SUSTENTABILIDADE

O aumento de lagartas é um problema nas lavouras de todo o país


Lagartas são cada vez mais um problema na agricultura, pois geram prejuízos na safra de milho e soja e na safrinha de milho. Chegaram também a outras culturas como sorgo, milheto, girassol e feijão.

Em face da resistência de pragas a inseticidas químicos e às biotecnologias, especialistas recomendam inserir biológicos como os baculovírus no manejo, visando a obter melhor eficácia de controle.

Nos últimos anos, as lagartas têm se tornado uma das pragas mais destrutivas nas lavouras e pastagens brasileiras, afetando diretamente a produção agrícola e pecuária. A recente infestação de lagartas em pastagens, que devastou propriedades rurais em Roraima, é um exemplo claro dos impactos dessas pragas.

Até o momento, a morte de mais de sete mil bovinos e a destruição de 50 mil hectares de pasto geraram um prejuízo estimado em R$ 63 milhões. Esses danos foram agravados pelo desequilíbrio ambiental causado pelo fenômeno El Niño, que reduziu a população de predadores naturais das pragas e permitiu a rápida proliferação das lagartas. As lagartas, como a Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho) e o Mocis latipes (curuquerê-dos-capinzais) têm se mostrado especialmente prejudiciais, destruindo pastagens e culturas agrícolas como milho, sorgo, soja e girassol.

As espécies de lagartas que causam os maiores prejuízos nas culturas de milho, soja, sorgo, milheto, girassol e pastagens incluem a Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho), a Helicoverpa armigera, a Anticarsia gemmatalis, e o Mocis latipes (curuquerê-dos-capinzais). Essas lagartas atacam as plantas, alimentando-se das folhas e destruindo brotos novos, o que compromete diretamente o crescimento e a produtividade das culturas e pastagens.

Spodoptera frugiperda é particularmente destrutiva em lavouras de milho, sorgo e soja e, mais recentemente, também foi identificada como uma das principais pragas em pastagens de Roraima.

Mocis latipes, conhecido como curuquerê-dos-capinzais, tem devastado vastas áreas de pasto, levando à morte de milhares de bovinos por falta de alimentação. O rápido ciclo de vida dessas lagartas e a capacidade de se adaptarem a diferentes condições ambientais tornam o controle ainda mais difícil.

Além disso, as mudanças climáticas, especialmente o fenômeno El Niño, têm exacerbado o problema ao reduzir a população de predadores naturais das lagartas. Devido à seca prolongada, houve uma diminuição de inimigos naturais, como insetos predadores, sapos e pássaros, permitindo que as populações de lagartas crescessem de forma descontrolada. Esse desequilíbrio ambiental tem consequências devastadoras para os sistemas agrícolas e pecuários, especialmente em regiões como Roraima, onde a estiagem e as queimadas também contribuíram para o agravamento do problema.

A resistência das lagartas aos inseticidas químicos é um problema crescente no Brasil. O uso contínuo e indiscriminado de produtos químicos tem gerado uma pressão seletiva sobre as populações de lagartas, favorecendo a sobrevivência dos indivíduos mais resistentes.

Como resultado, os agricultores são obrigados a aumentar o número de aplicações de inseticidas, o que eleva os custos de produção e reduz a eficácia dos métodos convencionais de controle.

Além dos inseticidas químicos, as biotecnologias, como o uso de plantas geneticamente modificadas que produzem toxinas Bt, também estão perdendo eficácia à medida que as lagartas desenvolvem resistência a essas toxinas. A Helicoverpa armigera, por exemplo, tem mostrado crescente resistência às toxinas Bt, o que compromete o controle e aumenta a dependência de outros métodos de manejo.

O impacto dessa resistência é sentido de forma especialmente severa em regiões onde o uso intensivo de inseticidas e biotecnologias é predominante. No entanto, essa situação também afeta as pastagens de Roraima, onde a ausência de predadores naturais devido ao desequilíbrio ambiental agrava a infestação das lagartas, que se alimentam rapidamente das poucas áreas de pasto ainda disponíveis. A combinação de seca extrema, queimadas e resistência a inseticidas cria um cenário de difícil manejo para os produtores rurais.

