USO E APLICAÇÃO

Metarhizium anisopliae: conheça o fungo usado no controle biológico de pragas como brocas e cigarrinhas


Dentre os fungos entomopatogênicos utilizados no controle biológico, Metarhizium anisopliae é aclamado como o fungo verde capaz de infectar centenas de pragas agrícolas!

O seu potencial de “devorar” insetos, e outros artrópodes, é tanto que o fez superar a marca de mais de 2 milhões de hectares em área aplicada.

Apresentando uma alta eficiência a campo para o manejo de pragas de difícil controle, Metarhizium anisopliae é um agente microbiológico promissor e segue sendo alvo de pesquisas que viabilizam, cada vez mais, a expansão e otimização de seu uso na agricultura brasileira e mundial.

O que é Metarhizium anisopliae? Apenas um fungo verde? 

Pertencente à família Clavicipitaceae, o gênero Metarhizium agrupa diversas espécies de fungos ascomicetos entomopatogênicos filamentosos (capazes de colonizar insetos) e tem sido amplamente utilizado no controle biológico de pragas.

Além disso, a utilização destes fungos tem gerado efeitos positivos ao promover o crescimento de plantas, como a cana-de-açúcar e espécies de gramíneas forrageiras.

Alguns fungos do gênero, como M. anisopliaeM. robertsii e M. humberi; são naturalmente encontrados habitando os solos brasileiros e de todo o mundo, seja na rizosfera ou infectando insetos já mortos.

Metarhizium anisopliae destaca-se como uma das espécies mais famosas do gênero, tendo sido relatado por pesquisadores como um fungo capaz de infectar mais de 300 espécies de artrópodes, o que inclui ácaros e diversos insetos-praga de importância agrícola.

Então não, Metarhizium anisopliae não é apenas um singelo fungo verde. É, na verdade, um poderoso fungo verde repleto de potencial para o controle biológico de diversos insetos-praga da agricultura.

Veja abaixo alguns exemplos de pragas que podem ser controladas por este importante agente microbiológico:

Percevejos fitófagos da soja (espécies dos gêneros Euschistus, Nezara, Piezodorus, dentre outros);
Percevejo-do-colmo-do-arroz (Tibraca limbativentris);
Percevejo-castanho (Scaptocoris castanea)
Cigarrinha-das-folhas (Mahanarva posticata);
Cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata);
Cigarrinha-das-pastagens (Zulia entreriana);
Cigarrinha-dos-capinzais (Deois flavopicta);
Moleque-da-bananeira (Cosmopolites sordidus);
Broca-da-cana (Diatraea saccharalis);
Broca-do-café (Hypothenemus hampei);
Ácaro-vermelho (Tetranychus ludeni);
Ácaro-rajado (Tetranychus urticae);
Tripes (Frankliniella schultzei);
Cochonilha-branca (Planococcus citri);
Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda);
Formiga-cortadeira, saúva (Atta sexdens sexdens).

Além das pragas citadas acima, Metarhizium anisopliae também infecta várias espécies de gafanhotos (como a espécie Rhammatocerus schistocercoides), besouros, cigarras, cupins, baratas e, até mesmo, carrapatos.

Para que serve Metarhizium anisopliae?

Como dito anteriormente, o fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae é capaz de infectar diversas espécies de pragas, sendo considerado um eficaz agente de controle microbiológico.

O início de sua utilização remete ao ano de 1879, quando foi descrito na Rússia pelo cientista Metschnikoff. Contudo, naquela época, foi chamado de Entomophora anisopliae, como o próprio nome sugere “devorador de artrópodes”. Mais tarde, em 1883, foi reclassificado como Metarhizium anisopliae, como o conhecemos até os atuais.

Cerca de meio século depois, em 1923, a possibilidade de utilização desse fungo na agricultura brasileira começou a ser estudada. A ideia surgiu a partir da identificação de cigarrinhas colonizadas por Metarhizium anisopliae. Em 1995, um pesquisador italiano chamado Pietro Guagliumi estudou o uso de tal fungo verde para o controle da cigarrinha Mahanarva fimbriolata na cana-de-açúcar e em pastagens.

