COLUNISTAS
Preços dos Insumos Caem e Safra Verão Ganha Fôlego
Na economia mundial e brasileira, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou fevereiro em alta de 0,84%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os nove grupos de produtos e serviços analisados, oito tiveram altas, com destaque para: “Educação” cresceu 6,28% no mês; “Saúde e Cuidados” subiu 1,26%; e “Habitação”, com alta de 0,82%. O único grupo que registrou queda foi o de “Vestuário”, retração de 0,24%. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação ficou em 5,60% no país.
Ainda sobre o IPCA, entre os produtos do segmento de “Transportes”, a gasolina subiu 1,16% no último mês, enquanto etanol, gás veicular e óleo diesel caíram 1,03%, 2,41% e 3,25%, respectivamente. Já nos “Alimentos e Bebidas” a alta mensal foi de 0,16%, inferior ao que havia sido registrado em janeiro (0,59%). Entre os principais produtos deste grupo caíram as carnes (- 1,22%), a batata-inglesa (- 11,57%) e o tomate (-9,81%); e subiu leite longa vida (+ 4,62%), após seis meses de reduções consecutivas.
Após este balanço, o Boletim Focus/Bacen do Banco Central do Brasil (de 20 de março de 2023) prevê que o IPCA deve ficar em 5,95% neste ano (baixa no comparativo mensal) e 4,11% em 2024 (alta). Já o Produto Interno Bruto (PIB) está previsto para crescer 0,88% em 2023 (baixa mensal) e 1,47% no próximo ano (baixa). O câmbio foi mantido nos mesmos níveis da previsão de 30 dias atrás: em R$ 5,25 ao final de 2023 e R$ 5,30 ao término de 2024. Por fim, a Taxa Selic está prevista pelo órgão em 12,75% neste ano e 10,00% no próximo, ambos iguais ao que havia sido previsto no mês passado.
No agro mundial e brasileiro, o Índice de Preços de Alimentos da FAO (Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) registrou a 11ª queda mensal consecutiva em fevereiro, fechando em 129,8 pontos, 0,6% inferior a janeiro. Desde o último pico de preços em março de 2022, o indicador acumula queda de 29,9 pontos (-18,7%). A principal explicação para o comportamento foi a queda nos preços de óleos vegetais, laticínios e cereais. O grupo dos “cereais” fechou o mês com média de 147,3 pontos, 0,1% menor do que janeiro, embora o preço do milho tenha registrado alta de 0,1%, em vista dos atrasos no plantio da 2ª safra brasileira e as perdas nas lavouras da Argentina. No subíndice de “óleos vegetais”, o indicador ficou em 135,9 pontos (- 3,2% em relação a janeiro), reflexo da baixa nos preços de óleo de palma, soja, girassol e colza.
Já o relatório mensal que prevê as safras globais de grãos, elaborado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), indicou nova redução na produção global de milho: era de 1,151 bilhão de t em fevereiro e veio a 1,147 bilhão de t em março, queda de 0,3% ou 4 milhões de t a menos. Com isso, a oferta mundial do cereal neste ciclo deve ser 5,6% inferior a 2021/22; são 70 milhões de t a menos! O principal motivador da nova redução foi o impacto que o clima tem trazido a produção de grãos na Argentina, que teve suas estimativas reduzidas de 47,0 (fevereiro) para 40,0 milhões de t (março). Com isso, a oferta deverá ser 19,2% inferior a 2021/22. Já para Brasil e Estados Unidos, a previsão foi mantida em 125,0 milhões de t (+ 7,8%) e 348,8 milhões de t (- 8,9%), respectivamente. Ao final de 2022/23, o USDA estima um estoque de 296,5 milhões de t de milho, 3,0% inferior ou 9,2 milhões de t a menos do que o ciclo passado.
