SUSTENTABILIDADE

O uso dos bioinsumos no manejo de culturas


Para uma produção mais sustentável, a agricultura tem adotado cada vez mais insumos biológicos, que são produtos elaborados a partir de ingredientes ativos naturais, incluindo microrganismos (fungos, bactérias e vírus), extratos vegetais, óleos vegetais, metabólitos secundários, hormônios, feromônios e macrorganismos (como insetos).

Esses bioinsumos desempenham funções essenciais, como controle de pragas e doenças, solubilização de nutrientes, promoção do crescimento e mitigação de estresses bióticos e abióticos.

Os benefícios mais discutidos incluem a sustentabilidade ambiental, já que os produtos biológicos possuem alta especificidade, atingindo apenas os organismos-alvo e preservando inimigos naturais, o que protege a biodiversidade. Além disso, eles não deixam resíduos nos alimentos, água e solo, nem causam fitotoxicidade nas plantas, consolidando-se como uma ferramenta essencial no manejo integrado de pragas e doenças.

É amplamente aceito na comunidade científica que insumos biológicos podem ajudar a mitigar estresses em plantas, como salinidade, doenças, temperaturas extremas e variações na disponibilidade de água.

No Brasil, a adoção de bioinsumos tem se intensificado nas lavouras, promovendo a sanidade das plantas e do solo por meio de suas diversas funções.

De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), o mercado de produtos biológicos no país cresce mais de 30% anualmente, com a comercialização de bionematicidas, biofungicidas, bioinseticidas, bioherbicidas, biofertilizantes e bioestimulantes. Cerca de 20% dos produtos biológicos registrados no MAPA são indicados para o tratamento de sementes, melhorando a qualidade e o estabelecimento inicial das culturas, além de proteger as sementes contra fungos, pragas do solo e condições climáticas adversas.

Os microrganismos são os principais ingredientes ativos nesses bioinsumos, destacando-se fungos do gênero Trichoderma e bactérias do gênero Bacillus, além das bactérias usadas como inoculantes para fixação de nitrogênio, como Azospirillum e Rhizobium.

À medida que a agricultura se intensificou, o equilíbrio biológico do solo foi alterado, impactando a rica diversidade de microrganismos que desempenham funções essenciais nesse ecossistema.

Com a chegada da “Revolução Verde”, surgiram métodos eficazes para o tratamento de sementes, visando protegê-las contra pragas e doenças, em resposta às novas demandas de produção. Nas últimas décadas, esses sistemas evoluíram rapidamente, permitindo lavouras com densidade adequada e desenvolvimento uniforme, refletindo a necessidade de adaptação a um ambiente agrícola em constante mudança.

No Brasil, as práticas de tratamento de sementes progrediram significativamente, passando de métodos manuais para sistemas computadorizados que garantem alta precisão e segurança. A adoção em larga escala de produtos biológicos tem demonstrado um potencial promissor na proteção de sementes, destacando a necessidade de um entendimento claro sobre os bioagentes e suas aplicações.

A maioria dos bioinsumos é composta por bactérias do gênero Bacillus, conhecidas por produzir endósporos, estruturas que garantem sua viabilidade em condições ambientais adversas. Essas bactérias são reconhecidas como rizobactérias promotoras de crescimento, pois colonizam o solo e as raízes, regulando hormônios vegetais e contribuindo para a germinação e o desenvolvimento saudável das plantas. Além disso, elas interagem com outros microrganismos benéficos, favorecendo a microbiota e a solubilização de nutrientes.

Diversas espécies e cepas de Bacillus também apresentam ação nematicida, fungicida e inseticida, atuando por meio de mecanismos como a produção de compostos tóxicos e a formação de biofilmes que protegem as raízes contra patógenos.