A partir de então, diversos estudos foram conduzidos, indicando que o fungo possui uma eficiência superior a 90% na redução dos níveis populacionais da cigarrinha-das-raízes.

Atualmente, as pesquisas continuam e seguem a todo vapor, a fim de se descobrir mais cepas/isolados do fungo para o controle de pragas específicas. Estudos também têm sido realizados para otimizar a produção em larga escala e utilização do fungo, com ênfase para o descobrimento de formulações mais modernas e avançadas como o nanoencapsulamento de esporos fúngicos.

O potencial de Metarhizium anisopliae no controle biológico, portanto, tem sido amplamente explorado, o colocando entre os fungos entomopatogênicos mais utilizados na agricultura brasileira. Mas como será que este microrganismo ocasiona a morte de insetos e ácaros, reduzindo a população de pragas? O que o faz ser tão letal para vários artrópodes?! Confira a seguir o modo de ação do fungo verde!

O modo de ação de Metarhizium anisopliae pode variar e está relacionado à produção de hormônios, enzimas e metabólitos diretamente envolvidos na promoção do crescimento das plantas; e na morte direta de artrópodes contaminados pelos esporos do fungo.

A colonização de insetos-praga, ou outros artrópodes, é geralmente iniciada quando os esporos assexuados, os chamados conídios, de Metarhizium anisopliae aderem-se ao tegumento de um hospedeiro suscetível e germinam. O fungo então emite o apressório e a penetração no corpo do inseto se dá a partir de pressão mecânica e ação enzimática, ocorrendo em cerca de 12 horas.

A colonização do hospedeiro por parte do fungo acomete principalmente o tecido gorduroso, o intestino e os tubos de Malpighi. Por sua vez, a infecção avança, se torna generalizada, e o fungo leva o inseto a morte em, aproximadamente, 72 horas.

A infecção pode ocorrer via oral para alguns artrópodes, sendo possível, também, que o fungo penetre no sistema respiratório do hospedeiro, via espiráculos.

O processo infeccioso é, geralmente, mediado por genes específicos, já a letalidade e virulência do fungo estão diretamente relacionadas à produção de metabólitos com ação inseticida, como as destruxinas. Desta forma, Metarhizium anisopliae supera as respostas imunes do hospedeiro e produz as toxinas que o levarão à morte.

A infecção a campo pode ser facilmente identificada através da observação da cutícula dos insetos mortos, que assumem uma coloração avermelhada.

Além disso, caso as condições ambientais sejam favoráveis ao desenvolvimento e dispersão do fungo, os insetos colonizados tornam-se rígidos e cobertos por uma camada de micélio, que se transforma em conidióforos e, depois, origina massas pulverulentas de conídios verdes, ao estarem completamente maduros. Assim que o fungo esporula, tais conídios (ou esporos), por sua vez, servirão como inóculo, dispersando-se com o vento e infectando outros hospedeiros na área de cultivo.

É válido salientar que o fungo verde pode infectar insetos em qualquer fase de desenvolvimento, sejam adultos ou ninfas/larvas. Contudo, algumas fases podem ser mais suscetíveis ao fungo, como é o caso de ninfas de cigarrinhas da cana-de-açúcar, por exemplo.

Algumas condições favoráveis ao desenvolvimento de Metarhizium anisopliae são: temperatura média entre 25º e 30º C; URA superior a 65%; e ausência de radiação solar ultravioleta em contato direto com os esporos do fungo.

Bioinsumos à base de Metarhizium anisopliae

Atualmente, segundo a plataforma do AGROFIT, existe um total de 119 formulações à base de Metarhizium anisopliae para comercialização no Brasil. Alguns produtos disponíveis como o Metarril® (Koppert) e o Meta-Turbo SC® (Vittia), são recomendados para aplicação em qualquer cultura com ocorrência dos alvos biológicos.

É importante se atentar à praga que se deseja controlar no momento da escolha do produto, uma vez que a eficácia está relacionada ao isolado do fungo comercializado e que pode deter de especificidades. Portanto, leia sempre as instruções da bula.

