COLUNISTAS
Por Que os Preços Não Sobem, Mesmo Com Quebras na Safra?
Reflexões dos fatos e números do agro em dezembro/janeiro e o que acompanhar em fevereiro
Prof. Dr. Marcos Fava Neves, Vinicius Cambaúva e Beatriz Papa Casagrande
Na economia mundial e brasileira, o Banco Central do Brasil divulgou, no dia 22 de janeiro, o novo Boletim Focus com as previsões para a economia brasileira. O IPCA foi projetado em 3,86% (queda em relação ao último mês) neste ano e em 3,50% em 2025 (manutenção). Para o PIB (Produto Interno Bruto), o crescimento esperado é de 1,60% em 2024 (alta) e 2,00% em 2025 (manutenção). Já o câmbio deve fechar o ano atual em R$ 4,92 (queda) e em R$ 5,00 no próximo (queda). Por fim, a Selic será de 9,00% ao final de 2024 (manutenção) e 8,50% em 2025 (manutenção).
No agro mundial e brasileiro, o índice de preços dos alimentos divulgado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) fechou em 118,5 pontos no último mês de 2023, representando uma queda de 1,5% ou 1,8 pontos a menos em relação a novembro. Além disso, o valor foi 13,3 pontos menor (-10,1%) do que o observado no mesmo mês de 2022. Olhando o ano de 2023 como um todo, a média foi de 124,0 pontos, sendo 19,7 pontos (-13,7%) abaixo do valor médio do ano anterior. Em dezembro, a retração nos índices do açúcar (-16,6%), óleos vegetais (-1,4%) e carnes (-1,8%) mais do que compensou os aumentos dos lácteos (+1,6%) e cereais (+1,5%).
O aumento dos cereais foi puxado principalmente pelo preço do trigo, que após 4 meses seguidos em queda, reagiu por conta de entraves logísticos e tensões no Mar Negro. Somado a isso, também existem preocupações diante da segunda safra de milho no Brasil e embarques na Ucrânia. Já a valorização dos lácteos pode ser atribuída a alta nas cotações de manteiga, leite em pó integral e queijo. Em contrapartida, o açúcar atingiu o nível mais baixo dos últimos nove meses, em grande parte devido ao bom ritmo da produção brasileira. A queda dos óleos vegetais, por sua vez, é resultado dos preços mais baixos dos óleos de palma, soja, colza e girassol, devido a um ritmo de demanda mais lento dos principais compradores. Por fim, a retração das carnes se deve a desvalorização das carnes suína, bovina e de aves muito por conta de fraca demanda da Ásia e boas ofertas em países produtores.
No primeiro relatório de 2024, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) ampliou a previsão de oferta global de milho em 2023/24: de 1,222 bilhão de t (dezembro) para 1,235 (janeiro), 6,9% superior ao ciclo passado. A maior alteração veio para a China, que passou de 277,0 para 288,8 milhões de t. O USDA também elevou a safra dos Estados Unidos, de 387,0 milhões de t para 389,7. No Brasil, o caminho foi contrário, de 129,0 milhões de t, passamos agora a 127,0 milhões de t; um reajuste já esperado há pelo menos 2 meses, graças ao atraso no plantio da soja e redução na janela da 2ª safra. Com isso, a estimativa é de que a produção brasileira seja 7,3% inferior, ou de 10 milhões de t a menos, na comparação com 2022/23. Também por conta da alteração, as exportações do cereal foram reduzidas em 1 milhão de t para o nosso país, agora previstas em 58,0 milhões de t, ainda a frente dos americanos (54,0 milhões de t). Demais participantes do mercado seguem nos mesmos níveis. Por fim, os estoques do milho foram elevados em 10 milhões de t em um mês, agora em 325,2 milhões de t, 8,2% maior ou 24,7 milhões de t a mais do que em 2022/23.
O contrato do milho para mar/2024 estava cotado em US$ 4,452/bushel em Chicago, na data de conclusão de nossa coluna, queda mensal de 5,9%. Há um mês, as negociações haviam fechado em US$ 4,731/bushel.