Em vista de toda a turbulência na cadeia global do milho em 2022/23, com as quedas expressivas na produção de Estados Unidos e Argentina, além dos problemas da Ucrânia, o Brasil deve assumir o posto de maior exportador global do cereal neste ciclo: a previsão indica 52,0 milhões de t, contra 49,0 milhões de t dos EUA, que deve passar para a segunda posição. Se confirmada a estimativa, o nosso país irá comercializar 19,6 milhões de t de milho a mais em um ano, crescimento de 60,5%! Vale lembrar, é claro, que ainda dependemos do bom andamento da 2ª safra (~80% da produção nacional), que está em fase final de plantio. Vamos torcer!
Na soja, o USDA também reviu para baixo a previsão para produção global: de 383,0 (fevereiro) para 375,1 milhões de t (março), 7,9 milhões de t a menos em 1 mês. Assim como no milho, a quebra na produção da Argentina é o fator que explica a alteração; em um mês, a previsão para produção da oleaginosa no país foi revista de 41,0 para 33,0 milhões de t, o que deve resultar numa queda de 6,6% na oferta argentina do grão. No Brasil e Estados Unidos as previsões foram mantidas conforme o último mês, em 153,0 (+ 18,1%) e 116,4 milhões de t (- 4,1%), respectivamente. Os estoques globais de soja, por sua vez, devem fechar 2022/23 com 100,0 milhões de t, 2 milhões de t a menos do que havia sido previsto em fevereiro e 1,0% acima de 2021/22.
Já no algodão, o USDA reviu para cima a produção de pluma em 2022/23: 25,06 milhões de t, 0,7% menor do que o ciclo passado. Por outro lado, no elo de consumo, a estimativa foi jogada para baixo: agora em 25,3 milhões de t (- 5,3%). A baixa no consumo tem relação com a menor demanda de grandes consumidores como Bangladesh, Paquistão e Turquia. Como consequência, as importações da pluma neste ciclo devem cair 7,5%, ficando em torno de 8,6 milhões de t.
No Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) fez um pequeno ajuste na produção de grãos em 2022/23: de 310,6 milhões de t (fevereiro) para 309,9 milhões de t (março), em vista dos atrasos na colheita da soja e plantio do milho safrinha. Mesmo com a revisão, esta safra deverá ser 13,8% superior a passada, com destaques: a soja deve entregar 151,5 milhões de t (+ 20,6%); o milho 124,7 milhões de t (+ 10,2%), sendo 26,8 milhões de t na 1ª safra (+ 6,9%), 95,6 milhões de t na 2ª safra (+ 11,3%) e 2,3 milhões de t na 3ª safra (+ 4,7%); e no algodão, serão 2,8 milhões de t de pluma (+ 9,0%). Já em relação as culturas de inverno, serão 12,4 milhões de t, praticamente o mesmo volume de 2022, com o trigo entregando 10,5 milhões de t; a aveia 1,2 milhão de t; e a cevada 482,1 mil t.
Em relação a área de milho 2ª safra, a Conab prevê que serão cultivados aproximadamente 17 milhões de ha, 3,8% a mais do que 2021/22 ou 630 mil ha adicionais. Até o último dia 18 de março, 85,1% das áreas a serem cultivadas com o cereal haviam sido plantadas no Brasil, 9,6 p.p. a menos do que igual data do ano passado; atenção a estes números! No Mato Grosso, principal estado produtor, o plantio está praticamente finalizado, com 98,9%. Goiás e Tocantins também já finalizaram as operações. Já em relação a colheita do milho 1ª safra, o progresso apontado pela Conab é de 35,0% até 18 de março, 6,6 p.p. abaixo na comparação com o ano passado. Os estados com resultados mais avançados até o momento são: São Paulo (65,0%), Santa Catarina (65,0%), Rio Grande do Sul (64,0%) e Paraná (45,0%). A Conab reviu a produtividade nacional média do cereal em 2022/23 para 5,6 t por ha, 7,2% maior do que a do ciclo passado. A melhora tem relação, principalmente, com a qualidade do grão colhido no estado do Paraná, que vivenciou boas condições de clima neste ciclo. No Rio Grande do Sul, por outro lado, a estimativa de produção é de 4,12 milhões de t do milho, 4,32% inferior ao que havia sido estimado no último mês; redução justificada pelo impacto da seca nas lavouras do estado.