Estudo recente investigou o impacto da inoculação de bactérias no desenvolvimento inicial da soja sob condições de seca. A pesquisa avaliou como a inoculação de sementes com bactérias adaptadas ao estresse hídrico pode aprimorar o crescimento das plantas, conferindo-lhes maior tolerância a essa situação. Os pesquisadores selecionaram bactérias resistentes à seca diretamente no ambiente de cultivo em questão. Eles caracterizaram esses organismos quanto aos mecanismos que promovem o crescimento das plantas, como a produção de hormônios, a solubilização de fósforo e a produção de substâncias que atuam como agentes de controle biológico, identificando Bacillus spp. e Pantoea sp.

Os resultados mostraram que as plantas inoculadas apresentaram maior conteúdo de água foliar, melhor integridade do tecido, maior teor de clorofila e eficiência fotossintética em comparação com as não inoculadas. Além disso, essas plantas demonstraram crescimento superior em raízes e parte aérea, maior nodulação e redução de indicadores de estresse oxidativo, sugerindo maior tolerância a condições de estresse.

Os pesquisadores concluíram que essas bactérias influenciam positivamente a morfologia, fisiologia e bioquímica das plantas, promovendo o desenvolvimento da soja em situações de seca. Estudos como este são realizados globalmente e publicados em periódicos acadêmicos de alto impacto, fundamentando o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e acessíveis, essenciais para garantir a segurança alimentar mundial.

O tratamento de sementes de espécies forrageiras com produtos biológicos ainda é limitado, mas apresenta um grande potencial. Recentemente, foi introduzida uma nova tecnologia de sementes de forrageiras, que se destaca por ser livre de microplásticos e protegida com nematicida e fungicida biológico.

Os nematoides representam um sério desafio no Brasil, causando prejuízos significativos, assim como os fungos do solo, que podem levar à podridão das raízes e a perdas consideráveis na densidade das plantas e na produtividade. Para mitigar esses problemas, as sementes são tratadas com um produto biológico que contém a bactéria Bacillus amyloliquefaciens, que é eficaz no manejo de vários nematoides, como Heterodera glycines, Meloidogyne incognita, M. javanica, Pratylenchus brachyurus e Helicotylenchus dihystera, além de fungos como Fusarium verticillioides e Macrophomina phaseolina. A presença da bactéria contribui para a formação de um biofilme protetor no sistema radicular, o que não só ajuda a proteger as raízes, mas também estimula seu crescimento, promovendo uma maior absorção de água e nutrientes, resultando em pastagens de melhor qualidade.

Já estão disponíveis para os produtores sementes que oferecem proteção adicional contra nematoides e fungos por meio de fungicida e nematicida biológico. Essas sementes contam também com uma tecnologia de revestimento exclusiva, livre de microplásticos, que proporciona uma ferramenta extra para o manejo integrado desses patógenos, reduzindo ao mesmo tempo o impacto ambiental. Além disso, as sementes tratadas garantem um bom tempo de prateleira, mantendo a viabilidade das bactérias por vários meses, permitindo que os produtores armazenem as sementes até o momento da semeadura.

A manutenção da hidratação das raízes por períodos prolongados é fundamental para o desenvolvimento saudável das plantas. Por isso, já estão disponíveis tecnologias de formulação aplicadas no tratamento de sementes e no sulco de plantio, que utilizam Bacillus licheniformis, demonstrando eficácia na redução dos efeitos adversos do estresse hídrico e térmico.

Ainda, tecnologias que combinam microrganismos, como Azospirillum brasilense e Pseudomonas fluorescens, têm aumentado a disponibilidade de fósforo e outros nutrientes essenciais. Isso também promove um crescimento radicular mais robusto, permitindo uma maior exploração do solo e contribuindo para uma eficiência aprimorada dos fertilizantes aplicados. As recomendações de uso incluem aplicações tanto no tratamento de sementes quanto no sulco, favorecendo a nutrição das plantas e aumentando a produtividade nas culturas.

 

Fonte: Revista Campo & Negócios, publicado em 30/01/2025

Fonte da imagem: Freepik

 

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