Na soja, o USDA também reduziu a produção brasileira, mas ampliou a dos Estados Unidos e da Argentina, o que trouxe um equilíbrio para a oferta global. Brasil passou de 161,0 para 157,0 milhões de t; EUA foi de 112,4 para 113,3 milhões de t; e a Argentina subiu de 48,0 para 50,0 milhões de t. A safra global da oleaginosa está agora prevista em 399,0 milhões de t, praticamente o mesmo valor do último mês, mas 6,3% maior do que 2022/23. Já a produção brasileira será 1,9% menor do que o último ciclo. Mesmo com o reajuste, as exportações brasileiras seguem com a mesma previsão, de 99,5 milhões de t, 4,2% a mais. Os estoques globais foram levemente acrescidos, agora em 114,6 milhões de t, 12,5% superior ou 12,7 milhões de t adicionais. Em Chicago, a soja para mar/2024 estava em US$ 12,140/bushel em 19/01, 7,9% de queda em relação as negociações 30 dias atrás; estava em US$ 13,183/bushel.
Alguns produtores e profissionais do setor tem nos questionado: “mas se a produção de soja e milho no Brasil será menor, porque os preços estão caindo?”. Os dados anteriores ajudam a explicar este cenário. Mesmo com as baixas por aqui, a produção em outros países deve compensar ou até elevar a oferta global, causando um efeito negativo nas cotações.
Na cadeia do algodão, foram poucas as alterações feitas pelo USDA. A produção global passou de 24,58 milhões de t (dezembro) para 24,64 milhões de t (janeiro), o que deve representar uma queda de 2,9% em comparação com o ciclo passado. A produção na China foi reajustada de 5,87 para 5,98 milhões de t; e a dos Estados Unidos foi reduzida de 2,78 para 2,70 milhões de t. Nos 2º e 3º maiores produtores, Índia e Brasil, a produção foi mantida conforme o último relatório: em 5,44 e 3,17 milhões de t, respectivamente. Se confirmada, a oferta brasileira da pluma será 24,3% superior à do último ciclo. Os embarques brasileiros seguem no mesmo patamar, 2,50 milhões de t (+72,4%), em 2º lugar, atrás dos americanos. Os estoques finais devem fechar em 18,37 milhões de t, alta mensal de 2,4%; e 1,4% superior a 2022/23 ou 250 mil t adicionais. O contrato de mar/2024 do algodão encerrou 19 de janeiro em 83,93 centavos de dólar por libra-peso, alta mensal de 5,8%. Há um mês, as negociações da pluma estavam em 79,29 cents/lb.
No Brasil, a colheita de grãos já foi iniciada e segue em ritmo acelerado em algumas regiões. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), até o dia 20 de janeiro, a colheita da soja estava em 4,7% da área prevista, contra 2,0% no mesmo período do ano passado. No milho 1ª safra, as operações já alcançam 8,6% de progresso, contra 5,4% na mesma data de 2023; destaca para o Rio Grande do Sul que já colheu 28,0% dos campos semeados com o cereal nesta safra.
No algodão, a semeadura está em 56,6% e avançou quase 20 pontos percentuais em apenas uma semana, com a liberação das áreas de soja e plantio em 2ª safra. Com a baixa nos preços do milho, há uma tendência para alguns agricultores optarem pelo algodão na safrinha. Falando no milho, o plantio da 2ª safra já foi iniciada e está em 5,0% da área prevista, contra 0,9% há um ano. No Mato Grosso, 8,9% da área prevista já foi plantada (era 1,5% em 2023). A safrinha de milho começa mais cedo, o que pode ser uma boa notícia.
Já em relação a fenologia das lavouras, a Conab indica que a soja está com 19,8% dos campos sob desenvolvimento vegetativo; 17,1% em floração; 40,4% em enchimento de grãos; 17,6% em maturação; e 4,7% já fora colhido. No milho 1ª safra, 30,4% dos campos encontram-se em desenvolvimento vegetativo; 14,6% sob floração; 21,8% em enchimento de grãos; 21,4% em maturação; e 8,6% colhido. Os outros 4,3% referem-se a áreas ainda em emergência, em regiões onde o milho é cultivado em outras janelas.
No principal estado produtor de soja, o Mato Grosso, a colheita havia alcançado 6,5% da área prevista até o final da primeira quinzena de janeiro, o maior progresso da história. O adiantamento das operações é explicado pelo encurtamento do ciclo em algumas regiões, devido à falta de chuvas. Como resultado, espera-se uma queda relevante na produtividade: até o momento, o acumulado a média no estado é de 39,25 sc/ha, bem abaixo dos ciclos anteriores, indicou o Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea).
