SUSTENTABILIDADE

Universidades federais desenvolvem herbicida para manejo sustentável


Uma pesquisa coordenada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em parceria com outras quatro universidades federais, desenvolveu um potencial herbicida seletivo e sustentável para o controle de plantas invasoras. O projeto aposta na síntese de compostos capazes de bloquear a produção de moléculas relacionadas ao processo de fotossíntese, a partir de matérias-primas de fontes renováveis. A iniciativa conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a partir de chamada pública que apoiou o desenvolvimento de manejos agrícolas com baixo impacto ambiental e para a saúde humana (Chamada Pública MCTI/CNPq/CT-AGRO n° 32/2022).

O foco da pesquisa é a enzima 4-hidroxifenilpiruvato dioxigenase (HPPD), essencial para o metabolismo das plantas, justamente por participar da produção de compostos relacionados ao processo de fotossíntese. O mecanismo adotado já é explorado por alguns dos herbicidas comerciais mais eficazes, mas o diferencial da proposta liderada pela UFSCar está na sustentabilidade do processo.

“Desenvolvemos moléculas que não agridem o ambiente e que são seletivas, ou seja, impactam negativamente apenas a planta de interesse, sem danificar a cultura. A enzima HPPD difere em fórmula entre as espécies, então buscamos um composto que atinja apenas a enzima das invasoras”, explica o professor Marcio Weber Paixão, do Departamento de Química da UFSCar, coordenador do projeto.

“Outro aspecto sustentável do projeto é que a produção desse composto utiliza como matéria-prima, majoritariamente, biomassa lignocelulósica, e não derivados de petróleo, promovendo também redução de emissão de CO2”, completa o coordenador.

Além da UFSCar, participam do projeto as universidades federais de Santa Catarina (UFSC), Fluminense (UFF), do Rio de Janeiro (UFRJ) e de Goiás (UFG). A equipe reúne especialistas em modelagem molecular, química orgânica, bioquímica enzimática e fisiologia vegetal.

As moléculas desenvolvidas são derivadas de compostos naturais que passam por reações químicas controladas até se tornarem potentes inibidores da HPPD. Os compostos mais promissores estão sendo testados in vitro — no laboratório — e, também, em condições mais próximas da realidade, em plantas como buva, picão-preto e capim-amargoso — espécies com histórico de resistência a herbicidas tradicionais. A seletividade dos novos compostos é rigorosamente avaliada em culturas de importância econômica como soja, milho, feijão, cana e arroz, para garantir que o herbicida atue apenas sobre as plantas invasoras.

Um dos pilares da pesquisa é a sustentabilidade do processo químico. Os métodos de produção dos herbicidas utilizados priorizam reações de baixo impacto ambiental e o reaproveitamento de resíduos vegetais. Já nos testes biológicos, são usados modelos com enzimas imobilizadas que podem ser reutilizadas várias vezes, reduzindo custos e geração de resíduos.

 

Fonte: Revista Cultivar, publicado em 25/06/2025

Fonte da imagem: Freepik

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