Diante da crescente resistência das lagartas a inseticidas químicos, os baculovírus surgem como uma alternativa promissora no manejo biológico dessas pragas. Baculovírus são vírus entomopatogênicos específicos que atacam diretamente as lagartas, sem prejudicar outros organismos benéficos, como predadores naturais e polinizadores. Esse controle biológico tem sido amplamente recomendado por especialistas como parte de uma abordagem integrada no combate às pragas agrícolas. A principal vantagem dos baculovírus é sua especificidade, que evita danos colaterais ao meio ambiente e aos ecossistemas agrícolas. Além disso, estudos mostram que a aplicação de baculovírus pode aumentar significativamente a eficácia do controle, especialmente quando usado em conjunto com inseticidas químicos.

Em áreas onde as lagartas desenvolveram resistência, o uso de baculovírus pode aumentar a taxa de controle de 50 para 85%.

Outro benefício importante dos baculovírus é sua capacidade de prevenir o desenvolvimento de resistência nas populações de pragas. Como são patógenos naturais, eles não exercem a mesma pressão seletiva que os inseticidas químicos, o que prolonga a eficácia dos produtos convencionais e contribui para a sustentabilidade do manejo das pragas. Especialistas em manejo integrado de pragas (MIP) recomendam fortemente a inserção de agentes biológicos, como baculovírus e parasitoides, no controle de lagartas e outras pragas.

A adoção de um MIP eficaz envolve a integração de diferentes táticas de controle, incluindo o monitoramento constante das lavouras, o uso de inimigos naturais, a rotação de culturas e a aplicação estratégica de agentes biológicos. O monitoramento contínuo é essencial para identificar o momento ideal para a aplicação dos agentes biológicos, como os baculovírus, e garantir que eles sejam utilizados de forma eficiente. Além disso, o uso de adjuvantes pode facilitar a penetração dos biológicos nas plantas, aumentando a eficácia do controle.

Fragoso et al. (2014) recomendam a preservação de áreas de refúgio para garantir a presença de inimigos naturais, como predadores e parasitoides, que ajudam a controlar naturalmente as populações de lagartas.

Outra recomendação importante é a diversificação das pastagens e lavouras, incluindo a integração de culturas e pecuária. A rotação de culturas pode ajudar a reduzir a pressão das pragas e aumentar a resiliência das áreas de cultivo. Em regiões como Roraima, onde a monocultura e o manejo inadequado agravaram a situação, a diversificação pode ser uma estratégia eficaz para mitigar os danos causados pelas lagartas e pela seca.

As práticas de manejo sustentável, como o uso de controle biológico, desempenham um papel crucial na mitigação da resistência das lagartas aos tratamentos químicos. A rotação de métodos de controle, como o uso de baculovírus e predadores naturais, reduz a pressão seletiva sobre as populações de pragas e prolonga a eficácia dos inseticidas convencionais.

Resultados de campo com o uso de baculovírus têm sido amplamente positivos. Em várias regiões do Brasil, o uso de baculovírus resultou em uma redução significativa nas populações de lagartas, especialmente em áreas onde a resistência aos inseticidas já comprometia a eficácia do controle. Esses resultados mostram que o controle biológico pode ser uma solução viável para enfrentar a resistência das pragas e garantir a sustentabilidade das lavouras a longo prazo.

Apesar dos benefícios comprovados do controle biológico, sua adoção ainda enfrenta desafios no Brasil, especialmente em áreas remotas, como Roraima. Um dos principais obstáculos é a falta de capacitação técnica entre os produtores rurais, que muitas vezes dependem exclusivamente de inseticidas químicos e desconhecem as alternativas biológicas disponíveis.

Outro desafio é a infraestrutura limitada para a produção e distribuição de agentes biológicos, como baculovírus. Para superar esses obstáculos, é fundamental investir em capacitação técnica e ampliar a infraestrutura para a produção e distribuição de biológicos. Além disso, políticas públicas que incentivem o uso de práticas sustentáveis e ofereçam apoio financeiro aos produtores são essenciais para promover a adoção do controle biológico em larga escala.

 

Fonte: Revista Campo & Negócios, publicado em 29/01/2025

Fonte da imagem: Freepik

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