E por falar em clima, o órgão americano Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA) divulgou suas novas projeções indicando que o El Niño deve se estender nos primeiros meses de 2024 (entre janeiro e março a probabilidade é de 100,0%) e passar para uma transição ao La Niña, a partir de julho/agosto (a previsão já é de 60,0% de chances para o fenômeno neste período). Vale recordar que o La Niña causa estiagem nas regiões sul do continente americano (Sul do Brasil, Uruguai e Argentina) e excesso de chuvas na região norte do país. Este será um ponto para acompanhamento permanente em 2024.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reestimou o ciclo 2023/24 de grãos para 306,4 milhões de t no 4º levantamento divulgado, representando mais uma queda na projeção, de 4,2% ou 13,5 milhões de t a menos em relação à safra passada (319,9 milhões de t). Diante do boletim divulgado em dezembro, também houve retração, de 1,9% ou 5,9 milhões de t (312,3 milhões de t), puxada principalmente pela soja (-4,9 milhões de t) e milho (-924,6 mil t), ficando com uma produção total de 155,3 milhões de t e 117,6 milhões de t, respectivamente. A queda no volume é consequência do clima adverso com a escassez e má distribuição de chuvas somadas a altas temperaturas na região central do país, fora o alto volume de chuvas na Região Sul, que geram atraso do plantio da safra. Enquanto isso, a área ocupada pelas culturas também diminuiu de um mês a outro, mas ainda deve aumentar 0,3% ante o último ciclo, ficando em 74,5 milhões de ha.
O USDA também divulgou as atualizações para outras duas cadeias de importância global: a do café e as de proteína animal. No estimulante, a produção global total (arábica + robusta) em 2023/24 foi revista para baixo, de 174,3 milhões de sacas (60kg) em junho/2023, para 171,4 milhões de scs agora em janeiro/2024. Brasil teve sua produção reduzida em 100 mil scs, prevista agora em 66,30 milhões de scs, 5,9% maior do que o último ciclo. A maior baixa veio do Vietnã que caiu de 31,3 para 27,5 milhões de scs. Nas vendas externas do grão, o Brasil deve embarcar 39,5 milhões de scs, 22,7% a mais. Exportações globais devem crescer 7,4% em 2023/24, totalizando 119,92 milhões de scs.
Nas carnes, a atualização de janeiro prevê para a produção global em 2024: 59,5 milhões de t na carne bovina (+0,1%); 103,3 milhões de t na carne de frango (+0,8%); e 114,2 milhões de t na suína (-0,9%). Brasil deve produzir 10,8 milhões de t na bovina (+2,6%; 2º colocado), 15,1 milhões de t na de frango (+1,3%; 2º colocado) e 4,7 milhões de t na suína (+ 4,5%; 4º colocado). Já nas exportações, o Brasil deverá embarcar 3,0 milhões de t da carne bovina (+3,1%; 1º colocado; 24,7% do mercado), 4,9 milhões de t do frango (+3,4%; 1º colocado; 35,4% de share) e 1,5 milhão de t da carne suína (+6,3%; 3º colocado; 14,7% de participação).
Em 2023, o Brasil exportou US$ 339,7 bilhões, uma alta de 1,7% em comparação com 2022, informou a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Do lado das importações, foram US$ 240,9 bilhões, 11,7% inferiores. Como resultado, a balança registrou superávit de US$ 98,8 bilhões, alta anual de 60,6% e o maior valor já registrado na série histórica que teve início em 1989. O resultado foi ainda mais positivo diante do contexto econômico global, pois os preços dos produtos vendidos registraram queda de 8,8%, enquanto os volumes cresceram 8,7%, mostrando que conquistamos participação de mercado. Para 2024, a expectativa é de que o Brasil exporte US$ 348 bilhões, uma alta 2,4%, mesmo diante de um cenário desafiador em relação a preços e incertezas na oferta e demanda de alguns produtos.
