USO E APLICAÇÃO
Estudo desenvolve nova técnica no combate ao cancro cítrico

Um estudo conduzido pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) desenvolveu uma técnica que utiliza moléculas orgânicas derivadas de açúcares como ingredientes ativos para defensivos contra o cancro cítrico. Esta doença, um dos principais problemas em pomares cítricos, é tradicionalmente controlada por meio da pulverização de cobre.
A pesquisa utilizou análise proteômica, combinada com genética, para identificar proteínas-alvo na bactéria que contribuem para sua capacidade de causar a doença. Um dos alvos encontrados na superfície celular foi a proteína XanB. O grupo demonstrou recentemente que moléculas orgânicas derivadas de carboidratos, que inibem a proteína-alvo XanB, foram eficazes no controle da doença e podem servir como ingredientes ativos para novos agroquímicos.
A startup BionFarm agora avaliará diretamente nos pomares se esses inibidores bloqueiam uma enzima da bactéria, sem a qual a doença não progride. Os testes de campo envolverão formulações à base de eugenol, um óleo marrom-escuro extraído do cravo-da-índia ( Syzygium aromaticum ). O eugenol e outros óleos essenciais, como o de orégano ( Origanum vulgare ) e o de capim-limão ( Cymbopogon spp. ), que também apresentaram resultados promissores em testes em casa de vegetação, constituem a segunda geração de compostos testados contra X. citri .
Henrique Ferreira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), desenvolveu outros compostos em colaboração com colegas de duas universidades da Holanda e está trabalhando na formulação com especialistas da empresa brasileira de insumos Santa Clara Agrociência. “Temos mais de 15 formulações, já testadas e validadas em casa de vegetação, em fase de estudos de viabilidade econômica”, disse ele.
Segundo André Alexandrino, sócio da startup BionFarm, os inibidores enzimáticos poderiam competir em preço com o cobre, potencialmente oferecendo uma alternativa ao defensivo tradicional aplicado contra o cancro cítrico. A eficácia de ambos os tipos de compostos foi considerada equivalente em testes em casa de vegetação.
“O preço dos defensivos agrícolas feitos com cobre ainda é imbatível, mas estamos nos preparando para quando o consumidor europeu não quiser mais comprar cítricos tratados com cobre”, comentou Ferreira, que faz parte do Centro de Pesquisa em Biologia de Bactérias e Bacteriófagos.
A pesquisa foi liderada pela química e farmacêutica-bioquímica Maria Teresa Marques Novo Mansur, do Laboratório de Bioquímica Aplicada e Biologia Molecular (LBBMA) da UFSCar. Ela identificou a enzima fosfomanose isomerase/GDP-manose pirofosforilase (GDP significa guanosina difosfato), também conhecida como XanB.
“A principal vantagem da nossa pesquisa é que utilizamos uma abordagem inovadora para encontrar uma alternativa de controle do cancro cítrico, o que nos permitiu descobrir moléculas que interferem muito especificamente na interação patógeno-planta e que apresentam baixa ou nenhuma toxicidade ao homem, diferentemente do cobre atualmente utilizado em pomares”, destacou o professora da UFSCar.
Segundo ela, a expectativa é que essas moléculas derivadas de carboidratos possam se tornar uma “alternativa ecologicamente atrativa, sendo biodegradáveis e não interferindo na microbiota do solo, causando menor impacto ambiental, além de serem economicamente viáveis para uso comercial no campo”.
“A abordagem multidisciplinar que utilizamos, com metodologias complementares de colaboradores de diferentes áreas do conhecimento, focados em um objetivo comum, nos permitiu não parar na ciência básica, que já é valiosa por si só, mas ir além, gerando inovação tecnológica por meio de produtos de interesse do agronegócio”, avaliou.
Os testes de campo devem durar dois anos. “A eficiência dos novos compostos tende a ser menor do que em estufas porque o vento e a chuva facilitam a entrada de bactérias nas plantas, e o sol pode acelerar a degradação dos defensivos”, alertou o engenheiro agrônomo Franklin Behlau, do Fundo de Defesa dos Citros (Fundecitrus), que participou dos dois projetos de pesquisa.
O cancro cítrico é uma doença causada pela bactéria Xanthomonas citri subsp. citri, que afeta diversas espécies de citros. Segundo o pesquisador da UFSCar, os danos causados pelo cancro cítrico à agricultura são mitigados por meio de medidas de manejo, principalmente por meio da pulverização de soluções cúpricas nos pomares infectados.
“No entanto, esse controle gera custos superiores a R$ 200 milhões por safra, além de causar impacto ambiental devido à toxicidade do metal. Além disso, já foram identificadas linhagens bacterianas resistentes ao cobre, o que reduz a eficiência desse controle”, conclui André Alexandrino, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec) da UFSCar.
Fonte: Leonardo Gottems – Agropages, publicado em 07/04/2025
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