USO E APLICAÇÃO
Parceria entre UFG e Embrapa desenvolve nova técnica para produção de bioinseticidas
Cientistas da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da Embrapa Meio Ambiente desenvolveram uma nova técnica para a produção do fungo Beauveria bassiana, amplamente utilizado em inseticidas biológicos. A abordagem consiste na utilização de proteínas vegetais provenientes de subprodutos agroindustriais como fonte de nitrogênio para a multiplicação do fungo, substituindo o tradicional e caro extrato de levedura.
Os pesquisadores testaram a eficácia das fontes de nitrogênio vegetal durante a fermentação líquida do Beauveria bassiana, revelando que elas são capazes de gerar blastosporos, ou seja, células fungais que atacam insetos-praga em grandes culturas como soja, cana-de-açúcar e café, por exemplo.
De acordo com Valesca Lima, da UFG, primeira autora do estudo, “a utilização de nitrogênio orgânico proveniente de subprodutos agroindustriais não apenas diminui os custos operacionais da produção de fungos por fermentação líquida, uma vez que reduz a dependência de substratos nitrogenados caros, mas também contribui para a valoração desses compostos convertendo-os em biopesticidas sustentáveis. Tudo isso sem perder as características desejáveis do bioproduto, como a alta produção, virulência e tolerância a fatores abióticos”.
O custo do extrato de levedura, considerado padrão ouro para a produção do biopesticida até o momento, é de aproximadamente US$ 53 por litro. O custo produtivo a partir das proteínas vegetais, por sua vez, não chega a US$ 1 por litro, explica o pesquisador da Embrapa Gabriel Mascarin. Além disso, as alternativas estudadas têm apresentado maior eficácia do que o extrato de levedura, diz.
Os pesquisadores testaram diferentes fontes proteicas, como o farelo de soja, de milho e formas de levedura. No entanto, a farinha de semente de algodão foi identificada como a melhor fonte de proteína vegetal, apresentando os melhores resultados em termos de produção e eficácia dos blastosporos contra pragas.
O uso de subprodutos agroindustriais como fonte de nitrogênio promove práticas mais sustentáveis ao transformar resíduos em produtos valiosos. Esses subprodutos da agroindústria de grãos são ricos em nutrientes e compostos químicos diversos, tornando-se uma matéria-prima viável para a produção de agentes microbianos.
“O farelo de semente de algodão é um resíduo já utilizado como ração para animais como gado e peixes, e como adubo. O que buscamos com o estudo era encontrar mais uma alternativa de uso, valorar esses resíduos com um produto biológico e oferecer uma solução com maior custo-benefício para a bioindústria”, explica Mascarin. Além disso, a utilização do resíduo promove uma forma de economia circular para a cadeia do algodão.
Os blastosporos demonstraram maior tolerância ao calor e à radiação UV-B, fatores importantes para o desempenho dos biopesticidas. Além disso, a técnica revelou que a produção pode ser realizada em um período de fermentação reduzido, entre dois e três dias.
Os pesquisadores acreditam que a técnica desenvolvida pode ser aplicada a outras espécies de fungos entomopatogênicos, ampliando o mercado global de biodefensivos.
“Esse avanço é essencial para a comercialização de bioprodutos de alta qualidade, com impacto positivo na saúde humana e ambiental, e representa um passo significativo na inovação de micopesticidas globais”, conclui Mascarin.
Fonte: Globo rural, publicado em 17/09/2024
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