Fatores que afetam a eficácia de Metarhizium anisopliae

Apesar da eficiência de controle de pragas apresentada por Metarhizium anisopliae, assim como outros fungos entomopatogênicos, o sucesso na utilização deste agente microbiológico depende de alguns fatores, tais como:

  • Qualidade do produto: um produto microbiológico escolhido deve ser recomendado para a praga que se deseja controlar, possuir alta concentração de esporos viáveis do fungo, formulação adequada, boas condições no transporte e armazenamento do bioinsumo;
  • Dose: a aplicação do produto deve seguir a dose recomendada para a praga-alvo, de acordo com as recomendações da bola do produto;
  • Momento ideal de aplicação: bioinseticidas ou bioacaricidas à base de fungos entomopatogênicos devem ser posicionados no início da infestação da praga-alvo, visando atingir também os estágios iniciais da praga e geralmente mais suscetíveis;
  • Condições ambientais: o produto deve ser aplicado em condições de temperatura, umidade, luminosidade e vento favoráveis a Metarhizium anisopliae, evitando-se horários em que haja calor excessivo, baixa umidade do ar, vento forte e luz solar direta. Tais condições podem reduzir a viabilidade dos esporos fúngicos, reduzindo, portanto, a eficácia do agente de controle microbiológico;
  • Compatibilidade com o controle químico: é de suma importância que o bioproduto seja compatível com outros produtos utilizados na lavoura (sejam eles outros defensivos agrícolas, fertilizantes, adjuvantes, dentre outros) para que não haja efeitos negativos sobre a viabilidade e estabilidade dos esporos do fungo.

Como vimos acima, são diversos os fatores a serem levados em consideração na hora de se utilizar inseticidas microbiológicos em cultivos agrícolas. Portanto, siga sempre as orientações da bula do produto, como as recomendações técnicas de aplicação, de monitoramento e de avaliação da eficácia do bioinseticida para obter melhores resultados.

Benefícios e desafios do uso de Metarhizium anisopliae

Além da elevada gama de pragas que podem ser controladas a partir do uso de Metarhizium anisopliae, existe uma série de benefícios relacionados a este agente de controle microbiológico:

  1. É de fácil produção em larga escala;
  2. Possui uma rápida taxa de crescimento e produção de esporos;
  3. É um micoinseticida de baixo custo de produção, podendo ser multiplicados via métodos simples e acessíveis como a fermentação sólida (geralmente são utilizados grãos de arroz como substrato) ou a fermentação líquida (utiliza substratos líquidos como caldo de glicose, extrato de levedura e fontes de nitrogênio);
  4. Apresenta segurança para humanos e demais organismos não-alvo;
  5. Devido ao seu complexo modo de ação, pode ser considerado uma ferramenta para o manejo de resistência de insetos e ácaros.

Por outro lado, apesar dos inúmeros benefícios, existem os desafios associados ao uso de fungos entomopatogênicos, como a necessidade de condições de microclima bastante específicas para que Metarhizium anisopliae infecte a praga-alvo, bem como do desenvolvimento de formulações e técnicas de aplicação que otimizem ainda mais a eficácia de uso do fungo verde nas lavouras.

Com o avanço tecno científico, algumas técnicas, como o nanoencapsulamento de esporos fúngicos, já têm sido estudadas e adaptadas para garantir a proteção dos conídios contra condições ambientais adversas e viabilizar práticas como a “mistura de tanque”, sem que o bioinsumo seja afetado.

Conclusões

Chamados até mesmo de “green pesticides” por alguns pesquisadores, os bioinseticidas à base de Metarhizium anisopliae se destacam pela eficiência no controle de diversas pragas agrícolas.

Além de serem uma alternativa sustentável, assumem um papel fundamental em programas de manejo integrado de pragas, contribuindo para o manejo populacional de insetos e ácaros sem comprometer a entomofauna benéfica dos agroecossistemas.

 

Fonte: RAMOS, G.S. Metarhizium anisopliae: conheça o fungo usado no controle biológico de pragas como brocas e cigarrinhas. Blog Agroadvance. 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-metarhizium-anisopliae-controle-biologico/. Acesso: 11/02/2025. Publicado em 07/02/2025

 

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