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Praga de grãos desenvolve resistência ao frio e desafia controle por refrigeração


Estudo revela que o inseto Plodia interpunctella, conhecido como traça-dos-cereais, pode desenvolver maior tolerância ao frio após breve exposição a temperaturas baixas. A descoberta levanta preocupações sobre a eficácia do armazenamento refrigerado como método de controle de pragas em grãos estocados.

Os pesquisadores submeteram os insetos a uma aclimatação de 15 horas a 4 ºC. Após esse período, observaram melhorias significativas na tolerância ao frio, além de alterações no desenvolvimento e na reprodução da praga. Os resultados indicam que, ao contrário do esperado, baixas temperaturas podem fortalecer o inseto ao invés de eliminá-lo.

A praga e o problema

Plodia interpunctella é uma praga cosmopolita com alta capacidade reprodutiva. Seus danos ocorrem principalmente na fase larval, quando os indivíduos formam teias que aglutinam os grãos, favorecem o acúmulo de umidade e propiciam o crescimento de fungos.

Com a crescente resistência a fumigantes como a fosfina e as limitações de métodos alternativos, como atmosferas com baixo teor de oxigênio, o uso de baixas temperaturas tem sido uma solução adotada por muitos armazéns. Porém, essa estratégia pode ser menos eficaz do que se imaginava.

Efeitos da aclimatação

Durante o experimento, os pesquisadores observaram queda significativa no ponto de supercongelamento (SCP, na sigla em inglês) das larvas e pupas do inseto. Esse ponto determina a temperatura em que o corpo congela espontaneamente. Larvas da quarta fase instar apresentaram a maior redução no SCP, o que indica um aumento expressivo na tolerância ao frio.

Além disso, a exposição ao frio ativou o sistema antioxidante do inseto. A atividade das enzimas superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e peroxidase (POD) aumentou em todos os estágios do desenvolvimento, especialmente nas larvas. Essas enzimas protegem as células contra o estresse oxidativo provocado por baixas temperaturas.

Maior fecundidade

Os insetos aclimatados ao frio apresentaram desenvolvimento mais acelerado em temperaturas moderadas. A fase pupal, por exemplo, foi reduzida em quase um dia a 24 ºC. Já a fase adulta teve redução de cerca de 6 horas. A duração total do ciclo de vida caiu de 64,6 para 62,3 dias.

Outro dado relevante diz respeito à fecundidade. Fêmeas aclimatadas ao frio produziram mais ovos (312, em média) do que aquelas não aclimatadas (273) a 24 ºC. A diferença foi estatisticamente significativa. Em temperaturas mais elevadas (28 e 32 ºC), a aclimatação não causou alterações relevantes na reprodução.

Pigmentação mais escura

Após a exposição ao frio, as larvas apresentaram coloração corporal mais escura. Larvas da segunda instar passaram de rosa-claro para tons arroxeados. Já as da quarta instar passaram de amarelo-pálido para cinza. Essa mudança pode estar relacionada à regulação térmica do corpo, uma vez que pigmentações escuras absorvem mais calor.

Controle de pragas

O estudo conclui que a aclimatação ao frio pode representar um desafio para o controle baseado em baixas temperaturas. As respostas fisiológicas da praga indicam que sua exposição prévia ao frio pode induzir mecanismos de defesa que a tornam mais resistente a esse tipo de ambiente.

Essa adaptação pode reduzir a eficácia de técnicas de armazenamento refrigerado, especialmente em ambientes com variação térmica. Como o experimento foi realizado em condições laboratoriais controladas, os autores recomendam novas pesquisas em ambientes reais, com ciclos térmicos diurnos e sazonais, para avaliar o impacto prático das descobertas.

 

Fonte: Revista Cultivar, publicado em 03/09/2025

Fonte da imagem: Freepik

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