SUSTENTABILIDADE
Controle biológico ganha destaque com predador eficiente contra lagarta-do-cartucho

O besouro predador Calosoma chinense, conhecido na China como “Rei do Apetite”, demonstrou elevada capacidade para controlar Spodoptera frugiperda, popularmente chamada de lagarta-do-cartucho.
O estudo, conduzido por pesquisadores do Instituto de Proteção de Plantas da Academia de Ciências Agrícolas de Henan, avaliou o comportamento predatório do inseto em laboratório. Os resultados revelaram que tanto as larvas quanto os adultos de C. chinense atacam diferentes estágios da lagarta invasora, incluindo formas larvais e adultas.
Desde a introdução de S. frugiperda no território chinês em 2019, a praga expandiu-se para as regiões produtoras do norte e sul, ameaçando a segurança alimentar do país. A resistência crescente a inseticidas agravou a situação. O uso de inimigos naturais locais passou a ser considerado uma estratégia prioritária para o manejo sustentável da praga.
No experimento, fêmeas adultas de C. chinense consumiram até 38,9 lagartas de primeiro ínstar por dia, número mais elevado entre todos os estágios testados. Larvas de terceiro ínstar também exibiram desempenho expressivo, especialmente contra larvas jovens de S. frugiperda. A preferência alimentar do predador recaiu sobre estágios iniciais da praga, com tendência negativa para instares mais avançados e adultos.
O estudo identificou que o C. chinense mantém comportamento ativo de caça, utilizando mandíbula superior para capturar e consumir as presas. Os testes apontaram que mesmo larvas pequenas do besouro conseguem subjugar lagartas maiores. O ataque segue um padrão: busca, aproximação, ataque, perfuração do tegumento e extração de fluido corporal. Restos rígidos, como a cápsula cefálica, frequentemente permanecem após a predação.
Pesquisadores validaram a identidade do predador por métodos morfológicos e por sequenciamento do gene mitocondrial COI, confirmando tratar-se de Calosoma chinense. Este besouro ocorre em diversas províncias chinesas e adapta-se bem às condições agroecológicas da faixa produtora de milho no cinturão Huang-Huai-Hai.
Além da forte capacidade predatória, C. chinense demonstrou comportamento defensivo. Quando atacado por presas maiores ou após alcançar saciedade, expele secreções brancas de odor desagradável. Essa defesa química, típica dos Carabidae, indica um mecanismo eficaz de sobrevivência.
O modelo de resposta funcional do tipo II descrito no estudo mostrou que, com o aumento da densidade de presas, cresce a taxa de consumo até um ponto de saturação. Esse padrão sugere que C. chinense consegue reduzir populações de S. frugiperda mesmo em densidades iniciais baixas, característica desejável em agentes de controle biológico.
A análise comparativa entre machos, fêmeas e larvas do predador indicou que as fêmeas adultas superam os demais em eficiência predatória, seguidas pelos machos e pelas larvas de terceiro ínstar. No entanto, não se observou diferença significativa entre esses três grupos quanto à predação de presas mais desenvolvidas.
Embora os resultados em laboratório sejam promissores, os autores alertam que fatores como temperatura, umidade, estrutura do habitat e presença de presas alternativas podem afetar o desempenho do predador no campo. Recomendam-se testes adicionais em condições reais para validar o potencial de C. chinense em áreas agrícolas.
O predador também apresenta vantagens sobre inimigos naturais parasitóides, pois elimina rapidamente suas presas, impedindo que continuem se alimentando das plantas. Isso pode reduzir danos diretos à lavoura, sobretudo nas fases mais críticas do desenvolvimento do milho.
Além de S. frugiperda, C. chinense preda outras pragas de importância agrícola, como Mythimna separata, Spodoptera litura e Pieris rapae. Esse espectro alimentar ampliado pode torná-lo peça chave em programas de manejo integrado de pragas (MIP).
Há registros de Calosoma chinense na China, Coreia, Japão e Rússia. Não existem registros desse inseto no Brasil.
Fonte: Revista Cultivar, publicado em 23/04/2025
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