ENTREVISTA
Bruno Arroyo – Gerente de Marketing Estratégico da Agrobiológica, fala sobre as principais perspectivas do mercado de bioinsumos

Sobre a Agrobiológica
Há 18 anos no mercado de insumos biológicos, foi pioneira no Brasil na produção e profissionalização do On Farm, desenvolvendo meios de cultivos mais estáveis e apropriados aos produtores. Atualmente, a empresa é integrante da CropCare Holding e atua também na comercialização de biodefensivos formulados.
Bruno Arroyo – Engenheiro agrônomo, com mais de 11 anos de experiência em soluções biológicas. Possui MBA em Agronegócio e Gestão Empresarial. Desde 2021 na Agrobiológica, atua como Gerente de Marketing Estratégico.
1.É possível dizer que o mercado de biológicos está crescendo? A quais fatores principais vocês atribuem esse cenário? O que podemos esperar para esse setor?
Sim, o mercado de bioinsumos está crescendo. Há duas safras, o mercado apresentou cerca de 50% de crescimento, chamando a atenção de investidores. Isso tem gerado cada vez mais novos entrantes e multinacionais atuando neste segmento, o que, para nós, é um cenário positivo, já que demonstra a profissionalização do setor.
No último ano, o mercado se elevou em aproximadamente 15% e a expectativa é que siga em crescimento, principalmente devido às atuais condições do Brasil, que são favoráveis à utilização de bioinsumos, como o clima tropical e o aumento da pressão de patógenos nos solos. Além disso, o cenário de resistência das pragas sobre moléculas químicas estão sendo cada vez mais vistas em campo, o que acarretará maior adoção dos biológicos.
Com isso, o manejo biológico torna-se necessário até mesmo para que o produtor consiga manter a utilização dos químicos, além de alcançar melhor rentabilidade da lavoura. Hoje, estima-se que 38% da área plantada no Brasil já adote produtos biológicos. Ainda há grande potencial de crescimento para o mercado, tanto para os produtores que já adotaram os biológicos quanto para aqueles que ainda não aderiram. Portanto, os bioinsumos devem deixar de serem considerados supérfluos para os produtores e passar a serem entendidos como uma categoria de proteção de cultivo essencial nas lavouras.
2.Com a ampliação do uso dos biológicos, quais as principais dificuldades que vocês encontram para esses produtos?
Atualmente, o Brasil conta com pouca mão-de-obra qualificada para instruir os produtores acerca dos principais tópicos dentro dos biológicos, como aplicação, ativos macro e microbiológicos, e modo de ação. Assim, a transmissão do conhecimento adequado sobre a tecnologia acaba comprometida, dificultando a difusão dos produtos e trazendo incerteza aos produtores em sua adoção.
O shelf life (tempo de prateleira) dos produtos, por exemplo, é algo que causa preocupação. Isso porque acredita-se que os biológicos sejam altamente perecíveis, o que poderia gerar perdas de produto em distribuidores ou até mesmo nos produtores. Entretanto, as empresas produtoras vêm trabalhando intensamente na qualidade e estabilidade dos produtos, como a Agrobiológica, que já possui produtos à base de fungos com validade de 12 meses sem a necessidade de refrigeração.
Além disso, alguns julgamentos por parte dos produtores podem representar certo desafio para desmistificá-los. Como a compatibilidade das formulações entre os químicos e os biológicos: entender quais misturas são viáveis em conjunto ou quanto tempo se manterão adequadas, podem gerar confusão. Ademais, o conceito de que os biológicos precisam apresentar valores mais competitivos do que os químicos ou devem ser aplicados somente em dias nublados, podem fazer com que os produtos sejam malvistos. Para além de precificações mais atrativas, os biológicos devem ser vistos como soluções que podem trazer inúmeros benefícios a produção.
3.Como a empresa reagiu a lei 15.070, de 2024, que regulamentou os bioinsumos no Brasil? Quais são as expectativas para o OnFarm, frente essa nova legislação?
Para nós, foi algo muito positivo, pois trouxe segurança e respostas às dúvidas de muitos investidores e produtores de soluções biológicas, servindo como norteador para os próximos passos do mercado. Temos ainda até o final desse ano de discussões para que as premissas da lei sejam estabelecidas, mas as expectativas seguem otimistas.
Para os produtos formulados, a lei implicou em uma categorização específica e desvinculada dos produtos químicos, o que se fazia mais do que necessário, haja vista que ambas as categorias não podem ser equiparadas.