Do total vendido pelo Brasil no ano passado, 49,0% da receita veio do agro: foram US$ 166,6 bilhões, contra US$ 158,9 bilhões em 2022, ou seja, alta de 4,8%, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O setor importou US$ 16,61 bilhões (-3,7%), o que gerou um saldo positivo de US$ 149,94 bilhões (+5,8%). Vejam que interessante: sem o agro, o Brasil sairia de um superávit de quase US$ 100 bilhões, para um déficit de quase US$ 50 bilhões. No top 5 das categorias que mais contribuíram para este resultado temos: Em 1º) o “Complexo Soja”, com US$ 67,3 bilhões (40,4%); 2º) as “Carnes” com US$ 23,5 bilhões (14,4%); 3º) lugar ficou com o “Complexo Sucroenergético” (destaque para o açúcar) que vendeu US$ 17,3 bilhões (10,4%); 4º) “Cereais, Farinhas e Preparações” (destaque para o milho) com US$ 15,5 bilhões (9,3%); e em 5º) temos os “Produtos Florestais”, com receita de US$ 14,3 bilhões (8,6%). Chama atenção, ainda, o volume total de grãos exportado: 193,0 milhões de t, praticamente 60% de toda a produção da safra brasileira. Para 2024, nossa estimativa é de que as receitas superam os US$ 170 bilhões, a depender da oferta de grãos (safra em andamento) e da manutenção ou leve alta nos preços globais das commodities.
Em 2023, o Brasil importou 40,95 milhões de t de adubos e fertilizantes, alta de 7,5% em volume. Já nos custos, foram US$ 14,63 bilhões, queda de 40,8%, graças a queda nos preços internacionais destes produtos.
Na indústria de alimentos, as exportações de produtos industrializados somaram US$ 62 bilhões em 2023, alta de 5,3%, e participando de 18,3% do total das vendas brasileiras. Já os volumes cresceram 11,4% no último ano, o que compensou a alta nas receitas, já que os preços caíram 5,1% na média. Os principais produtos exportados pela agroindústria foram: 1) proteínas animais com US$ 23,6 bilhões (-8,4%); 2) Açúcares com US$ 16,0 bilhões (+42,1%); e 3) farelos de soja com US$ 12,6 bilhões (+12,7%). Já na indústria de alimentos (produtos embalados), os destaques foram: 1) carnes industrializadas (embutidos em conserva) com US$ 1,30 bilhão (-10,6%); 2) café solúvel com US$ 675,8 milhões (+6,1%); e 3) chocolates, balas e confeitos com US$ 456,8 milhões (+7,5%). Desde 2022, o Brasil é o maior exportador global de alimentos industrializados. Parabéns a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) pelo belo trabalho que tem feito.
As exportações brasileiras de frutas em 2023 foram impulsionadas pelo desempenho menos expressivo de países concorrentes, afetados pelo El Niño. Novos mercados e a recuperação do volume e preço de certas frutas como melão, manga e uva, contribuíram para um recorde de US$ 1,34 bilhão em receitas de exportação no ano passado, um aumento de 23,5%. As frutas irrigadas no Vale do São Francisco e no Rio Grande do Norte representaram quase metade das exportações. Em 2024 o cenário também deve ser positivo para o setor, com expectativa de crescimento de 20,0% nas vendas externas.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), projetou uma queda de 0,2% no Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária em 2024, estimando um índice de R$ 1,166 trilhão, ligeiramente abaixo dos R$ 1,168 trilhão alcançados em 2023. A estagnação estimada no faturamento das lavouras (R$ 818,9 bilhões) se deve a diferentes desempenhos nas culturas. Apesar da queda esperada para milho (-12,7%), soja (-1,4%) e algodão (-11,8%), por outro lado, muitos produtos agrícolas apresentam estimativas de aumento, com destaque para o arroz (+29,9%), laranja (+28,3%) e trigo (+24,2%). No setor pecuário, o VBP deve diminuir 0,5% (R$ 347,2 bilhões), influenciado principalmente por resultados negativos na carne bovina, que deve retrair 4,8% em 2024 (R$ 129,3 bilhões). Além disso, o cenário também é desfavorável para o leite (-3,6%) e ovos (-9,5%). No entanto, a produção de carne de frango está prevista para aumentar 10,1%, ultrapassando os R$ 100 bilhões de faturamento pela primeira vez.
