SUSTENTABILIDADE

Produto biológico obtém 100% de eficácia contra a lagarta-do-cartucho


A Embrapa e a empresa suíça Andermatt Biocontrol desenvolveram um produto biológico capaz de provocar a morte de 100% da população da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Batizado com o nome comercial de Spodovir, o biodefensivo tem na composição um vírus que infecta a praga. Isso porque sua base é um baculovírus, tipo de vírus que causa a morte somente de insetos e não prejudica microrganismos, plantas, mamíferos e vertebrados.

O Spodovir será o primeiro lançamento global de um produto biológico com tecnologia Embrapa, pois foi desenvolvido em parceria com uma empresa privada com rede de atuação em diversos países. O produto foi registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle da lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, principal praga do milho, capaz de reduzir a produção dessa cultura em mais de 50%, e pode ser usado em diversos cultivos, tais como soja, sorgo, algodão, arroz, pastagens e hortaliças.

Os biodefensivos à base de baculovírus têm melhor ação quando as lagartas são pequenas, desde recém-nascidas até, no máximo, o tamanho de um centímetro de comprimento, no caso da lagarta-do-cartucho. “O posicionamento do Spodovir no campo é essencial para causar a mortalidade desejada e é dependente da região e do início de ataque da praga”, pondera o cientista, frisando que a eficácia de 100% do produto, obtida em experimentos, foi também resultado da aplicação correta dele.

Valicente destaca que o Spodovir deve ser ingerido pelos insetos para fazer efeito, por via oral. “Dessa forma, a pulverização deve respeitar esse fator (ingestão por parte do inseto) e a operação precisa ser bem-feita. Os baculovírus não possuem ação de contato. Podem ser feitas aplicações a UBV (ultrabaixo volume) desde que com os equipamentos adequados. Serão iniciados testes para a pulverização com drones em soja e algodão”, anuncia o pesquisador.

O produto deve ser aplicado, quando possível, após as 16h, período com menor incidência de raios ultravioletas (UV), que desativam as partículas virais no campo. Outro motivo é que a lagarta-do-cartucho possui hábito noturno, iniciando sua alimentação no início da noite. “Se a pulverização for feita no fim da tarde, não haverá desativação das partículas virais (não há radiação UV) e haverá o consumo do baculovírus que foi pulverizado sobre a plantação, por meio da raspagem das folhas pelas lagartas, causando a morte desses insetos”, explica o pesquisador, ao ressaltar que a aplicação deve ser ajustada com a necessidade e o tamanho da cultura e de acordo com a logística da propriedade.

O Spodovir é resultado de uma parceria firmada em 2015 entre a Embrapa e o Grupo Andermatt. “Após diversos testes realizados nos nossos laboratórios, verificamos que o produto apresentava uma eficácia excelente, o que impulsionou a empresa a fechar a parceria com a Embrapa”, afirma o CEO da Andermatt Biocontrol Brasil, Markus Ritter.

A engenheira-agrônoma Viviane Dutra, responsável pela gerência da Andermatt Brasil, adianta que o custo de uma aplicação do produto por hectare seria de aproximadamente 0,75 saca de milho (considerando, por exemplo, o preço da saca do cereal no último dia 10 de junho a R$ 96,57, o produtor de milho gastaria R$ 72,42 por hectare) e de 0,45 saca de soja (com preço de R$ 167,62; dados do mesmo dia. Dessa forma, o sojicultor gastaria R$ 75,42 por hectare para aplicar o Spodovir).

A gerente explica que o processo de produção do Spodovir ocorre totalmente no Canadá, em uma das unidades da Andermatt especializadas na produção e formulação de baculovírus. “Nosso processo de produção e de multiplicação do vírus é muito criterioso. A equipe tem grande expertise com esse tipo de microrganismo, o que nos proporciona alta qualidade”, destaca.

Sobre a formulação do produto biológico, Dutra relata que ele apresenta alta solubilidade, não forma sedimentos e é de fácil mistura. “Em todos os testes realizados, o Spodovir obteve performance igual ou superior aos produtos já utilizados para o controle da praga. Acreditamos que teremos uma excelente aceitação dos agricultores, uma vez que ele tem alta eficácia, e o agricultor brasileiro já está habituado ao uso de produtos biológicos”, aposta a gerente..

Markus Ritter afirma que a expectativa da empresa é que a comercialização já atenda a demanda dos produtores para os primeiros plantios da safra de milho. “Nosso objetivo é levar soluções aos diversos perfis de produtores, independentemente do tamanho de sua propriedade ou da escolha no manejo da sua lavoura. Estamos prontos para atender todos os públicos, desde pequenos agricultores familiares até os grandes grupos empresariais”, adianta o executivo.

Fonte: Grupo Cultivar, 21/06/21

Fonte da Imagem: Imagem de Fer Galindo por Pixabay

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