Especialistas levantam cuidados que se deve ter com os principais inimigos naturais da soja na safra 2016/2017
A safra de verão vai batendo à porta dos produtores de soja e quem entende do assunto sabe que não pode descuidar do manejo de pragas e doenças. De acordo com dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a chance de o La Niña se confirmar, entre os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, é de 58% e isso traz reflexos diretos para a lavoura.
Na região Sul, o fenômeno favorece a ocorrência de estiagem enquanto no Brasil Central e no Matopiba a tendência é de chuvas um pouco acima da média. O último La Niña havia ocorrido na safra 2011/2012.
Doenças
Ferrugem asiática – Mesmo diante da falta de chuvas entre os meses de outubro e dezembro na região Sul e o atraso das mesmas em grandes Estados produtores, como o Mato Grosso, Maurício Meyer, da Embrapa Soja, alerta para a necessidade de o produtor se precaver quanto à ferrugem asiática. A recomendação é realizar um manejo preventivo, eliminando as plantas involuntárias dentro da propriedade e contando com a ação dos órgãos públicos para retirar aquelas que ficam na beira das estradas.
A medida vale para produtores de Estados que adotam ou não o vazio sanitário. “No Rio Grande do Sul e Santa Catarina optou-se pelo não estabelecimento do vazio, mas de qualquer forma o produtor deve acompanhar a incidência de geadas, que inibem o desenvolvimento da soja guaxa”, afirma Meyer. Em outros 12 estados brasileiros a pausa no plantio de soja em uma janela pré-determinada é obrigatória. Sua função é evitar o surgimento de focos de ferrugem.
Outras medidas importantes no controle da doença são: adoção variedades de soja mais precoces e aplicação de fungicidas em intervalos definidos pela pressão do fungo na lavoura. “Naquelas plantadas no cedo o mais comum é fazer de duas a três aplicações. Já para as variedades tardias isso vai girar em torno de três ou quatro”, diz Meyer. Nessa hora, a alternância de modos de ação e quantidade de fungicida aplicado devem estar bem calibradas, de preferência por pessoal com conhecimento técnico.
Mofo branco – De acordo com o pesquisador, vale ainda atentar para a ação do mofo branco, doença que tem apresentado maior incidência nos Estados de Goiás, Bahia e Paraná, em áreas com altitude acima de 800 metros. “A doença se manifesta em condições de baixa temperatura, menos de 25 °C, e quando as chuvas são frequentes”, diz o pesquisador.
O estágio de manifestação coincide com o final da fase vegetativa e início da floração da soja. Para controlar a infestação com fungicidas, o produtor deve monitorar a presença de pequenos cogumelos na lavoura, os chamados escleródios do fungo, que são facilmente visíveis a olho nu.
Soja Louca II – Descrita no ano passado, a Soja Louca II causa prejuízos desde a safra 2005/2006, sendo muito recomendável o produtor ficar atento a ela. “Provocada pelo nematóide Aphelenchoides sp, reduz em até 60% a produtividade da soja em regiões quentes e chuvosas”.
É o caso do norte de Mato Grosso, Pará, Maranhão e Tocantins. Entre os sintomas da doença estão: retenção foliar e abortamento de vagens antes do final do ciclo da soja. “Esse abortamento é mais intenso na parte superior das plantas, o que impede o processo natural de maturação. Assim, elas permanecem verdes mesmo após a aplicação de herbicidas dessecantes”.
Como ainda não são conhecidas cultivares tolerantes à doença, Meyer recomenda que se faça um manejo de dessecação antecipado à semeadura e controle de plantas invasoras imediatamente após a emergência da soja.
Nematoides – Em plantas hospedeiras ou na forma de cistos que permanecem viáveis no solo de uma safra para outra, os nematoides são outro capítulo importante quando se fala em doenças da soja. “Só que nesse caso a indicação que se faz é a mesma de sempre: promover a rotação de culturas”, diz Meyer.
Pragas
Lagarta-elasmo – De acordo com a pesquisadora Lúcia Vivan, engenheira agrônoma e pesquisadora da Fundação MT, se a previsão em Mato Grosso se confirmar e as chuvas, de fato, atrasarem, o produtor deverá ter cuidado com pragas que costumam aparecer nos cultivos precoces, como a lagarta-elasmo.
“Comum em solos mais arenosos e com pouca cobertura, ela chega a causar problemas de replantio”, diz Lúcia. Considerando os riscos à lavoura, na medida do possível, a recomendação é esperar a chegada das chuvas para fazer o plantio e usar sementes tratadas.
No início do seu ciclo, a lagarta alimenta-se das folhas da soja, penetrando, mais tarde, no colmo da planta. O inseto adulto pode medir de 1 a 2 centímetros. De modo geral, a praga é mais comum no Cerrado e em regiões de clima quente e seco, como Piauí e Maranhão.
Percevejos – “Como muitas vezes o produtor só vê o dano do percevejo na hora de colher a soja, essa é uma praga que preocupa”, afirma Lúcia. Os prejuízos são sentidos na perda de produtividade de grãos e vagens, já que a planta de soja não amadurece normalmente. “Para controlá-los a recomendação é fazer o monitoramento com pano de batida e entrar com aplicações de inseticida quando houver necessidade”.
O controle deve ser iniciado quando encontrados quatro percevejos adultos ou ninfas com mais de 0,5 cm por pano de batida. A Embrapa recomenda que as amostragens sejam feitas nos períodos mais frescos do dia, quando os percevejos se movimentam menos, e com ênfase nas bordas da lavoura, onde, em geral, iniciam seu ataque. Os percevejos mais importantes são os sugadores de grãos, seguidos pelo percevejo-castanho, que suga raízes.
Mosca branca – Com picos na estação seca, a mosca branca teve um aumento de população nas últimas quatro safras em Mato Grosso. Segundo Lúcia, seu controle deve ser feito a partir do momento em que são identificadas de 10 a 15 ninfas na folha de soja. Ao sugar a seiva da planta, o inseto provoca alterações no seu desenvolvimento causando perdas de produtividade. Existem soluções de controle tanto com inseticidas como com agentes biológicos.
Complexo de lagartas da soja – Por fim, Lúcia lembra que o produtor não pode descuidar do monitoramento de lagartas mesmo em lavouras de soja Intacta. “Tanto por conta da lagarta-elasmo e da Helicoverpa armigera como das lagartas do complexo Spodoptera”. Hoje, a tecnologia apresenta resistência à lagarta-da-soja, falsa-medideira, lagarta-das-maçãs e broca das axilas.
Portal DBO, 02/08/2016