NOVAS TECNOLOGIAS
Primeira soja transgênica totalmente brasileira chega ao mercado
Primeira soja transgênica totalmente brasileira chega ao mercado
A Embrapa e a Basf lançam o Sistema de Produção Cultivance, uma tecnologia que combina a utilização de cultivares de soja com o uso de um herbicida de amplo espectro de ação para o manejo de plantas daninhas de folhas largas e estreitas.
A cultivar atenderá a todas as regiões do país. Mas, em um primeiro momento, alcançará oito estados brasileiros de forma parcial: Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rondônia, Bahia e o Distrito Federal. O lançamento representa um marco para a ciência brasileira por ser a primeira soja geneticamente modificada totalmente desenvolvida no Brasil.
– O sistema Cultivance é, antes de tudo, motivo de muito orgulho para todos nós. Representa uma alternativa especial para o produtor brasileiro porque auxilia no manejo de resistência das plantas daninhas na lavoura de soja – afirmou a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, durante o lançamento da semente.
A distribuição leva em consideração as características das cultivares que serão colocadas no mercado na safra 2015/2016. À medida que houver registros de novas cultivares de soja, a comercialização será expandida para outros estados. A soja Cultivance está aprovada para importação em 17 países e na União Europeia.
O diferencial está na combinação de variedades geneticamente modificadas e no uso de herbicidas da classe das imidazolinonas para o controle de plantas daninhas.
– Essa ferramenta, ao ser integrada ao sistema de produção de soja, abre perspectiva para que o produtor brasileiro possa rotacionar herbicidas com diferentes mecanismos de ação para o manejo de plantas daninhas de difícil controle – explica o pesquisador da Embrapa Soja, Carlos Arrabal Arias. Ele se refere à possibilidade de o produtor alternar entre diferentes tecnologias para evitar a seleção de plantas daninhas resistentes.
O Brasil tem atualmente 34 casos de resistência de plantas daninhas. A cada safra, o manejo de espécies como a buva, o azevém e o capim-amargoso preocupa mais produtores, técnicos e pesquisadores.
A importância da rotação de princípios ativos
O uso excessivo e frequente de um mesmo herbicida na mesma lavoura tem como uma das principais consequências o aparecimento de plantas daninhas resistentes. Voltado à solução desse problema, o Sistema de Produção Cultivance chega ao mercado como opção tecnológica para auxiliar os agricultores no manejo de plantas daninhas resistentes ao glifosato, principal herbicida utilizado atualmente por sojicultores.
O pesquisador Fernando Adegas, da Embrapa Soja, explica que a seleção de plantas daninhas resistentes a herbicidas é resultado do uso continuado do mesmo produto na mesma área, sem a rotação de mecanismos de ação. Ao se usar o mesmo herbicida, por um longo período de tempo, o produto elimina a maioria das plantas daninhas, mas seleciona as que são mais tolerantes e as resistentes a ele.
– A médio e longo prazos, as plantas resistentes selecionadas aumentam nas lavouras e começam a causar problemas para seu controle – explica Adegas.
Longo trajeto de pesquisa
O desenvolvimento dessa tecnologia levou quase 20 anos, considerando desde a pesquisa em laboratório até seu registro comercial e chegada ao campo. Seguindo rigorosos processos de segurança, a Embrapa Soja (PR) realizou vários cruzamentos genéticos para obter cultivares com grande potencial produtivo e que expressassem tolerância ao herbicida da classe das imidazolinonas.
Em 2009, a CTNBio aprovou formalmente a comercialização da tecnologia Cultivance no mercado brasileiro. Em seguida, Basf e Embrapa buscaram aprovação dessa tecnologia em diversos países compradores da soja brasileira, como China e União Europeia.
Em 2013, foi feito o primeiro registro comercial de uma cultivar do Sistema Cultivance. Embora tenha sido aprovada no Brasil em dezembro de 2009, as duas empresas desenvolvedoras decidiram aguardar as aprovações dos países importadores da soja brasileira, como China, Estados Unidos, Japão e, por fim, a União Europeia, para lançar a tecnologia no Brasil.
– Por isso, foram quase 20 anos desde o início da pesquisa conjunta até sua regulamentação comercial nos principais países compradores da soja brasileira – diz o pesquisador Arrabal Arias.
A Basf possui a patente do gene ahas (gene aceto-hidroxiácido sintase), extraído da planta Arabdopsis thaliana, que confere tolerância ao herbicida da classe das imidazolinonas. Em 1997, a Basf disponibilizou o gene ahas para a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), que desenvolveu um método inovador de transformação vegetal, possibilitando sua introdução no genoma da soja.
Estadão, 26/08/2015