USO E APLICAÇÃO
Estudo aponta maior eficácia de predador isolado no controle da mosca-branca

Estudo conduzido por pesquisadores do Instituto Murciano de Pesquisa e Desenvolvimento Agrário e Ambiental (Imida), na Espanha, revelou que o uso combinado de inimigos naturais para controlar a mosca-branca (Bemisia tabaci) em plantações de melão não apresenta vantagens em relação ao uso de um único predador altamente eficaz.
A pesquisa avaliou a interação entre três agentes de controle biológico: os predadores Deraeocoris serenus e Orius laevigatus, e o parasitoide Eretmocerus eremicus.
Os pesquisadores realizaram experimento com oito tratamentos em microcosmos. Cada microcosmo continha uma planta de melão infestada com B. tabaci. Os tratamentos variavam conforme a presença ou ausência dos três inimigos naturais, de forma isolada ou combinada. Ao longo de seis semanas, os cientistas monitoraram o número de moscas-brancas vivas, ninfas predadas e parasitoides emergidos.
Os três inimigos naturais, quando avaliados separadamente, reduziram significativamente a população de mosca-branca. No entanto, D. serenus apresentou desempenho muito superior, com redução da praga em mais de 100 vezes em comparação com o controle. Já O. laevigatus e E. eremicus obtiveram reduções de apenas 2,4 e 3,6 vezes, respectivamente.
Essa eficácia foi atribuída ao maior porte e comportamento predatório mais agressivo de D. serenus. A espécie demonstrou grande capacidade de exploração da praga, mesmo em condições de campo simuladas.
Apesar da expectativa de que a combinação de predadores e parasitoides com diferentes estratégias de ataque pudesse intensificar o controle, o estudo não observou efeitos aditivos ou sinérgicos. Pelo contrário: a combinação resultou em interações antagônicas.
Quando D. serenus e O. laevigatus atuaram juntos, ambas as populações foram prejudicadas. O predador maior reduziu significativamente a abundância do menor. Surpreendentemente, o efeito também ocorreu no sentido oposto, sugerindo predação mútua entre estágios jovens das duas espécies.
A presença de D. serenus também reduziu drasticamente a emergência de E. eremicus, indicando interferência na atividade parasitária. O predador pode ter consumido ninfas parasitadas ou reduzido a disponibilidade de hospedeiros viáveis.
De forma inesperada, E. eremicus interferiu negativamente na população de D. serenus. O motivo não parece ser competição por alimento, já que a disponibilidade de presas se manteve alta. Os autores sugerem que a presença do parasitoide possa ter alterado o comportamento de forrageamento do predador, ou induzido abandono do habitat por redução da qualidade do patch.
Por outro lado, E. eremicus não interferiu significativamente em O. laevigatus. A explicação pode estar na estratificação vertical da planta: o predador atua principalmente nas folhas superiores, onde estão ovos e primeiros ínstares, enquanto o parasitoide prefere folhas mais baixas.
A taxa de predação de ninfas da mosca-branca diminuiu quando os predadores D. serenus e O. laevigatus atuaram juntos. Essa redução também ocorreu quando qualquer um dos predadores foi combinado com o parasitoide. Mesmo assim, a supressão populacional final da praga foi semelhante à obtida quando apenas D. serenus foi usado.
O estudo concluiu que o uso exclusivo de D. serenus pode ser mais eficaz e econômico no controle da mosca-branca em melões do que a combinação com outros inimigos naturais. As interações antagônicas entre predadores e parasitoides comprometeram o desempenho individual de cada espécie, sem benefício adicional no controle da praga.
Os cientistas destacam a importância de considerar essas interações em programas de controle biológico e sugerem que novos estudos avaliem se os resultados se repetem em condições de campo mais complexas. A composição da comunidade de inimigos naturais e a estrutura do habitat podem influenciar a persistência e intensidade dessas interações.
Fonte: Revista Cultivar, publicado em 14/08/2025
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