USO E APLICAÇÃO

Manejo e controle de capim-camalote em cultura de cana de açúcar


O capim-camalote é também conhecido como capim-alto ou capim-rabo-de-lagarto, de acordo com a localidade da infestação, mas em meio acadêmico é conhecido como Rottboellia cochinchinensis ou Rottboellia exaltata. Sua provável origem é a Índia. Atualmente, tem infestado diferentes culturas agrícolas no Brasil, particularmente a cana-de-açúcar.

Nos canaviais, os primeiros 150 dias após o plantio ou colheita promovem o estabelecimento do capim-camalote. Dentre os fatores, destaca-se o tamanho de suas sementes que são tidas como médias e com material de reserva suficiente para permitir que suas plântulas superem até 15 cm de profundidade no solo. Com isso, os herbicidas, geralmente de baixa solubilidade, que permanecem na camada superficial do solo (entre 3 e 4 cm) ficam distantes das sementes posicionadas nas camadas mais profundas do solo e não são absorvidos pelas sementes no processo de germinação.

Uma vez emergidas, as plantas do capim-camalote beneficiam-se da luminosidade incidente nos espaços das entrelinhas, que é de 1,5 m. Como o dossel da cultura demora até 150 dias para fechar os espaços das entrelinhas, a incidência solar é intensa por longo período e beneficia a espécie. Soma-se também o solo descompactado, adubado e algumas vezes irrigados para o canavial como fatores que beneficiam o desenvolvimento do capim. Segundo Bianco et al., a espécie possui a capacidade de extrair quantidades expressivas de nutrientes do solo e, certamente, utiliza-se dos nutrientes fornecidos ao canavial primeiro que a própria cultura.

Para controlar o capim-camalote nos canaviais é necessário adotar sistema de manejo calcado em aplicações sequenciais de herbicidas. Mesmo com herbicidas seletivos e de longo efeito residual (80 ou mais dias) registrados para a cana-de-açúcar, o capim-camalote é muito tolerante aos herbicidas, o que exige aplicações sequenciais para manter na solução do solo quantidade de herbicida suficiente para conter o estabelecimento da espécie.

Nos estudos realizados no Instituto Agronômico, observou-se melhores resultados de controle são quando o manejo foi iniciado na reforma do canavial. Os estudos apontaram a necessidade de erradicar a cultura com glifosato quando estiver entre 60 e 70 cm de altura. Na sequência, preparar o solo com, no mínimo, duas gradagens para destruir touceiras da cultura e do capim-camalote e de outras plantas daninhas.

Terminado o preparo do solo, faz-se a primeira aplicação de herbicidas imediatamente. Não se deve deixar passar mais de dois dias para intervir com o herbicida. Ocorre que a maioria dos herbicidas com efeito residual indicados para controle da espécie tem apenas efeito em pré-emergência da planta. Nas situações de verão, a elevada temperatura e a constante disponibilidade de água no solo estimulam as sementes saírem da dormência e iniciar a germinação. Nesse caso, se o herbicida for aplicado quando a plântula do capim-camalote estiver em desenvolvimento dentro do solo, não haverá controle.

A escolha dos herbicidas constituintes da primeira aplicação depende da época do ano. Se ocorrer durante a primavera/verão deve-se utilizar-se de herbicidas de baixa/média solubilidade. Se em épocas de outono / inverno usar herbicidas de média/alta solubilidade. Salienta-se que há poucos herbicidas disponíveis no mercado e eficazes no controle da espécie. Para o período de chuva (primavera/verão), opções de herbicidas com efeito sobre o capim-camalote são: trifluralina, pendimentalina, piroxasulfona e flumioxazina. Para período de restrição hídrica, clomazona associado a tebutiurom.

Essa etapa do manejo associa o controle mecânico ao químico, uma vez que o implemento de remover o solo escarifica muitas sementes, o que facilita a absorção de água do solo (processo de quebra de dormência). Simultaneamente, o herbicida aplicado e disponível na solução do solo é absorvido juntamente com a água no momento da embebição da semente (processo de germinação) e permite o controle da plântula. Nessa etapa do manejo, o banco de sementes de capim-camalote no solo pode ser consideravelmente diminuído.