Na soja, a colheita tem avançado bem nas últimas semanas, com a trégua dada pelas chuvas nas regiões produtoras. 65,2% das áreas do país foram colhidas até 18 de março, contra 70,6% na mesma data de 2022. O Mato Grosso alcança 97,9% de avanço e tem as operações praticamente finalizadas. Demais estados encontram-se: Rio Grande do Sul ainda em 0,0% (2022: 9,0%); Paraná em 55,0% (2022: 68,0%); Goiás em 80,5% (2022: 92,0%); e Mato Grosso do Sul em 80,0% (2022: 94,0%).
Na atualização de março referente ao Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estima uma renda no campo de R$ 1,249 trilhão em 2023, alta de 5,0% em relação ao ano passado. Desse total, as cadeias de produção agrícola devem participar com 71%, um VBP previsto em R$ 887,7 bilhões e com destaques para a soja (R$ 387,0 bilhões), milho (R$ 162,0 bilhões) e cana-de-açúcar (R$ 102,0 bilhões).
Em fevereiro, as exportações do agronegócio somaram US$ 9,88 bilhões, queda de 5,6% em relação ao mesmo mês do ano passado. Entre os principais fatores que explicam a redução estão: as restrições para vendas de carne bovina por conta do caso atípico de “mal da vaca louca”; o menor volume mensal exportado de grãos (especialmente soja) com o atraso na colheita; e a queda nas vendas mensais de açúcar e trigo. O top 5 com as categorias que registraram maior receita tem na liderança o “Complexo Soja” com US$ 3,86 bilhões (-3,1%), dos quais a soja em grão respondeu por US$ 2,88 bilhões (- 8,1%). Em segundo lugar, aparecem as “Carnes” com receita de US$ 1,63 bilhão (- 9,5%), sendo que o frango vendeu US$ 726,25 milhões (+ 13,0%); a carne bovina, US$ 684,9 milhões (- 28,9%); e a suína US$ 183,5 milhões (+ 26,6%). Na sequência (3°) aparecem os “Produtos Florestais”, com receita de US$ 1,30 bilhão (+ 9,1%). Na quarta posição temos os “Cereais, Farinhas e Preparações”, com US$ 940,9 milhões, sendo que o milho participa de 73,3% deste total (US$ 689,3 milhões). or fim, em quinto lugar ficou o “Complexo Sucroalcooleiro”, com vendas em US$ 617,2 milhões (- 15,2%), destaque para a retração de 23,5% nas exportações do açúcar (US$ 516,42 milhões).
Já as importações do agro brasileiro em fevereiro somaram US$ 1,34 bilhões (+ 7,2%), o que resultou em um saldo positivo de US$ 8,55 bilhões (- 7,4%). No acumulado de 2023 (janeiro e fevereiro) vendemos US$ 20,1 bilhões (+ 4,4%) e a balança comercial do setor registra US$ 17,2 bilhões em saldo (+ 1,8%).
Ainda falando sobre comércio externo, as importações chinesas de milho do Brasil cresceram 13,8% nos dois primeiros meses de 2023: foram 5,33 milhões de t. Já na soja, com o atraso na colheita, o país asiático comprou 36,0% a menos, o que foi suprido especialmente pelas compras dos EUA: foram 11,6 milhões de t da oleaginosa compradas pelo país asiático dos norte-americanos, 15,4% a mais.