Já para o OnFarm, anteriormente a essa legislação, o método produtivo enfrentou diversas pressões devido ao decreto (nº 6.913/2009) que só permitiria a produção própria de bioinsumos até dezembro de 2024. A lei atual foi muito positiva por evidenciar as empresas que trabalham de maneira profissional com esse método. Trazer essa legalidade ao setor foi muito importante, pois acreditamos na eficácia dessas produções e, para nós, a proibição representaria um retrocesso.
A Agrobiológica teve origem no pioneirismo dentro da produção OnFarm, iniciando com meios de culturas mais estáveis e adequados às propriedades, e, posteriormente, disponibilizando equipamentos eficientes, como biorreatores. Hoje, contamos com uma gama de profissionais qualificados e extremo rigor no controle de qualidade. Com a nova lei, pretendemos ampliar esse nicho. Nós estamos prontos para levar ao produtor a melhor qualidade em consonância com a nova legislação.
4.Como vocês vêem as gerações dos produtos ao longo da evolução dos biológicos? Ainda existe muito a ser explorado na segunda geração? Em qual delas a Agrobiológica estaria inserida?
A primeira geração ficou caracterizada principalmente por produtos contendo somente um organismo. Apesar destes produtos serem comercializados até os dias atuais, no início da fabricação alguns produtos acabaram por não conter formulações exatas, geralmente sendo arroz e esporos. A segunda geração engloba itens baseados em microrganismos isolados ou na combinação de microrganismos, o que pode gerar maior aplicabilidade através da soma de funções, e avanço nas formulações trazendo melhor aplicabilidade. Já na terceira, encontram-se produtos à base de microrganismos e metabólitos de origem biológica, que prometem ser tão eficientes quanto os próprios microrganismos.
Pode-se dizer que, atualmente, a Agrobiológica flutua entre a segunda e a terceira geração, já que desenvolvemos a combinação de microrganismos e metabólitos de origem biológica em um mesmo produto. Estes têm se mostrado mais rápidos e eficientes na geração de respostas dentro das lavouras. Com isso, conseguimos até mesmo reduzir a concentração dos microrganismos na formulação.
Desse modo, a Agrobiológica traz o diferencial de formulações líquidas, com menores concentrações, porém mantendo a eficiência dos resultados, o que tem sido importante para desmistificar algumas dificuldades supracitadas. Assim, a evolução dos bioinsumos se faz ainda e cada vez mais necessária, sendo que os metabólitos certamente terão grande participação nesse processo, podendo ser os propulsores dos biológicos a médio prazo.
5.Acerca da eficiência, é possível dizer que cepas exclusivas possuem melhor desempenho? E quanto a concentração dos ativos, como influenciam os resultados?
Sobre isso, é preciso ter cautela para entender que uma alta concentração não implica em maior eficiência. Os diferentes modelos de produção e formulações podem promover resultados diferentes nos produtos, isso é fato. Assim, a concentração dos microrganismos nas diversas soluções não pode ser vista como balizadora da eficiência dos biológicos.
Em decorrência da continentalidade do Brasil e das diferenças entre as regiões do país, é de se pensar que algumas cepas possam exercer maiores efeitos nas pragas a depender da região na qual foram aplicadas, devido ao melhor desenvolvimento do microrganismo em determinado clima ou solo. A maioria das cepas utilizadas na Agrobiológica são exclusivas e com código genético depositado em repositórios.
Nesse sentido, ainda precisamos entender melhor como as cepas estão relacionadas às suas principais pragas, por exemplo. Pode-se dizer que a exclusividade delas atribui, sim, diferença aos produtos e sejam, portanto, um diferencial. Entretanto, esse assunto ainda precisa ser aprofundado.
6.Tendo isso em vista, quais inovações a P&D da Agrobiológica está buscando atualmente?
Na frente da P&D da Agrobiológica estão, sem dúvidas, o estudo dos endofíticos, isto é, microrganismos que vivem no interior das plantas sem causar danos, que podem e devem ser explorados; e o desenvolvimento de bioherbicidas, que possuem desafios a serem superados, como a dificuldade de apresentarem amplo espectro.
Além disso, olhamos também para algumas combinações entre microrganismos já encontrados no mercado, bem como buscamos novos microrganismos ainda não explorados. Ademais, fatores como o aumento do tempo de prateleira e melhora da estabilidade dos nossos produtos estão em constante evolução.
Também faz parte dos nossos planos de ação engajar cada vez mais na produção OnFarm, tanto na ampliação da segurança, como na elaboração de novas tecnologias. Queremos ser mais do que barateadores de custos produtivos, visamos agregar valor aos nossos produtos.
Equipe Global Crop Protection, 18/03/2025