Transcorridos 30, 40 dias, o plantio da cultura deve ser realizado. Imediatamente deve-se intervir com a segunda aplicação de herbicidas. Ressalta-se o uso de mudas sadias e quantidade de gemas/metro de sulco suficiente para promover estande de plantas uniforme (sem falhas) de modo a garantir o adequado fechamento das entrelinhas próximo dos 150 dias.

Nessa situação, para condições de primavera/verão, apresenta-se como opção indaziflam, piroxasulfona ou flumioxazina. Nas condições de outono/inverno, tebutiurom associado a clomazona. Para ambas as situações, havendo plântulas (sementeira) do capim já estabelecidas, pode-se associar ametrina.

Após 70 ou 90 dias do plantio, há necessidade de fazer o nivelamento da superfície do solo, retirando o excesso de terra na entrelinha e colocando-a na linha do plantio (“quebra-lombo”). Entretanto, no período entre 70 e 90 dias, considerável quantidade de herbicidas foi degradada no solo (particularmente por microrganismos). E há necessidade de intervir com a terceira aplicação de herbicidas, que deve ser realizada em jato semidirigido devido ao porte do canavial. Reforça-se que o capim-camalote tem potencial de se estabelecer em canaviais até próximo de 150 dias após plantio. Nessa última aplicação, pode-se intervir com a associação entre duas das moléculas: piroxasulfona, amicarbazona, tebutiurom ou clomazona.

Aproximadamente 70 dias após a terceira aplicação, significativa quantidade de herbicidas estará degradada no solo e as quantidades restantes não serão suficientes para conter novos fluxos. Entretanto, nessa ocasião, o canavial estará entre 140 e 160 dias após plantio, ou seja, com as entrelinhas praticamente fechadas pelo dossel da cultura, desde que a distribuição de gemas no plantio tenha sido suficiente para promover estande uniforme.

Com isso, durante 190 dias (30 dias antes do plantio + 160 dias após plantio) o solo permanece com quantidades de herbicidas suficientes para conter o estabelecimento do capim-camalote e outras plantas daninhas. Entre 160 e 360 dias do restante do ciclo da cultura, a quantidade restante de herbicidas no solo (já não suficiente para conter os fluxos de emergência do capim) continua sendo degrada. Até a colheita do canavial (360 dias) a quantidade de herbicidas no solo é praticamente nula.

Após a colheita, a aplicação de herbicidas na soqueira deve ser imediata para atender a condição de pré-emergência do capim-camalote, adotando-se até dois dos herbicidas sugeridos no plantio. Entre 70 e 90 dias da primeira aplicação deve-se intervir com uma segunda aplicação de herbicidas também da listagem apresentada no plantio. O conceito é manter no solo quantidade de herbicidas suficientes para controle do capim até 150 dias da colheita, quando, possivelmente, o dossel da cultura tenha fechado as entrelinhas. Entre 150 e 360 dias, continua a degradação do restante dos herbicidas (geralmente por microrganismos) e o desenvolvimento do canavial.

Após a colheita de cada soqueira, o produtor deve sempre intervir com as duas aplicações de herbicidas, caso seu canavial tenha histórico de infestação pelo capim-camalote. Os demais tratos culturais como controle de pragas e doenças, adubação correta e regulagem adequada da colhedora para minimizar o arranquio de touceiras de cana são imprescindíveis para manter o estande de colmos uniforme. Enquanto o estande de colmos estiver uniforme, o sombreamento do canavial complementa o manejo químico.

No manejo de capim-camalote a quantidade de herbicidas utilizada é maior que para outras plantas daninhas. É espécie tolerante aos herbicidas registrados para cana-de-açúcar. Sua biologia é repleta de características de agressividade (pilosidade nas folhas, rápida formação de Estrias de Caspary, sementes que germinam de profundidade de até 15 cm) que culminam na tolerância natural da espécie aos herbicidas. A planta estabelecida absorve nutrientes do solo, sombreia o canavial, produz muitas sementes e culmina para diminuir a longevidade do canavial. Com isso, o manejo para o capim-camalote é pesado, ou seja, similar a “quimioterapia”.

 

Fonte: Revista Cultivar, publicado em 19/09/2024

Fonte da imagem: Freepik

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