Na Ucrânia, o Ministério de Política Agrária e de Alimentos do país divulgou uma estimativa que prevê uma queda de 15,0% na colheita de grãos em 2022/23, por conta da triste continuidade da guerra com a Rússia. Em 2021/22, a Ucrânia colheu 53 milhões de t de grãos, 20% a menos do que a média dos últimos 5 anos. A boa notícia é que foi renovado o acordo para exportações de grãos pelo Mar Negro, em acordo com a Rússia, por mais 60 dias; não mais 120, como antes.
Em 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro caiu 4,2% no último ano, por conta da forte alta de insumos no elo de produção primária; os dados e insights são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e do CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Com o resultado, a participação do setor na economia passou de 26,6% em 2021 para 24,8% em 2022. No ramo agrícola o recuo foi de 6,4%, enquanto o de pecuária avançou 2,11%.
Em janeiro, 23 mil novas vagas foram criadas pelo agronegócio brasileiro (setores da agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura). Foram 111,6 mil novas admissões e 88,5 mil desligamentos, o que gerou o saldo positivo. O dado foi divulgado pelo Cadastro Geral de Empregos e Desempregados (Caged).
Concluindo nossa análise na categoria agronegócio, apresentamos os preços dos principais produtos agropecuários na data de fechamento da nossa coluna (21/03). A soja estava em R$ 152,30/sc (60kg) para entrega Spot em cooperativa no estado de São Paulo; e com preços futuros em R$ 155,10/sc para abr/2023, R$ 147,80/sc para fev/24 e R$ 146,80/sc para mar/24. No milho, a cotação do físico estava em R$ 82,00/sc (60kg) e com futuros em R$ 71,80/sc para ago/23 e R$ 90,30 para jan/24. No algodão, a arroba estava com preços em R$ 159,48, tendo como base o Cepea/Esalq. Demais produtos do agro registravam as seguintes cotações (Cepea/Esalq): café arábica em R$ 1.186,00/sc (60kg); o trigo Paraná em R$ 1.634,78/t; e a laranja indústria em R$ 38,09/cx (40,8 kg).
Os cinco fatos do agro para acompanhar em abril são:
- Colheita de grãos da safra verão e o progresso de plantio do milho safrinha. Mesmo com os avanços das últimas semanas, após as chuvas finalmente terem dado alguma “trégua”, ainda preocupa o ritmo atrasado em relação ao ciclo anterior. Olhar para o clima e meteorologia buscando entender os possíveis impactos no cultivo da safrinha é essencial neste momento.
- Previsões para produção e/ou colheita de grãos em outros países de importância global, tais como a Argentina, que vem mês a mês sofrendo com as fortes perdas; e Ucrânia, que deve perder mais 15% dos volumes nesta safra por conta dos avanços do conflito. Entender como estes fatos impactam a dinâmica de oferta e demanda global de grãos. Observar as intenções de plantio nos EUA.
- Desempenho exportador do agro brasileiro: após mais de um ano de recordes mensais para as receitas, fevereiro fechou em queda, isto por conta das restrições para exportações de carne bovina após o caso de “mal da vaca louca” e pelo atraso na colheita de grãos (especialmente da soja) limitando os embarques. A China anunciou a volta das compras de carne bovina brasileira e a colheita de grãos tem avançado positivamente. Torcida pelos bons resultados no próximo mês.
- Os impactos da renovação do acordo entre Rússia e Ucrânia para exportações de grãos no Mar Negro por mais 60 dias. Desta vez, o período foi cortado pela metade, o que reduz a segurança quanto a transação de commodities em médio prazo, afetando as negociações de grãos.
- Olhar para a economia brasileira, as oscilações do câmbio e também para o mercado financeiro, especialmente por conta das discussões relativas à taxa de juros; o Copom reafirmou que a Selic deve continuar em nível elevado, ao menos no curto prazo. Vamos acompanhar os desdobramentos.
* Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com, no canal do Youtube e este texto tem a coautoria de Vinicius Cambaúva e Vitor Nardini Marques.