ENTREVISTA

Professor Fernando Andreote fala da evolução dos biológicos no Brasil e o futuro desse mercado


Fernando Dini Andreote é Professor Titular em Microbiologia do Solo na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo. Engenheiro agrônomo e Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas pela mesma instituição. Livre Docente em Biologia do Solo pela ESALQ/USP. Representa a International Society for Microbial Ecology (ISME) no Brasil, e é Membro Afiliado a Academia Brasileira de Ciências.(Fonte: Currículo Lattes)

 

 

Os defensivos biológicos vêm aumentando cada vez mais a representatividade no portfólio de controle de pragas e doenças em praticamente todas as culturas no Brasil e no mundo. É um mercado relativamente novo e que pode ser explorado pela capacidade de combate, algumas funções paralelas e até mesmo por processos de nutrição da planta, além da possibilidade de customização de seu microbioma com produtos específicos.

Em vista disso, pudemos entrevistar o Professor titular em Microbiologia do Solo na Esalq/USP, Fernando Dini Andreote, que acompanhou a evolução do mercado de bioinsumos desde o início dos anos 2000, período em que se dedicou ao estudo de comunidades microbianas associadas às plantas durante o seu doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas, e que continua sendo uma das suas principais linhas de pesquisa.

Segundo ele, até o início dos anos 2000, as pesquisas destinadas a esses produtos eram feitas em bancadas de laboratórios e foco majoritário em inoculantes e agentes de controle biológico. Agora, já vimos laboratórios com sofisticados equipamentos e análises moleculares que acompanharam a corrente de estudos de microbioma na área médica e também na agricultura.

Andreote comentou que hoje estamos na primeira fase de evolução do mercado de bioinsumos, onde ocorre o movimento de revisitação de conceitos teóricos de biocontrole e nutrição de plantas. Nesta fase, 90% dos produtos são baseados em microrganismos específicos, os quais representam ferramentas pontuais. Apesar de existirem muitos produtos no mercado, há uma gama relativamente restrita em relação à variabilidade genética de microrganismos e cepas.

Alguns fatores mercadológicos também vêm contribuído para um crescimento mais rápido de alguns produtos biológicos. Com a crise dos fertilizantes em 2022, onde ocorreu um aumento significativo no preço dos fertilizantes nitrogenados com a guerra na Ucrânia, muitos consumidores procuraram conhecer e aplicar inoculantes, como o Azospirillum brasilense, de forma a complementar a nutrição nitrogenada das plantas. Em outros casos, na área de proteção de cultivos, há praticamente uma substituição direta de químicos por biológicos, movimento que pode ser visualizado com o grande crescimento no uso de bionematicidas, que representam hoje 90% do mercado nacional.

O professor reforça que o sucesso dos bionematicidas está associado aos mecanismos de ação do biológico estar baseado na competição. As espécies de Bacillus, comumente utilizadas no controle de nematoides, é capaz de colonizar o sistema radicular em desenvolvimento, competindo com microrganismos que atacam as raízes das plantas, como nematoides. Ao mesmo tempo, podem repelir outros microrganismos através da liberação de toxinas, inibindo a ação de fitopatógenos na rizosfera. Estas bactérias produzem diferentes classes de metabólitos, como lipopeptídeos, antibióticos, com ação direta na redução da taxa de crescimento de fitopatógenos.

Na comparação com os químicos, os bionematicidas apresentam vantagens, como maior durabilidade e menor toxidez. Adicionalmente, podem levar a efeitos benéficos secundários, como maior enraizamento e, consequentemente, maior crescimento das plantas.

Em relação ao mercado mundial, o Brasil desponta como o maior produtor e consumidor de agentes de biocontrole e, diferente do mercado de produtos químicos, ele não deve se internacionalizar tão cedo. Além do Brasil ser um grande produtor, existem alguns entraves na importação, como o tempo de prateleira reduzido, sobretudo para bioinsumos que apresentam espécies fúngicas na sua composição, como Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae.

Para o futuro, Andreote acredita em quatro frentes que direcionarão o mercado de produtos biológicos: novos grupos de microrganismos e funções, compostos ativos complementares – como metabólitos, especificação para culturas – como cepas direcionadas para culturas em que apresentem melhores resultados e/ou para as quais as cepas foram originalmente isoladas e modulação do microbioma – como entender quais fatores potencializam a interação do microbioma natural do solo com as plantas cultivadas, e o ambiente e como modulá-lo para maiores produtividades.

 

Equipe Global Crop Protection, 07/06/2024

Fonte da imagem: Freepik

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