso buscam formar joint venture (parceira entre duas ou mais empresas) para troca de conhecimento.
A porta de entrada das multinacionais no mercado de serviços brasileiro tem sido a agricultura de precisão. Pioneira no desenvolvimento de equipamentos eletrônicos e software de gerenciamento agrícola no Brasil, a catarinense Arvus foi comprada neste ano pela sueca Hexagon — líder em sistemas de metrologia, soluções, design e visualização. Com sede em Estocolmo, atua em 40 países e faturou 2,4 bilhões de euros em 2013 (R$ 7,8 bilhões).
— Eles queriam montar uma operação robusta no agronegócio e viram na nossa empresa uma oportunidade concreta — afirma Gustavo Vieira, diretor comercial da Arvus, que no ano passado faturou R$ 14 milhões atuando em diversas regiões do país.
Desde a aquisição, em maio deste ano, a empresa de Florianópolis ampliou de 75 para cem o número de funcionários e começou a certificar produtos tecnológicos para exportá-los à Europa, onde a multinacional também fez aquisições no setor.
Com a injeção do investimento estrangeiro, a Arvus irá agora ampliar a atuação no Brasil nos mercados florestal e de grãos. Há quatro anos, Gilson Agostinetto, de Sanaduva, usa controladores da Arvus para aplicação à taxa variável de sementes, corretivos de solo e fertilizantes. Desde então, reduziu em 40% o uso de produtos na propriedade de 4 mil hectares.
— Muitas vezes, a aplicação era feita onde não precisava. Não se fazia análise do solo e mapeamento de áreas — conta Agostinetto, que elevou em 20% a produtividade das lavouras de soja e milho.
Experiência na gestão do solo e do clima
Parte das investidas de multinacionais no mercado nacional de serviços busca driblar a variabilidade do solo e do clima brasileiro. Em setembro, a Monsanto começou a estruturar no Brasil o time da Precision Planting, empresa de agricultura de precisão americana comprada há dois anos por US$ 250 milhões.
— Entramos nesse mercado por perceber que muitas vezes a produtividade de nossos produtos não era alcançada por questões operacionais no campo — explica José Galli, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Precision Planting.
Com 12 funcionários, a empresa da Monsanto será expandida em 2015 para o Centro-Oeste e Região Sul. A linha de equipamentos da marca é vendida no Brasil com parceiros, como a indústria gaúcha de implementos Stara, que comercializa um distribuidor de sementes para plantadeiras desenvolvido pela empresa americana. Além da coleta de dados durante o plantio, o portfólio da Precision Planting inclui ainda sensores e monitoramento da colheita.
— O plantio é a operação mais importante para explorar todo o potencial da semente. É o momento em que ainda é possível corrigir eventuais falhas — explica Galli.
Além da aposta no serviço de agricultura de precisão, a Monsanto fará testes para colocar no Brasil a Climate Corp, especializada em monitoramento climático, comprada em 2013 por US$ 930 milhões.
Parcerias ajudam a encurtar o caminho
Não é regra, mas o ensaio para explorar o setor de serviços no Brasil costuma ser feito por meio de joint ventures (parceria entre duas ou mais empresas). O caminho ajuda multinacionais a entrar com mais facilidade no mercado brasileiro.
No começo de dezembro, a John Deere anunciou a conclusão da compra de 100% da Auteq Telemática, empresa de softwares e computadores de bordo com sede em São Paulo. Ainda em 2009, ambas formaram uma joint venture para trazer ao Brasil tecnologias para a produção canavieira. Mais recentemente, as inovações foram estendidas para a produção de grãos, com vistas a aumentar a capacidade produtiva das lavouras.
— Tivemos uma excelente oportunidade com a Autec, que passou a fornecer parte das tecnologias usadas nos nossos equipamentos — diz Rodrigo Junqueira, diretor de vendas da John Deere Brasil.
A aquisição, segundo o executivo, vai ao encontro do objetivo de oferecer soluções integradas — ao extrair o melhor do equipamento e dar suporte a decisões rápidas e adequadas.
— É preciso analisar cada situação para saber se é melhor buscar tecnologia e conhecimento fora do país ou investir aqui — avalia Junqueira.
Zero Hora, 23/12/2014