USO E APLICAÇÃO
Manejo integrado e monitoramento são fundamentais no combate de nematoides

A safra de soja 2024/25 em Mato Grosso manteve boa produtividade média, impulsionada pela regularidade das chuvas. Contudo, o aumento da incidência de nematoides, como os de cisto (Heterodera glycines) e galha (Meloidogyne spp.), preocupa especialistas. A avaliação é de Rosângela Silva, pesquisadora em nematologia da Fundação MT, durante o 25º Encontro Técnico de Soja, promovido pela Fundação MT.
Segundo ela, embora os prejuízos visíveis tenham sido menores que na safra anterior, aumentaram os casos de áreas com alta incidência de nematoide de cisto e galha.
A ausência de perdas significativas em muitas áreas mascarou o crescimento silencioso das populações de nematoides, que podem comprometer safras futuras. “Muitos produtores não tiveram quebra, mas as populações aumentaram. Eles deixaram de manejar, priorizando cultivares sem resistência”, alerta.
Esse descuido, explica Rosângela, se dá por decisões focadas apenas em teto produtivo. “Há mais de três anos, os produtores optam pelas mesmas cultivares. Não rotacionam. Isso favorece o crescimento dos nematoides”, diz. A falta de planejamento agronômico, especialmente nas áreas com solo arenoso, agrava o problema.
Mesmo em propriedades com boa média de produtividade, os cuidados básicos falharam. Um exemplo citado pela pesquisadora envolveu um produtor que, apesar de adubar corretamente e planejar bem os talhões, usava cultivares sem resistência há anos. Resultado: produtividade abaixo da média regional.
A resistência dos agricultores em adotar novas cultivares passa por barreiras econômicas e culturais. “O produtor quer produzir bem fazendo o que ele quer, não o que precisa ser feito. Ele quer manter soja e algodão no sistema, mesmo quando os dois multiplicam o nematoide”, afirma Rosângela.
Nas regiões mais afetadas, a única saída tem sido rotacionar com milho, mesmo com o preço do cereal em baixa. “Muitos tiveram que tirar o algodão da safra por falta de planejamento prévio”, aponta. As decisões emergenciais geram custos altos e impacto produtivo duradouro.
Para reverter o quadro, a recomendação técnica passa por um conjunto de ações. “Conhecer os talhões, fazer amostragem, escolher variedades resistentes, aplicar químicos e biológicos”, resume. A convivência com o nematoide exige ações contínuas, sem soluções imediatas.
Entre as ferramentas disponíveis, algumas químicas têm mostrado bons resultados. Os biológicos, segundo Rosângela, agregam de 3 a 4 sacas por hectare, em média. Mas, sozinhos, não reduzem significativamente a população.
Em áreas bem manejadas, a integração entre cultura de cobertura, como a braquiária, e ferramentas múltiplas tem mantido o solo produtivo. A rotação prolongada ajuda a reduzir o nematoide antes da volta da soja e do algodão. Um projeto atual testa 13 ferramentas sobre cultivares resistentes e suscetíveis, buscando identificar quais manejos entregam maior retorno.
A próxima safra, segundo Rosângela, exigirá atenção redobrada. “Este ano choveu como um reloginho. Ano que vem, ninguém garante. Se o clima falhar, só vai colher bem quem estiver cuidando do básico.”
A mensagem final da pesquisadora é clara: “o controle de nematoides não depende de milagres, mas de manejo contínuo, com monitoramento detalhado de cada área e uso integrado de ferramentas no momento certo”.
Fonte: Revista Cultivar, publicado em 15/05/2025
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