No 3º trimestre de 2023, a população ocupada no agronegócio alcançou novo recorde histórico: 28,5 milhões de pessoas. É o que indica o estudo iniciado em 2012, liderado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Com o resultado, o setor participou de 26,8% de todos os empregos do Brasil no 3º trimestre do ano passado. No período, 396,1 mil pessoas receberam novas vagas no agro, alta de 1,4%. O setor de agrosserviços (+8,1%) e o de insumos (+9,4%) foram os que mais contribuíram para este crescimento.
O Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) lançou a plataforma Avalia Psilídeo, uma ferramenta para apoiar citricultores na escolha de inseticidas para controlar o psilídeo, transmissor do greening, principal doença das lavouras de citrus. A plataforma apresenta resultados atualizados de experimentos de eficácia de inseticidas em populações do psilídeo de diferentes regiões do cinturão citrícola, permitindo aos produtores acompanharem os produtos mais eficazes no controle do inseto. Com o aumento da incidência da doença em 2023, a ferramenta visa fornecer informações cruciais para o manejo da praga e a preservação dos pomares.
A Mosaic, principal vendedora de fertilizantes no Brasil, prevê um aumento de 1 milhão de t no mercado de adubos em 2024, atingindo um recorde de 46 milhões de t entregues aos agricultores. O otimismo surge com o retorno das chuvas nas regiões ao norte do país, estimulando a expectativa de um plantio mais estável na segunda safra. Além disso, a normalização do clima também é vista como um impulso para negócios antecipados na próxima safra de soja, apesar do atraso devido à seca.
Para concluir a análise do agro, apresentamos os principais preços do setor na data de fechamento da nossa coluna. Na soja, a cotação era de R$ 114,30/sc (60 kg) para entrega em cooperativa do estado de São Paulo (FOB). Já a negociação para mar/2024 estava em R$ 109,80/sc. No milho, o preço físico era de R$ 65,00/sc e o contrato de mar/2024 havia fechado em R$ 66,87/sc (B3). No algodão, R$ 131,69/@, considerando base Esalq/USP. Outras cotações, segundo o Cepea: café arábica estava em R$ 983,26/sc (60kg); o trigo Paraná em R$ 1.241,55/t; a laranja para indústria em R$ 57,40/cx (40,8kg); e o boi gordo em R$ 249,60/@.
Os cinco fatos do agro para acompanhar em fevereiro são:
- Evolução na colheita (antecipada) da soja pelo Brasil e o seu desempenho produtivo. Com o encurtamento do ciclo, espera-se que a produtividade caia, afetando diretamente a produção e, consequentemente, o mercado global da leguminosa. Vamos olhar também para os números do milho verão, cuja colheita também já está em andamento.
- Acompanhar o plantio da 2ª safra de milho e algodão. A previsão é de redução da área plantada, por conta dos atrasos que tivemos no plantio da soja no final do ano passado. Por outro lado, o adiantamento da colheita da soja pode ampliar a janela para a safrinha, alterando as intenções de plantio; unido, também, a baixa nos custos dos insumos. Por outro lado, no caso do milho, os contratos em Chicago seguem em queda, o que pode desestimular o agricultor brasileiro.
- Previsões para o clima nos próximos meses. O prolongamento do El Niño e a grande chance de transição para o La Ninã entre o 1º e 2º semestres, podem alterar drasticamente o regime de chuvas nas diferentes regiões do país, aspecto que pode ser decisivo na tomada de decisão (tanto para o manejo das culturas perenes, quanto para o planejamento da próxima safra nas anuais).
- É válido, também, seguir acompanhando o status das safras em outros países do hemisfério sul. Na Argentina, por exemplo, as condições têm sido bastante positivas, e as estimativas indicam uma produção ainda maior do que a estimada inicialmente, tanto na soja (50 mi de t), quanto no milho (55 mi de t).
- Por fim, inevitavelmente, temos que olhar para a escalada dos conflitos no Oriente Médio: os ataques a navios no Mar Vermelho, alterando a dinâmica logística; a resposta dos EUA no Iêmen; as tensões diplomáticas com o Irã; e a continuidade da guerra entre Israel e o Hamas. Avaliar os impactos destes eventos nos mercados do petróleo, no câmbio, na logística global e em outros mercados.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness Scholl (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, mestrando em Administração pela FEA-RP/USP e Instrutor “In Company” na Harven Agribusiness School. É especialista em comunicação estratégica no agro.
Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.