Camila Vargas da Bioin Biotecnologia comenta sobre perspectivas para o mercado de biodefensivos

Camila Corrêa Vargas é Co-fundadora da Bioin Biotecnologia. Acredita que a união da ciência, tecnologia e empreendedorismo é a chave para o desenvolvimento da agricultura sustentável. É formada em Tecnologia Agropecuária (UERGS), é Mestre em Fitotecnia e Doutora em Fitotecnia (UFRGS).

1. O monitoramento das plantações já se provou um importante aliado no combate as pragas. Quais os tipos de soluções que o produtor pode encontrar atualmente e como ele deve agir a partir da identificação de uma praga?

Atualmente existem diversas ferramentas que podem ser utilizadas para monitoramento de pragas. Desde as consideradas mais tradicionais, até aquelas mais tecnológicas. Felizmente, o avanço tecnológico tem contribuído fortemente para a otimização das operações de manejo de pragas, trazendo mais assertividade na tomada de decisão. Dentre as soluções mais conhecidas é possível fazer o uso de armadilhas entomológicas como armadilha adesiva amarela ou azul ou armadilha de feromônio. Esses são alguns exemplos de ferramentas comercializadas para capturar e monitorar pragas. As armadilhas coloridas atraem os insetos que ficam aderidos na superfície contendo cola. Dessa forma podem ser contabilizados e identificados, a fim de monitorar o fluxo de insetos praga na área. Já as armadilhas de feromônio atraem espécies de mariposas praga através de iscas específicas. Os insetos atraídos ficam aderidos no piso adesivo e podem ser contabilizados. De acordo com o número de insetos presos na armadilha é possível identificar a intensidade da infestação e realizar o melhor controle. Já as ferramentas tecnológicas podem utilizar imagens georreferenciadas – captadas por drones e satélites – para identificar áreas com danos associadas as pragas. Também existem no mercado aplicativos que registram a incidência da espécie praga e traçam mapas de infestação. Dessa forma, é possível identificar regiões mais ou menos infestadas e realizar um monitoramento mais adequado para cada área do cultivo. É importante salientar, que as ferramentas de monitoramento devem ser utilizadas como um “norte” para o agricultor. Com os resultados obtidos através delas é possível racionalizar a aplicação de defensivos químicos e biológicos, reduzindo custos para o produtor e contribuindo para uma agricultura mais sustentável.

2. Quando é recomendado iniciar o monitoramento de uma safra? E qual a importância de manter o controle das culturas nas suas diferentes fases de cultivo?

O monitoramento deve ser iniciado antes da safra e deve estar previsto no planejamento. Dessa forma, é possível registrar o início das infestações e tomar a melhor decisão de controle. Muitas espécies de pragas, por exemplo, permanecem na palhada do sistema plantio direto ou se desenvolvem em plantas alternativas na entre safra. Com a chegada da nova semeadura, esses organismos encontram um ambiente propício para seu desenvolvimento e podem aumentar sua população de forma muito rápida, dificultando o manejo. Com a cultura implantada é importante monitorar cada fase, pois cada cultura é infestada por espécies diferente em suas diferentes fases. A soja, por exemplo tem sua fase vegetativa atacada principalmente por espécies desfolhadoras. Já na fase reprodutiva, tem o ataque dos grãos intensificados por percevejos. Dessa forma, é importante conhecer as principais espécies praga do cultivo a ser produzido e adequar o monitoramento para cada espécie e cada fase.

3. Recentemente o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) destacou a cigarrinha do milho como prioridade para registro de novos defensivos no Brasil. De que forma os defensivos biológicos e estratégias de monitoramento podem se tornar uma aliada do produtor nesse momento?

O uso de defensivos biológicos é um importante arma no combate a cigarrinha do milho. Para seu controle é fundamental conhecer mais sobre aspecto de sua bioecologia e comportamento. Isso ocorre, pois ainda é difícil determinar o nível de infestação da cigarrinha com eficácia, comprometendo as aplicações. Também, a espécie apresenta resistência a alguns inseticidas, o que pode comprometer o controle. Nesse caso, os produtos biológicos atuam de uma forma mais direcionada no combate a espécie. Atualmente um dos biológicos mais utilizados é a Beauveria bassiana, que é aplicada através de pulverização no cultivo. No Brasil, as espécies Anagrus breviphragma Soyka e Oligosita spp. são parasitoides de ovos liberados para controle da cigarrinha. No entanto, ainda são poucos produtos aprovados com foco nessa praga, apontando a demanda crescente de biológicos no setor.

4. O mercado de defensivos biológicos segue crescendo ano após ano. Quais as perspectivas de crescimento da BioIn para acompanhar a maior demanda do mercado? Quais novos produtos a empresa têm previsão de lançar nos próximos anos?

Nosso movimento na empresa tem como foco a diversificação de produtos. Sabemos que a demanda de produtos biológicos é diferente em cada cultura. Por isso, para atuar em diferentes setores é essencial ter um portifólio maior de produtos. Atualmente os cultivos de grãos e hortifruti são os que detém a maior parte de produtos biológicos registrados. No entanto, existem diversos cultivos que carecem de soluções biológicas e são um mercado a ser explorado. Atualmente a BioIn trabalha no lançamento de dois novos produtos. O primeiro é Telenomus podisi, vespa parasitoide de ovos de percevejos praga no cultivo da soja e arroz. A espécie apresenta excelentes resultados no cultivo e pode ser usada em produções convencionais e orgânicas. O segundo é Diachasmimorpha longicaudata, vespa parasitoide de larvas de mosca das frutas (Anastrepha fraterculus e Ceratitis capitata). O produto poderá ser utilizado por fruticultores que produzem maçã, citros, pêssego, uvas, etc. Ambos os produtos apresentam poderão ser utilizadas em cultivos orgânicos ou convencionais, auxiliando no controle das pragas.

Fonte: Equipe Global Crop Protection, 26/08/2022