SUSTENTABILIDADE

Projeto da UFLA desenvolve biorreator acessível para produção de bioinsumos na propriedade rural


Um novo estudo da Universidade Federal de Lavras (UFLA) desenvolveu um biorreator de baixo custo para a produção de bioinsumos agrícolas. Segundo os desenvolvedores, o equipamento foi projetado para criar condições ideais para o crescimento de microrganismos, como as bactérias utilizadas como base para a multiplicação de biofertilizantes.

O biorreator, conforme explicado pelos pesquisadores, pode ser montado por apenas R$ 1.000 (aproximadamente US$ 195), utilizando materiais comuns, como uma panela de pressão para esterilização. Esse valor é apenas uma pequena fração do custo de equipamentos similares existentes, que podem ultrapassar dezenas ou até centenas de milhares de reais.

O sistema também inclui um meio de cultura para alimentar os microrganismos, bem como um dispositivo para agitação constante do conteúdo do recipiente e injeção de oxigênio, realizada com uma bomba de aquário. Para garantir a movimentação do meio, são utilizadas agitações magnéticas com um ímã de neodímio.

Este meio de cultura alternativo reduz os custos em cerca de 70%, em comparação com os meios comerciais. Enquanto os meios comerciais custam em média R$ 2,50 (US$ 0,49) por litro, o novo meio formulado no estudo custa apenas R$ 0,73 (US$ 0,14) por litro. Isso se deve ao uso de ingredientes acessíveis, como glicerol e levedura de cerveja, tornando a produção mais eficiente e econômica.

O projeto foi desenvolvido pela doutoranda Marcela de Souza Pereira e pela pesquisadora de pós-doutorado Sílvia Maria de Oliveira-Longatti, do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), bolsistas do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da UFLA, orientados pelos professores Fátima Maria de Souza Moreira e Teotônio Soares de Carvalho.

Entre as bactérias benéficas que podem ser produzidas no biorreator da UFLA estão aquelas capazes de realizar a fixação biológica de nitrogênio (FBN). Esses microrganismos convertem o nitrogênio atmosférico, que as plantas não conseguem utilizar, em uma forma disponível para uso. Esse processo é especialmente importante para culturas como feijão e outras leguminosas, que abrigam essas bactérias em suas raízes para obter esse nutriente essencial.

Apesar de diversas cepas de bactérias FBN terem sido aprovadas pelo Ministério da Agricultura, muitos pequenos agricultores ainda não utilizam esses produtos. Isso se deve à falta de informação, o que leva à baixa demanda e, consequentemente, à pouca ou nenhuma oferta no mercado, criando um ciclo vicioso que dificulta o uso desses produtos na agricultura sustentável. O projeto da UFLA visa mudar essa realidade, capacitando os agricultores a compreender os benefícios da FBN e a produzir seus inoculantes com essas bactérias, incentivando a disseminação do uso de bioinsumos entre pequenos e médios produtores.

Para garantir a validade dos resultados em condições reais de cultivo — ou seja, em cenários que refletissem a realidade dos agricultores locais —, foram realizadas quatro oficinas com agricultores do estado de Minas Gerais. Os agricultores aprenderam a preparar seus inoculantes, com o apoio técnico da equipe de Biodiversidade do Solo do INCT (Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia).

“Os resultados foram muito bons: quatro inoculantes foram produzidos por quatro agricultores diferentes, sem contaminação e com concentração de um bilhão de células por mL de produto, superando os padrões exigidos pelo Ministério da Agricultura (Mapa). A qualidade desses inoculantes produzidos pelos agricultores no campo foi equivalente à daqueles produzidos em laboratório por profissionais altamente qualificados”, observou Souza Pereira.

Além disso, disse Souza Pereira, o próximo passo é expandir a produção de inoculantes na propriedade para mais agricultores e também testar a tecnologia com bactérias usadas no controle biológico de pragas e doenças de plantas. “Esta iniciativa não visa apenas aumentar a produção de alimentos, mas também promover uma agricultura que respeite o meio ambiente e contribua para a segurança alimentar. Com essas ferramentas, os pequenos agricultores têm a chance de se tornarem protagonistas de uma mudança significativa na forma como alimentamos o mundo”, disse Marcela.

O projeto “Bioinsumos para a Sustentabilidade Econômica e Ambiental de Pequenos e Médios Agricultores” recebeu financiamento da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), autarquia pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

 

Fonte: Leonardo Gottems – Agrolink, publicado 11/07/2025

Fonte da imagem: Freepik

 

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